Uma história de amor, uma história de tragédia (ou suprema complacência). Intriga, velhas histórias e segredos do passado, e uma imprensa de tecnologia disposta a louvar as características do ar que rodeava um produto que dava todos os sinais de falhar desde os primeiros dias. Há um ano não era assim. Um ano atrás, e a Essential estava a cavalgar a popularidade da Internet, provando que ainda existe uma diferença entre a Internet e o mundo real.

A história

Segundo está a noticiar a Bloomberg, quem esperava um novo Essential Phone, sucessor do PH-1, vai ficar desiludido, já que se este equipamento alguma vez esteve em cima da mesa, deixou de o estar e terá sido cancelado.

Acima de tudo,depois de sofrer um assassinato doloroso e lento ao longo do último ano, a Essential estará à venda, recorrendo à Credit Suisse Group AG para encontrar os pretendentes dispostos a pagar alguma coisa por este cadáver. Se bem que a Bloomberg realça que a Essential possa entrar novamente no mercado dos smartphones, o caminho poderá ser transformar a Essential apenas num nome, com uma OEM a fabricar equipamentos sob esse nome.

Andy Rubin, entretanto, já veio a público não dizer nada de concreto sobre o assunto, o que não terá descansado ninguém. O certo é que, com estas notícias, se as chances do PH-1 obter alguma dignidade já eram poucas, passaram para nenhumas. Mas a culpa é da própria Essential.

A crónica de um desastre anunciado

A maioria das marcas, quando se lançam num primeiro smartphone, começam com alguma calma e cautela. Mas não a Essential, fundada por Andy Rubin, um dos criadores do Android. Graças ao seu mito pessoal, a imprensa nunca hesitou em o ver como a pessoa certa para criar um smartphone Android genial e de ruptura, coisas que o PH-1 parecia de facto ser.

Ao longo de diversos meses, a “hype” esteve em alta, muito antes de sequer haver um protótipo do futuro smartphone, e a Essential recolhia milhares de milhões de Dólares de fundos e apoio vindos de todo o lado, apesar de não ter quaisquer provas dadas de que conseguiria a) criar um smartphone, b) desenvolvê-lo até uma produção sustentável e c) mantê-lo.

Quando vimos o PH-1 pela primeira vez, todos nos admiramos. Era um pioneiro, com uma aposta na modularidade, design impecável e a primeira tentativa de um notch para acolher exclusivamente a câmara frontal num ecrã quase sem rebordos. A partir daí tudo foi por água abaixo numa série de omissões, falhas gritantes e simples negligência.

O Essential Phone ou PH-1 foi finalmente anunciado em Maio de 2017, mas falhou por completo o prazo de chegada ao mercado marcado para Junho, começando a chegar aos compradores em finais de Agosto. Claramente, os problemas de produção e finalização dos equipamentos estavam já lá e ninguém parecia ver.

Chegado Agosto, e tudo ficou ainda pior. Numa sequência de desastres de relações públicas, quando os cartões de crédito foram finalmente debitados do valor do PH-1, muitos compradores verificaram que as encomendas não estavam a ser enviadas, embora os valores tivessem sido levantados. A resposta da Essential foi um case study de negligência incompreensível: um email mal respondido numa mailing list expôs os dados bancários, de morada e de identificação de largas centenas de clientes, uns aos outros.

Tal foi a dimensão da barbárie, que se pensou num hacking. Contudo, uma vez resolvida a questão, a Essential apontou o dedo à logística, explicando que a empresa contratada para dar resposta às encomendas não estava a conseguir proceder aos envios. Pensar-se-ia, segundo esta explicação, que o PH-1 estava a vender como bolinhos quentes, e tudo se compreenderia. Tipicamente Essential, tudo não passavam de desculpas mais uma vez: em Setembro descobríamos que só 5,000 unidades do PH-1 haviam sido vendidas via Sprint. Certamente, via compra directa não podíamos assumir muito mais, mas mesmo que assim fosse, que logística não aguenta estes valores?

Contra o PH-1 jogou um factor essencial: a realidade. Após meio ano de louvores injustificados por parte dos media, o PH-1 chegou ao mercado com um preço elevado e como um produto claramente inacabado. A performance da câmara foi ridicularizada por todos, enquanto o notch estava mal implementado e as suas dimensões excessivas significavam que tapava conteúdos no ecrã. Bugs, problemas de hardware e sempre a falta de frontalidade da Essential, continuaram a impedir o PH-1 de atingir o seu potencial.

Se em algum momento houve salvação para o PH-1, esse tempo já passou. Um smartphone com enorme potencial, o Essential PH-1 terá que ficar para a história como um exemplo de como as marcas têm que viver das provas dadas, não dos tweets e das partilhas nas redes sociais.

A grande pergunta fica aqui ainda por responder: valorizada a Essential em mais de dois biliões de Dólares, onde está esse dinheiro hoje?

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