O Google Pixel 7a, com um preço que ronda os €429 não tem uma vida fácil. É irónico, considerando que a missão do Pixel 7a é mesmo ser o facilitador da Google na entrada no nosso mercado e, portanto, o facilitador daqueles que querem aceder ao ecossistema Pixel sem quebrarem o orçamento familiar. Para o fazer, entra em cena num segmento saturado de equipamentos que oferecem todo o tipo de gimmicks para justificar o seu lugar ao sol. O Pixel 7a vai por um caminho diferente, o da sobriedade e simplicidade, deitando mão às enormes vantagens do ecossistema e atualizações da Google, recebendo em primeira mão as principais novidades do Android 14.

Como tal, para quem quer uma experiência linear e ágil, sem duplicações e detalhes supérfluos, para quem quer um telemóvel com tudo o que precisa e nem um cêntimo gasto em funcionalidades que nos convencem a abrir a carteira, para depois raramente as utilizarmos na vida real, o Google Pixel 7a é provavelmente o melhor do seu segmento e absolutamente recomendável. Mas adianto-me.

O Pixel Look

Não há muito que possa dizer sobre o design do Pixel 7a que não tenha já dito aqui. Claro que, após alguma utilização, há outro tipo de colorido no manuseamento do telemóvel e novas impressões podem sobrepor-se às primeiras. Isto é algo comum num telemóvel e um problema para quem tem de os analisar em pouco tempo. Frequentemente acabamos confrontados com uma primeira impressão que, no longo prazo, se viu gorada.

Nada disso acontece com o Google Pixel 7a. É tão francamente semelhante ao Pixel 8 que já dei por mim a confundir ambos. O ecrã é certamente mais retangular, o módulo fotográfico menos espesso, e o cinzento é mais escuro. Atrai algo mais de dedadas, e falta-lhe aquela sensação fria do vidro do Pixel 8 ou do Pixel 8 Pro, mas só com muito cuidado percebemos que estamos perante plástico. A qualidade de construção é assim tão boa.

Ecrã e multimédia

Este ano, o Google Pixel 7a chega com especificações conservadoras, o que já vai sendo uma tradição nos Pixel, pouco apensos a embarcarem em corridas às especificações. É assim que ao nível do ecrã contamos com uma unidade de 6.1″ e resolução FHD, as mesmas dimensões daquelas encontradas no Pixel 6a, mas desta vez com “estonteantes” 90Hz de taxa de atualização, enquanto muita concorrência vai até aos 120Hz.

A implementação é do mais simples: o ecrã vai aos 90Hz ou 60Hz conforme estejamos ou não a interagir com a interface. Não é uma unidade LTPO, por isso a falta de uma taxa dinâmica não é de todo uma surpresa. Mas, no que diz respeito a outros elementos da qualidade do ecrã, o painel do Google Pixel 7a é decididamente de elevada qualidade com um brilho máximo acentuado que é incomum na sua classe. Estou habituado a visibilidade muito inferior, não algo comparável a um telemóvel de €1000.

Os contrastes são o esperado para um OLED e não temos grandes opções de configuração de cores e equilíbrios tonais. Por defeito, está ativo o modo adaptativo e não vemos vícios particulares dos ecrãs OLED, a tendência para tons demasiado tingidos de amarelo principalmente. As cores são vibrantes e relativamente puras, o que favorece desde logo a visualização das nossas fotografias, mas os conteúdos multimédia também ficam soberbos neste ecrã. Até porque contamos com certificação Widevine L1 para conteúdos HDR em FHD nas principais plataformas de streaming. Os jogos são impecáveis neste ecrã.

O ecrã é acompanhado por um típico sistema de altifalantes estéreo híbrido em que o altifalante inferior transmite um canal, o auscultador o outro. Não é o ideal por comparação a altifalantes dedicados, mas faz um bom serviço de oferecer algo extra em termos de áudio em alta-voz, pecando por não serem os altifalantes mais altos que já ouvi.

Desempenho sólido e surpresa nos jogos

No que diz respeito ao processamento, o Pixel chega-nos com o mesmo Tensor G2 dos Pixel 7 e 7 Pro. Porquanto este octa-core não é um portento de desempenho puro como os Snapdragon que equipam os concorrentes diretos destes dois últimos, para a gama média onde o 7a se insere, será dos processadores mais sólidos. E, como não pode deixar de ser para um processador desenhado para a Google, há dois enormes trunfos na sua manga: por um lado a sua GPU, por outro lado os grandes predicados em inteligência artificial.

Quando combinado com a interface impecavelmente limpa que a Google coloca a bordo, a interação com o Google Pixel 7a é praticamente irrepreensível. Suave, responsiva, ágil. Não há muito que se possa criticar neste campo, mesmo que sob cargas mais exigentes de redes sociais consigamos perceber que não estamos a lidar com o processador de um telemóvel de €1000.

