Os Google Glass nasceram como uma grande promessa na realidade aumentada, mas o melhor que poderemos dizer é que tiveram uma recepção tépida (gelada) por parte do público. Uma vez passado o charme da inovação tecnológica, o grande público não gostou (detestou) a ideia, devido às enormes preocupações com privacidade e segurança de dados. O que fez a Google? Ressuscitou-os para utilização onde ninguém quer realmente saber da privacidade de alguém: o mercado de trabalho.

O problema fundamental com os Google Glass era consistirem num par de óculos constantemente conectados com informação recebida e enviada, e uma câmara capaz de filmar o local onde estávamos, portanto capaz de fotografar alguém, independentemente dessa pessoa o querer ou não, com a possibilidade mesmo de se usar reconhecimento facial para identificar indivíduos. Isso e a possibilidade capturarmos imagens em locais diversos fez com que cedo se percebesse que muitas instituições e autoridades jamais permitiriam a utilização dos Google Glass.

Mas a tecnologia era sólida e a Google não quis simplesmente abandoná-la. O ideal seria criar garantias de protecção da privacidade individual. Contudo a solução encontrada foi escavar fundo e relançar os Google Glass como Enterprise Edition para utilização nas catacumbas das mega multinacionais onde não faltam as denúncias de exploração e abuso.

E obviamente que em termos de produtividade os Google Glass Enterprise Edition estão a dar resultado. Por exemplo, a DHL equipou os seus funcionários com este dispositivo e estes podem receber informação em tempo real sobre o local de encomendas, encurtando o tempo de processamento e armazenamento. Portanto, é um grande passo em direcção à eficiência dos processos e os clientes ficarão certamente satisfeitos com este tipo de eficácia no processamento dos seus pedidos. A utilização dos Google Glass, com a sua possibilidade de enviar dados para o utilizador em tempo real, significa instruções rápidas, comunicação eficiente, e uma menor taxa de erro humano.

Excepto que eu – como milhões de outros profissionais – sei o que é trabalhar com tempos cronometrados, métricas e padrões de serviço, que muitas vezes não se coadunam com as verdadeiras necessidades de resolução de um problema. Porquanto a Google tenha redireccionado os Google Glass para o mundo empresarial, não existem para já indicações de que tenham sido solucionadas as opções que nos levaram a temer pela violação da privacidade dos indivíduos. Ou seja, não temos garantias de que os Google Glass Enterprise Edition não permitam à entidade patronal recolher dados sobre os seus funcionários com que depois avaliem a sua performance com base em desvios do tempo normal expectável para conseguir concluir uma tarefa.

O potencial para desumanizar o local de trabalho existe, e podemos pensar que os Google Glass darão aos empresários sem escrúpulos precisamente o mesmo potencial abusivo que a opinião pública e os responsáveis políticos não quiseram deixar nas mãos das pessoas comuns em situações quotidianas.

E os nossos leitores, aceitariam trabalhar com os Google Glass colocados?

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