Sou um fulano sortudo. Ao longo do último ano pude utilizar todos os dias aquele que considerei o smarthone mais útil para o meu tipo de trabalho, o BlackBerry KEYone. Foi sempre o Silver Edition, seguido pelo Black Edition que oferece mais RAM e armazenamento, e dava-me por perfeitamente satisfeito até há duas ou três semanas atrás. Foi então que me foi dado a testar o novo BlackBerry Key2 e não foi particularmente difícil perceber onde a melhoria era significativa face ao meu algo ultrapassado KEYone. Mas falar é fácil, e a tecnologia está cheia de louvores despregados aos mais recentes gadgets.

Mas e o mundo real? Todos os dias alguém pode perguntar algo sobre o nosso smartphone, embora alguns se tenham tornado tão banais que já ninguém quer saber. Mas o BlackBerry Key2 é tão diferente que fui confrontado ao longo do último mês com algumas observações peculiares, estranhas e cómicas mesmo, que me fizeram ponderar o BlackBerry mais a fundo até se tornar verdadeiramente um smartphone favorito.

 

“Que giro! Tem botões, lembra os BlackBerry!”

Certo! Esta frase de surpresa no meio de um assunto de trabalho mostra bem a colossal herança da BlackBerry: um smartphone com teclado QWERTY tem de ser um BlackBerry ou algo reminiscente de um. BlackBerry é sinónimo de teclados míticos e ponto final.

Mas depois há um desafio para TCL: a surpresa e descrença de que estão mesmo a olhar para um BlackBerry. Ainda existe? “Eu adorava comprar um BlackBerry, mas o sistema operativo…”. Toca a acordar pessoal: é 2018 e a BlackBerry é hoje tudo o que era antigamente, mas em ambiente Android. Inegavelmente, a TCL tem um vigoroso trabalho de marketing pela frente, já que se a marca é imediatamente louvada, o seu estado actual é menos conhecido.

Tal como no KEYone, também no Key2 o teclado é a grande razão da existência do dispositivo e da sua vocação. Mas o Key2 tem simplesmente um teclado melhor. Acreditem-me: se o teclado não apresentasse reais vantagens, ficava-me pelo KEYone sem qualquer pudor. Mas apresenta, e a primeira – e mais notória – é que o teclado possui teclas mais salientes, mais leves ao toque e com maior distância entre as fileiras. Escrever no Key2 é simplesmente mais intuitivo, mais rápido e menos desgastante.

Todos os dias alguém questiona a necessidade de um teclado físico num smartphone. Todos os dias explico que se não entendem as vantagens, é porque usar um teclado não é para essa pessoa. Com os seus atalhos rápidos, tecnicamente impossíveis num smartphone convencional, o Key2 permite-nos programar 52 atalhos que aceleram praticamente todas as tarefas, e sendo certo que ninguém decora tantos atalhos, o propósito não é esse, mas sim oferecer ao utilizador a possibilidade de criar qualquer atalho de que necessite, um aspecto que tem sido dos que mais impacta quem não conhece este teclado.

Mas há outras funcionalidades “escondidas”, como a possibilidade de ajustar de modo rápido os settings da câmara e o navegar em páginas e separadores. Num mundo onde tantos se queixam dos ecrãs serem ímanes de sujidade, no Key2 minimizamos a sujidade facilmente, usando o teclado.

 

“Deixa estar, drenas a bateria”

Foi a frase dita numa reunião quando a rede não funcionava e me ofereci para servir de hub. Drenar a bateria? Não é assim que funciona, não com o Key2 e muito menos com o KEYone.

Não me duvidem quando digo que a autonomia do KEYone é suficientemente impressionante para podermos andar com ele atrás simplesmente para servir de hub 4G a outros dispositivos. O BlackBerry Key2 parece ter uma autonomia apenas ligeiramente menor, mas mesmo a navegar pela rede mantém uma bateria suficientemente carregada para chegar ao final do dia com reservas.

Essa mobilidade é suficiente para andar calmamente durante o dia sem “ansiedade de bateria”, nem um powerbank de backup, e ainda ter sumo extra para ligar o portátil e trabalhar num local qualquer onde a Wi-Fi não esteja acessível.

 

“Se pudesse, pagava mais depressa pelo BlackBerry que por um iPhone”

Muitos irão inquestionavelmente dizer que o BlackBerry Key2 é caro, mas se formos realmente honestos, os smartphones que oferecem este tipo de autonomia e capacidade de processamento, levam pelo menos mais €200 sobre o Key2. Poderemos encontrar equipamentos que violem esta regra e sejam significativamente mais baratos, mas possuem os mesmos materiais, design e funcionalidade?

Mas aqui está também um desafio para a TCL: o iPhone possui mais amplo apoio das operadoras e retalhistas com promoções, retomas e compras a prestações com fidelização. O BlackBerry Key2 teria de ir idealmente pelo mesmo caminho, já que para muitos seria preferível a alternativas como o iPhone 8, mas mas o apoio das operadoras torna este último mais acessível. No entanto, bem se vê que o preço é relativo e não pode ser reduzido ao processador e dimensões do ecrã.

