“Isto é o futuro”, foram as palavras que ecoaram na minha cabeça durante os primeiros quilómetros feitos dentro do BMW i3. No meio da barulhenta cidade de Lisboa, o i3 deslizava de forma suave e silenciosa pelas estradas, sendo que apenas nas acelerações mais fortes se ouvia um pequeno ruído. Sinceramente, sempre acreditei que o futuro estava nas motorizações eléctricas, mas nunca esperei que estivesse aqui tão perto. E quando uma marca premium como a BMW toma a decisão de se entregar de corpo e alma e produzir um veículo totalmente eléctrico como é o BMW i3, temos aqui a maior prova de que o futuro está mesmo aí ao virar da esquina. Poucos quilómetros tinha feito e já começava a render-me aos encantos dos motores eléctricos.

De forma a abraçar o desafio dos carros eléctricos, a BMW criou uma divisão própria com o nome “i”, divisão essa que acaba por dar o nome a todos os modelos eléctricos que a marca tem no mercado. Contrariamente ao que tem sido habitual com outras marcas, a marca germânica não recorreu a nenhum dos seus modelos no mercado para o converter num híbrido ou eléctrico. Em vez disso, decidiu pensar fora da caixa, tendo produzido tudo de raíz, sendo que o resultado disso são carros futuristas, que marcam uma nova era no mundo automóvel. O primeiro carro a sair da fábrica com a marca “i”, foi este BMW i3 que tivemos a oportunidade de experimentar durante um fim de semana inteiro.

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Sendo um carro totalmente eléctrico e a apontar para o futuro, já seria de esperar que o BMW i3 apresentasse um design algo futurista. E é assim mesmo que ele se apresenta ao mundo, com linhas confusas, que podem causar alguma estranheza no começo. Um design que de início é complicado de assimilar, mas que mais tarde acaba por deixar saudade. É o típico “primeiro estranha-se, depois entranha-se”.

Apesar deste modelo já existir há algum tempo, quando circulamos com ele nas ruas, muita gente continua a ficar de olhos postos no carro. A culpa é do design de tal forma futurista que dá ideia de que estamos na presença de um protótipo. As linhas, apontam para que estejamos perante um monovolume compacto e, na verdade, como veremos mais à frente, não estamos muito longe disso.

Deliberadamente, o BMW i3 foge muito das linhas normais da BMW, mas ainda assim os elementos chave do design estão todos lá, como é o caso da grelha dianteira com dupla entrada em forma de rim, ou do “hoffemeister kick”. Este carro eléctrico é compacto, contando com 3,999 metros de comprimento, 1,775 metros de largura e uma altura de 1,578. A distância entre eixos é de 2570 mm.

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As rodas encontram-se colocadas nos extremos da carroçaria, e contam com jantes de 19’’ com pneus 155/70 (muito estreitos como se pode ver nas fotografias que apresentamos). O facto de serem colocadas nos extremos e o facto de as jantes serem de 19’’, acabam por dar um maior destaque aos pneus, parecendo que estes têm dimensões maiores do que as suas medidas indicam.

Relativamente aos interiores, pode-se dizer que a fórmula se manteve a mesma de outros BMW: um carro simples, mas com bom gosto, mantendo a qualidade que um BMW deve ter, nunca esquecendo os elementos chave que caracterizam a marca. Aqui o único elemento mais futurista é o painel de instrumentos que é substituído por um ecrã.

O acesso ao interior é sempre feito através das duas grandes portas frontais que escondem o mecanismo de abertura das portas traseiras, responsáveis por fornecer o acesso ao banco traseiro que se encontra limitado a dois lugares. E é aqui que surge a primeira crítica à acessibilidade. Alguém com uma altura considerável, ou que tenha umas dimensões acima do normal, terá sempre dificuldade para entrar para a parte de trás do BMW i3. O problema não está no tamanho reduzido das portas, já que o seu mecanismo de abertura contrário ao convencional até acaba por deixar algum espaço. O problema é que o tejadilho é baixo e dificulta bastante o acesso. Para pessoas mais idosas, a altura do carro em relação ao solo, também acaba por dificultar muito o acesso.

Mas a abertura das portas traseiras também tem direito a umas palavras mais críticas. Apesar de o facto de eliminar o pilar central, tornando o carro muito mais bonito, este sistema de abertura não é prático, obrigando sempre a que se abra a porta frontal para que uma pessoa que esteja no banco traseiro possa sair do carro. E devido à configuração das portas, os vidros traseiros não abrem.

Cada vez que se abre a porta do BMW i3, somos confrontados com um aspecto delicioso: a composição do chassis, toda ela em fibra de carbono Este material é muito mais leve que o tradicional, contribuindo assim para o reduzido peso do i3.