Sem surpresas, onde o Pixel 7a dá cartas é na capacidade para rodar jogos que verão muitos concorrentes diretos atingir os seus limites, fruto de uma GPU avançada que se destacará na gama média. Não sou um gamer intenso, mas existem alguns jogos que tenho como ponto de ordem querer gozar com bons gráficos: War Thunder Mobile, um jogo que não se deixa dominar facilmente em termos de gráficos, Call of Duty, Asphalt9. O WT MObile corre corre impecavelmente com gráficos no máximo para referência. Não digo que não consigamos mais detalhe máximo com a GPU de um topo de gama, mas nesta gama de preço não conseguimos melhor, quer-me parecer, justificando dar o Pixel 7a como um dos melhores telemóveis para jogos neste segmento, batendo-se com os melhores.

Detalhe onde o Google Pixel 7a me surpreendeu extremamente pela positiva, foi pelo desempenho sob carga. A Google tem a fama de geralmente lançar equipamentos que vai melhorando com o tempo e nos meus primeiros impactos com o Pixel 8 notei que a estabilidade sob carga era meramente aceitável. O Pixel 7a parece ter sofrido do mesmo e as primeiras levas de equipamentos no mercado não tiveram resultados estelares.

Porque o Pixel 7a chegou a Portugal depois de outros países, os mais informados leram obviamente sobre as questões de throtling e instabilidade sob esforço. Foi um tema que vi inicialmente no Pixel 8 e acabou por desaparecer. Conforme testado, via o 3D Mark Wildlife Extreme, o Pixel 7a exibiu uma estabilidade excelente de 80.8%, colocando-o perfeitamente em território Snapdragon. No mínimo, mostra uma evolução clara e um produto muito mais maduro neste momento. Entretanto, a bateria perdeu apenas 9%, e a temperatura foi dos 18 aos 37ºC. Não é de todo mau, e é um repor da justiça na avaliação das capacidades deste telemóvel.

Em termos de números puros, os 3785 pontos obtidos no GeekBench colocam o Pixel 7a algo acima do Pixel 7 Pro, em território Snapdragon 8 Gen 1, o que não sendo estelar é, nesta fase, muito interessante para este preço. Temos a bordo, recordo, um octa-core Google Tensor G2, com 2 ARM Cortex X1 a 2.85Ghz, 2 Cortex-A78 a 2.35 e 4 Cortex-A55 a 1.8GHz

Claro que a interface é um dos argumentos mais potentes para a Google. A bordo, temos o Android 14, embora o 13 seja a versão quando sai da caixa. E para os fãs do Android puro, não há mais puro que isto, oferecendo ainda asim alguns truques e funcionalidades que vão sendo exclusivas dos Pixel, embora alguma cheguem primeiro aos mais recentes. O Pixel 7a deverá receber uma boa parte destas novidades que agraciam em primeiro lugar os Pixel 8, sendo desde já bafejado pela enorme experiência da Google em Inteligência Artificial e algoritmos de aprendizagem automática.

E quanto à autonomia? A este nível o Pixel 7a apresenta-se em desvantagem por comparação a muitos concorrentes. A bateria tem uma capacidade de 4,385mAh, e neste campo está em linha com o que encontramos no mercado. Mas, quanto à velocidade de carregamento, revela-se algo pedestre, com 18W e perto de duas horas para um carregamento completo. É algo que não impressiona. Pelo contrário, a presença de carregamento wireless é extremamente bem-vinda e um argumento fortíssimo neste segmento, onde praticamente nenhuma alternativa existe.

Fotografia com genética intensa

O Google Pixel 7a não embarca numa certa guerra de pixéis que decorre no seu segmento de preço. Não temos aqui câmaras de 108 ou 200MP, por isso se pixéis é tudo o que vos importa podem seguir para outro lado. Já se a vossa questão é quanto à qualidade fotográfica, vão querer saber o que tenho a dizer.

Como câmaras principais, o Pixel 7a mobiliza uma câmara principal de 64MP e uma ultragrande angular de 13MP. É o setup mais potente de sempre num Pixel A, embora não seja surpreendente para o seu segmento de preço. Como disse, alguns equipamentos oferecem setups mirabolantes que poderão fazer-nos salivar, pelo menos à primeira vista. Onde o Pixel 7a aposta forte, no entanto, é nos muitos anos de experiência da Google em tratamento de imagem. E isso faz toda a diferença.

O Pixel 7a é um smartphone fotográfico à prova de tótós. Cada fotografia é apontar e disparar, e se tivermos um dedinho para enquadramentos, então as fotografias vão sair no geral com uma qualidade excelente. É fácil ver porque é que os Pixel têm os seus próprios fãs ao nível fotográfico, porque as imagens têm uma assinatura muito neutra, ao mesmo tempo limpa e vibrante. Ao contrário de alguma concorrência, não há um exagero no recorte para simular nitidez, e enquanto as cores são soberbas, não parecem retiradas de uma palete impressionista. São fortes e realistas, vibrantes, perfeitamente adequadas à geração das redes sociais, sem todavia apostar tudo nisso, no exagero. O resultado são fotografias com excelentes contrastes, com boa gama dinâmica e uma aptidão inteligente para manter as sombras naturais. Adoro.