“É como bubble wrap!”

No ranking de comparações, talvez esta seja a mais imediatamente cómica: bubble wrap! Quem não fica imediatamente viciado no “pop” do plástico-bolha? Demoramos alguns segundos a desembrulhar algo, e minutos a rebentar cada pequena bolha.

Se já escrevi inúmeros parágrafos sobre quão simplesmente satisfatório é utilizar o teclado físico do Key2 e do KEYone, nenhuma tecnicidade e medida objectiva pode expressar o puro zen desta utilização quanto a comparação a bolhas de plástico, o que transmite de um modo quase inocente a dupla natureza das teclas, quer como ferramenta eficaz, quer como instrumento de relaxamento.

Um smartphone é mais do que beleza visual. É tacto e odor. Pela escolha dos materiais em contracorrente num ano de alumínio e vidro, o Key2 é aquele dispositivo que mais pessoas têm pedido para manusear, sentindo-lhe a textura da borracha traseira, deslizando os dedos pelas teclas que se rebaixam sem esforço e crepitam à passagem dos dedos. A maior parte dos smartphone foi pensado para nos manter focados no ecrã; o Key2 foi pensado para ser manejado.

 

“Esse sim, é uau!”

Bem o disse: um smartphone é mais do que beleza visual. Mas é também beleza visual, com certeza. No trabalho, há quem se tenha habituado a ver-me com um smartphones novos constantemente, o que desperta uma certa curiosidade. O típico “qual é esse?”.

Mas, depois da peculiaridade da exclamação “parece um BlackBerry”, a frase “esse sim, é uau!” transmite melhor que qualquer outra o impacto que possui o design único e inconfundível do Key2. Talvez os smartphones actuais sejam todos relativamente bonitos na reciclagem de traços genéricos forçada pela popularidade de uns modelos, ou pela fórmula inescapável do ecrã inteiro, e depois o BlackBerry é mais do que bonito: é diferente, exótico, afirmativo, com carácter e sem vergonha de não tentar ser igual a ninguém.

Não faço um esforço para ser igual aos outros, não procuro imitá-los ou conformar-me aos seus moldes. Não sou um “yes man”, e quero um smarpthone com a mesma atitude.

 

“Portanto, é arcaico”

Nesta colecção de frases soltas que apanhei no trabalho, na família, ao longo do último mês, não podia faltar o típico julgamento negativo. O BlackBerry Key2, com as suas teclas físicas na era dos smartphones com ecrãs cinematográficos pode realmente ser arcaico. É tão arcaico quanto um martelo que não evoluiu assim tanto desde que o primeiro hominídeo juntou um cabo a uma pedra com um nó de tendões, há alguns milhões de anos. E continua a ser um martelo, incrivelmente eficaz, porque foi refinado para uma tarefa muito específica.

Tal como o Key2. Porque a evolução da tecnologia faz-se da novidade, não exactamente do mais prático. Ecrãs fabulosos como os do Samsung Galaxy S9, Sony Xperia XZ3 ou Xiaomi Mi 8 apresentam grande resolução, rácios de contraste elevados, compatibilidade HDR, mas apresentam vantagens para quem quer enviar emails e compor documentos? Zero.

Arcaico é um automóvel que precisa de um condutor, mas quem quer perder o prazer de conduzir? Arcaico é pintar numa tela com óleos, quando podemos usar um tablet carregado de algoritmos, mas quem quer perder a alma, o odor, a textura da tela?

Arcaicos são os avós, mas contam histórias como ninguém. Uma história em construção, uma história para se contar, é isso o que cada tecla do Key2 representa.

 

Em suma…

Qualquer equipamento tecnológico tem o valor que lhe damos e vale pelo que faz por nós em termos de quais são as nossas necessidades práticas para ele. Num mundo muito habituado a utilizar os smartphones como sinal de estatuto, uma boa parte dos utilizadores tem nas suas mãos um instrumento cujas potencialidades e divergências quanto às suas necessidades reais são medidas em função desse ganho percepcionado em “estatuto”. A verdade é que, com o imenso potencial dos smartphones, podemos fazer tudo com eles, mais ou menos bem, e se já escrevi artigos num Xperia E3 ou num Nokia 5, certamente qualquer um consegue fazê-lo num equipamento mais caro, mais potente, mais ergonómico e com mais autonomia.

Não é diferente de atirar uma pedra, como se atira um dardo ou um martelo. Se o objectivo é atirar, atira-se. Mas para atirar mais longe, o dardo é o instrumento mais refinado, desde que se tenha a técnica. O BlackBerry Key2 é – até ver – um pináculo da produtividade mobile, unido o ecossistema Android à mestria da BlackBerry em teclados físicos e segurança.

Muitos poderão colocá-lo de lado como algo do passado, olhando para os seus ecrãs completos, mas não há realmente problema: aqueles a quem o Key2 se destina sabê-lo-ão.

E vocês? O que dizem do vosso smartphone?

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