Para entrarmos para dentro do carro, contrariamente ao que acontece noutros BMW bem mais baixos, não caímos para dentro do mesmo, mas sim subimos para ele. A culpa, é dos 230Kg de baterias que se encontram por baixo do piso do carro, numa estrutura toda construída em alumínio. Isto faz com que a posição de condução seja bastante alta mas, ainda assim, posso garantir que toda a diversão de condução contínua por lá. Afinal de contas, estamos a falar de um BMW e a marca alemã não nos iria pôr um carro monótono nas mãos.

A nível de interiores, o departamento responsável por criar o i3 não foi muito longe, sendo que as linhas exterior futuristas não foram importadas. A excepção é mesmo o painel de instrumentos ser substituído por um ecrã, sendo que tudo o resto acaba por ser herdado de outros veículos da marca. Isto significa que estamos na presença de um carro com excelentes acabamentos interiores, mantendo sempre o bom gosto. Existe uma versão do BMW i3 que pode vir com tablier em madeira, produzida a partir de eucaliptos nascidos em Portugal. De notar que o nosso país é o fornecedor exclusivo desta madeira para a construção do i3. Os interiores também seguem uma política de responsabilidade para com o ambiente, sendo que são usados materiais reciclados e fibras naturais.

Apesar de ser compacto, o i3 é um carro bastante espaçoso, confortável para transportar 4 adultos. A mala não é muito grande, contando com 260 Litros de capacidade mas ainda assim, este valor é bastante razoável tendo em conta que estamos na presença de um citadino. Na frente, por baixo do capô, existe ainda um compartimento grande o suficiente onde podemos arrumar os cabos de carregamento, não retirando espaço à mala. Aliás, para além desse compartimento, debaixo do capô só encontramos mesmo o reservatório da água para o sistema de limpa vidros, já que o motor eléctrico se encontra atrás, onde age directamente sobre o eixo traseiro (aqui, mais uma característica típica dos BMW, com tração traseira).

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A nível de condução, o BMW i3 impressiona bastante. O motor eléctrico disponibiliza 170cv e um binário de 250Nm, sendo que como característica dos motores eléctricos, esse binário é de entrega imediata. Sim, o i3 é quase como um desportivo num corpo de um monovolume, e tudo isto no maior dos silêncios. Limitado a 150Km/h, o BMW i3 consegue fazer 7,3 segundos dos 0-100Km/h, sendo que dos 0-60Km/h demora uns impressionantes 3,7 segundos. Para o deixar ainda mais boquiaberto, este consegue a proeza de fazer uma recuperação de aceleração dos 80-120Km/h em 4,9 segundos. Simplesmente fabuloso para este citadino.

Mas mais impressionante ainda, é capacidade de tracção e de aderência que este carro apresenta. Olhando para os pneus bastante finos, assim como para a altura que o i3 tem, seria de esperar que este não fosse um carro muito seguro a curvar. Pelo menos foi com essa impressão que fiquei depois de olhar para ele pela primeira vez. Nas primeiras curvas a precaução esteve sempre bem presente, com receio do possível mau comportamento que nos faça sair de frente. No entanto, depois de algumas curvas a confiança foi sempre aumentando, muito por culpa da grande estabilidade e aderência, provando-me que estava totalmente enganado. Ainda assim, quando se tenta tirar total partido da disponibilidade do motor eléctrico, os Bridgestone Ecopia que calçam o i3 de origem são insuficientes, notando-se a frente a fugir e o ESP e o controlo de tração a entrarem rapidamente em acção. No entanto, sublinho que isto apenas ocorreu com piso molhado e sempre a procurar tirar mais partido da potência do motor eléctrico, pelo que é uma situação compreensível.

O baixo centro de gravidade (devido ao peso das baterias estar todo em baixo), assim como uma direcção muito precisa e leve, levam a que a sensação de controlo sobre o veículo seja excepcional. E conduzir este citadino no meio da cidade, mesmo em ruas apertadas, não tem qualquer tipo de problema dado o amplo diâmetro de viragem que chega aos 9,86 metros.

Para quem conduz pela primeira vez um o i3, vai deparar-se com uma curva de aprendizagem para algo tão simples como a travagem. Isto porque praticamente não precisamos de usar o pedal de travão no BMW i3. A culpa é do sistema de recuperação de energia que, assim que tiramos o pé do acelerador, desacelera de tal forma o i3 que este pára em poucos metros. É uma situação complicada de gerir ao início, mas à qual nos vamos habituando passados uns kms. De notar que este sistema de recuperação de energia é fundamental para garantir uma boa autonomia do BMW i3, sendo que isso é bastante perceptível.

