Goste-se ou não, a Sony tem um design característico que tem vindo a usar ao longo dos últimos anos. O Omnibalance tornou-se icónico dos Sony Xperia, para o bom e para o mau, nomeadamente os rebordos generosos dos ecrãs que caracterizam os seus dispositivos. Não é que a Sony não possua a tecnologia para criar ecrãs sem rebordos, como os Xperia XA bem mostram, mas por alguma razão simplesmente não quer. Ora isso deve mudar em 2018, com a confirmação praticamente oficial de que as novas gamas Xperia terão um design profundamente renovado.
Será realmente desta vez?
Goste-se ou não (e muitos não gostam), os Xperia caracterizam-se por lábios espessos na base e topo dos seus ecrãs, e isto vai desde os mais baratos até aos mais excepcionais topos de gama, incluindo o praticamente luxuoso Sony Xperia XZ Premium.
Em 2013, quando o OmniBalance surgiu, não haveria nada de errado com esta utilização do ecrã, nem havia em 2015 e, se olharmos para o recente iPhone 8, podemos bem concluir que a área dos limites dos ecrãs não tem importância igual para todos. No sistema Android, no entanto, a tendência actual é uma redução cada vez mais significativa dos limites em torno da porção activa do ecrã, uma abordagem que a Sharp criou, a Xiaomi popularizou, e marcas como Samsung e LG levaram ao seu expoente máximo.
A Sony manteve-se alheia a estas tendências, um marco da sua actividade tecnológica de anos recentes, já que a marca Nipónica raramente se deixou influenciar por terceiros, mas o mercado começou a ver esta abordagem como design obsoleto. Os excelentes detalhes dos novos Xperia já não salvam a imagem do smartphone Sony: o ecrã tem mudar.
“Implementamos uma filosofia de design OmniBalance que continuará activa enquanto a gama X estiver no mercado. Também planeamos lançar uma nova geração de equipamentos em que poderemos observar um desenho completamente novo para estes dispositivos”.
As palavras são peremptórias e chegam de Kenichiro Hibi, manager da Sony para a Índia, em declarações ao Indian Express.
Para quando será esta alteração, não sabemos, mas um pouco de lógica diz-nos que a Sony aproveitará o MWC para mostrar novos dispositivos. No ar fica a questão quanto a se a gama X será extinta, ou teremos uma nova segmentação no alinhamento Xperia, com novos dispositivos eventualmente mais premium onde possamos assistir a ecrãs do tipo 18:9 bezel-less. Um ressuscitar da gama Z, talvez?
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Esta é certamente uma corrida que a Sony não pode dar-se ao luxo de perder. Os olhos também comem, e por mais que os Xperia sejam bonitos ou performantes, começam a ter o look de carros clássicos para coleccionista. Daqui a um mês também a Huawei se juntará ao clube dos flagships com ecrã bezel-less e a Sony ficará completamente isolada, se mantiver a postura.
E agora polegar, para onde vais?
Embora os ecrãs bezel-less sejam uma moda estética em grande medida, são também uma questão funcional, na Sony mais do que em qualquer outra marca.
A conjunção entre um ecrã 18:9 e limites mínimos em torno dum ecrã são interessantes para a criação de equipamentos mais compactos ou com maior capacidade interna para componentes de maior capacidade, com maior capacidade de refrigeração, etc.
No caso da Sony a mudança transcenderá o visual e será uma alteração profunda nas funcionalidades dos dispositivos. Refiro-me especificamente à abordagem fotográfica da marca e que inclui um obturador físico para a câmara. Este botão, em conjunto com o lábio extenso na base do ecrã, torna qualquer Xperia o melhor smartphone para fotografar confortavelmente, principalmente só com uma mão. As vantagens para segurarmos o dispositivo enquanto vemos um filme também não são descuradas, mas a abordagem fotográfica é a mais importante.
Sem este rebordo para apoiarmos o polegar, utilizar o obturador físico será muito menos confortável ou seguro: este pormenor dos Xperia estará condenado a desaparecer, mesmo que seja um ponto diferenciador. A vantagem da Sony aqui é que a maioria de nós segura um smartphone de modo estapafúrdio para tirar uma fotografia. Tentem ir a um workshop de fotografia: ouvirão constantemente que as câmaras se seguram com as duas mãos. Os smartphones sofrem ainda mais dessa desconsideração pela composição e estabilidade da mão.
Mas trocar esta ergonomia fotográfica valerá a pena?
A resposta depende de se perguntamos a um utilizador regular ou a photoholic.
Os altifalantes na maioria dos smartphones são miseráveis
Outra mudança será ao nível do som estéreo. Simplesmente colocada a questão, os Xperia de gama alta têm excelente áudio estéreo graças a altifalantes frontais com boa potência e qualidade.
Quando temos um ecrã de alta resolução com HDR é quase ridículo pensar em visualizar qualquer conteúdo com um speaker mono, caso não tenhamos um bom headset à mão. As posições tradicionais na base do dispositivo são puramente obsoletas. Foram pensadas antes dos smartphones serem instrumentos multimédia, e estão constantemente abafadas durante jogos e vídeos. Dito de modo simples, não servem.
Para conseguir manter estes speakers frontais, a Sony terá que comprometer em quão reduzidos são os bezels: vejamos o Google Pixel XL 2 que os manterá em princípio. Os desenhos extremos como o Samsung Galaxy S8 ou o LG V30 não conseguem integrá-los, e isso é um ponto realmente negativo.
Existe todavia uma alternativa, fundamentalmente para melhor, e trata-se de uma revolução no áudio em que a Sony é pioneira: Acoustic Surface. A Sony introduziu a tecnologia no Sony BRAVIA OLED A1 e temos essencialmente som que passa através do painel e pode ser direccionado, por exemplo, quando a fonte de som num vídeo se desloca de um ponto para o outro.
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A problemática técnica é de monta, já que uma coisa é incluir a tecnologia num televisor de 55 polegadas, outra coisa é colocá-la num smartphone fino. Obviamente há esperança, porque as BRAVIA possuem uma espessura de apenas 8.6mm e a miniaturização será possível a breve trecho.
O importante aqui é que, no caso do áudio, os ecrãs bezel-less têm contribuído para perpetuar smartphones caros com abordagens áudio inaceitáveis no que concerne aos altifalantes. Saudades do BoomSound da HTC, e palpita-me que em breve até os Huawei Mate perderão esse carácter e texturas ricas dos seus speakers.
A Sony terá que pensar bem as suas alternativas: um ecrã bezel-less não justifica tudo.
Uma mudança estrutural, não estética
A integração de ecrãs bezel-less nos Sony Xperia será sempre uma mudança apreciável na essência e funcionalidades a que estes equipamentos nos habituaram. A Samsung não teve que reinventar o Note com o Infinity Display; o ecrã incrementa as capacidades do dispositivo, não as altera.
Não será assim com os Sony: fotografia ou áudio terão que ser profundamente repensados pela marca Nipónica e a gama Xperia terá que ser reinventada. A questão aqui é que, fascinado pela moda dos ecrãs sem rebordos, os utilizadores poderão acabar a perder mais do que ganham.
E para vocês, o ecrã bezel-less vale qualquer sacrifício?
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