Ao nível do zoom, estamos a falar obviamente de zoom digital, o que nunca é ideal. Ainda assim, estamos naquele ponto em que mais vale um bom zoom digital do que uma má câmara dedicada. A Google pode dar-se ao luxo de apostar em zoom digital e os resultados são consistentemente bons. Bem melhores do que o usual zoom digital, mesmo que não ao nível de uma boa câmara dedicada, se analisarmos ao… pixel?

Isto, quanto à câmara principal. Ao entrarmos no reino da ultrawide, a Google apostou na simplicidade, não oferecendo autofoco, o que a deixará em certa desvantagem face a alguma concorrência que utiliza esta câmara para fotografias macro. Contudo, pelo contrário, os 13MP deverão fazer uma grande diferença, face a um mercado que, na sua maioria, aposta em câmaras de 8MP. Aqui também, o Pixel 7a acaba por revelar fotografias muito equilibradas e agradáveis, onde a consistência de cores com a câmara principal acaba por ser um dos seus melhores argumentos.

Um Pixel não seria um Pixel se não falássemos da proficiência noturna. Desde a primeira geração de telemóveis Pixel que um dos seus destaques é a capacidade noturna das suas câmaras. O Google Pixel 7a não é o parente pobre desta longa história. As opiniões dividem-se quanto a qual deve ser a filosofia noturna de um smartphone. Pessoalmente, não me agradam os que transformam a noite em dia e, com isso, privam os nossos olhos de realismo e da mística das sombras.

Felizmente, este não parece ser um problema com o Pixel 7a. Não se vê a tentação de tentar clarear à bruta o céu noturno, o que tem a vantagem de reduzir o ruído aí visível, enquanto os detalhes nas luzes são razoavelmente nítidos. Vão querer manter o modo noturno ativo para este tipo de fotos, porque embora a diferença não seja gigante, é ainda assim clara. À noite o Pixel 7a acaba por não se deixar enganar pelas luzes laranjas da rua e oferece uma noite deliciosamente natural.

Ao mesmo tempo, a qualidade das imagens no Pixel 7a não podem ser dissociadas de uma impressionante gama de edições inteligentes disponíveis para os utilizadores. O Pixel seleciona-nos a melhor imagem, permite-nos re-focar imagens, apagar detalhes e fazer outras edições inteligentes num editor de imagem repleto de opções e vitaminado pelos servidores da Google para as suas capacidades de edição mais complexas.

Recomendação e veredito final

Depois de tudo dito e feito, o Google Pixel 7a é um smartphone surpreendentemente sólido e completo em termos de especificações, e irrepreensível quanto à experiência geral de utilização. Da fluidez da interface à qualidade das câmaras, a generalidade das especificações são mais do que meramente boas no papel e ainda temos a considerar o continuado esforço da Google para oferecer feature drops regulares. Por isso, se pensam reduzi-lo a apenas uma forma mais barata de entrar no ecossistema Pixel, estão muito enganados e há francamente mais substância aqui.

A concorrência é obviamente enorme, dos Redmi bem cotados, aos Samsung A, uns melhores aqui, outros piores ali, como é típico deste segmento onde frequentemente temos de fazer compromissos. Face a estes todos, a dominância fotográfica do Google Pixel 7a pode ser um decisor. Este é pessoalmente um dos melhores smartphones fotográficos a passar por mim por este preço. Outro argumento absolutamente irrefutável no que a mim concerne é a limpeza geral da interface: o Android puro continua a ser o melhor Android no mercado, prometendo ser exemplar na interação com o ecossistema Pixel, o que por si só vale pontos.

Para quem procura não apenas a fluidez do Android puro, mas quer passar um bom bocado com os seus jogos favoritos, coloco em cima da mesa que o Google Pixel 7a será do melhor que podem comprar por este preço. O processador é competitivo neste segmento e a estabilidade demonstrada está muito acima do que inicialmente se escreveu. Outros fornecerão melhores ecrãs ou processadores, certamente, mas irão contrabalançá-lo com compromissos noutras áreas. O Pixel 7a consegue simplesmente ser excelente sem comprometer seriamente nenhum outro ponto.

Serão argumentos fortes o suficiente para se demarcaram da concorrência? Para muitos, são argumentos que marcarão toda a diferença. Para todos os outros, é pelo menos obrigatório colocarmos o Pixel 7a em qualquer consideração por um telemóvel de €500!

REVER GERAL
Design & Construção
8.3
Características
9
Desempenho
8.5
Fotografia
8.7
Experiência de utilização
9
Bateria
8.3
Relação preço-qualidade
8.6
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review-google-pixel-7a-escolha-certa-na-gama-mediaO Google Pixel 7a abdica dos gimmicks e dos truques para ser um exercício de solidez e integração num ecossistema que oferece aos utilizadores uma interface estável e limpa. Mas não e tudo, será talvez o melhor da sua classe em fotografia e a GPU tem aspirações muito acima do seu campeonato. As atualizações constantes da Google são um must, com o crescimento cadenciado das funcionalidades a bordo.

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