Existem 3 modos de condução disponíveis neste BMW i3, que fazem uma grande diferença na duração da bateria. Um simples toque num botão e podemos mudar o tipo de condução entre Comfort, Eco e Eco Pro+. No primeiro modo, tal como o nome indica, temos direito a tudo o que o i3 tem para oferecer, garantindo assim o nosso máximo conforto, desde ar condicionado, até à disponibilidade total do motor. O Eco Pro+ é o modo mais agressivo de economia de bateria, e só deverá ser mesmo usado quando a autonomia começa a ser reduzida ou precisamos mesmo de tirar o máximo partido dos Km’s que ainda podemos fazer. Isto porque a velocidade máxima fica limitada a 90Km/h e o ar condicionado fica impossível de usar (e lá se vai o conforto).

A alteração entre os modos de condução, para além de afectar a performance do BMW i3, também afecta a rota que está seleccionada no GPS. Sempre que activamos um modo de poupança de energia como o Eco Pro+, a rota é reajustada de forma a que seja economizado o máximo de bateria. E isso, nem sempre quer dizer que estejamos a fazer menos Km’s, já que o sistema é inteligente ao ponto de analisar a topografia do percurso, sabendo que quanto mais plano for o percurso, ou quanto mais descidas tiver, maior a autonomia, já que vai regenerando a bateria.

Mas já que estamos a falar de baterias, vamos falar de autonomia. E aqui o i3 tem comportamentos completamente diferentes consoante o tipo de condução. A versão que tive oportunidade de conduzir, quando totalmente carregado, anuncia uma autonomia de 194Km. No entanto, posso garantir que tanto fiz mais que isso, como também fiz muito menos. O primeiro dia com o carro, juntamente com a disponibilidade imediata de 170cv e 250Nm, levaram a que a bateria não fizesse mais do que uns 130/140Km. O facto de estar sempre a insistir em acelerações repentinas, procurar atingir velocidade máxima de 150Km/h, tirar o partido da excelente aderência em curva, “mataram” por completo as baterias. (e tentar carregá-las foi uma aventura, como já tive oportunidade de relatar anteriormente).

No entanto, na segunda carga que fiz com o i3, consegui ultrapassar os 190Km sem grandes problemas. Isto porque o próprio i3 ensina-nos a conduzir de uma forma mais responsável, levando-nos a aprender a aproveitar todos os momentos para regenerar energia e carregar as baterias. Lembram-se do sistema estranho de travagem que falei anteriormente? Nessa segunda carga, praticamente não usei o pedal de travão, apliquei uma velocidade sempre estável e sem grandes acelerações, nunca excedendo os 90Km/h, e a bateria deu-me para muitos quilómetros, sem qualquer tipo de problemas.

Mas mesmo para aqueles que podem vir a ter que fazer alguns quilómetros a mais e que têm receio de ficar sem bateria, a BMW tem a versão com motor acessório a gasolina, menos amigo do ambiente claro está. Ainda assim, mesmo nesta versão com o auxiliar a gasolina, o funcionamento do BMW i3 é sempre totalmente eléctrico, sendo que o motor a gasolina apenas irá servir para proceder ao carregamento das baterias quando necessário.

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E se comecei este texto com um “Isto é o futuro!”, acabo a relatar o vazio que ficou depois de ter que entregar de volta o BMW i3. Um carro fantástico, tanto a nível de conforto como a nível de diversão, exactamente como um BMW deve ser. O grande inimigo do BMW i3 no mercado português, é sem dúvida o preço exagerado, nunca abaixo dos 40.000€.

Ainda assim, com este i3, a BMW conseguiu provar que é possível agradar a todos no mundo automóvel. De um lado os ambientalistas que lutam todos os dias por um ambiente cada vez mais limpo, por outro os apaixonados por carros que não querem abdicar de todos os prazeres de condução.

1 COMENTÁRIO

  1. preço exagerado? fez contas ou ficou-se apenas pelo custo inicial? quanto poupa aos 100km? e aos 15.000/ano? 1.000€ é pouco? em 8 anos poupa 8.000€ só em combustível, mais 3.000€ em revisões/manutenção. Acrescente o IUC e o preço vem para 25.000€.

    • Agradeço o comentário e concordo em parte. No entanto há algumas coisas que devem ser vistas. Primeiro o investimento inicial numa viatura destas que acaba por limitar bastante o número de Kms para quem faz uma viagem grande, implicando sempre ter que ter um segundo carro. A poupança é grande a nível de combustível é certo, e em manutenção também, mas depois o custo do seguro também dispara bastante. A nível de impostos, não poderemos fazer as contas a 8 anos porque de certo que estes carros irão começar a pagar mais impostos, infelizmente claro.

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