Os smartphones são hoje as nossas câmaras fotográficas, mas se há alguns anos atrás os consumidores aceitavam a falta de qualidade pela novidade ou comodidade, hoje a ausência das câmaras fotográficas tradicionais deixa os consumidores sem reais alternativas. Estes passaram por isso a exigir cada vez mais aos smartphones em termos fotográficos, criando uma procura por equipamentos capazes de se distinguirem na qualidade e na experiência fotográficas.
O ASUS ZenFone Zoom S, recentemente introduzido no mercado Português, pretende dar resposta precisamente ao público apaixonado por fotografia que procura um smartphone capaz de realmente satisfazer o seu nível de exigência e apresenta por isso um módulo fotográfico avançado que em nada compromete as restantes especificações técnicas.
Apesar de um processador potente e qualidades técnicas inegáveis e com valor próprio, o ASUS ZenFone Zoom S quer submeter-se ao impiedoso júri fotográfico onde reinam favoritos como as todo-poderosas Samsung, LG e Huawei. Poderá o ZenFone aspirar ao trono fotográfico no universo Android?
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Apresentação do ASUS ZenFone Zoom S
O ASUS ZenFone Zoom S (ZenFone 3 Zoom em alguns mercados) é um smartphone de gama média com vocação fotográfica graças a duas câmaras de 12MP na face traseira.
Uma delas, a que podemos considerar a principal, apresenta estabilização óptica de imagem de 4 eixos, distância focal de 25mm e abertura de f/1.7, vocacionado-a para situações de baixa luminosidade. Entretanto, uma segunda câmara de igual resolução apresenta uma abertura de f/2.8 e distância focal de 59mm, portanto um zoom efectivo de 2.3x, embora sem estabilização de imagem. Voltaremos a estes pontos mais adiante.
O restante hardware é firmemente gama média, com um muito interessante Snapdragon 625 auxiliado por 4GB de RAM e um mínimo de 32GB de armazenamento interno expansível.
O ecrã é um painel AMOLED de 5.2 polegadas FHD que conta com teclas capacitativas na sua base.
Destaque ainda para a câmara frontal de 13MP e a muito generosa bateria de 5000mAh.
Entretanto a versão internacional ZenFone 3 Zoom contava com o Marshmallow, mas o ZenFone Zoom S conta com o Android Nougat mais atualizado. No caso da nossa versão de testes, ainda tínhamos a bordo o Marshmallow, pelo que a nossa apreciação do dispositivo está sujeita a reservas e diversos pontos terão já sido melhorados nos equipamentos com Nougat.
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Design e construção
Já não basta termos câmaras duplas para se ser um smartphone de gama média, graças à generalização desta implementação. A ASUS teve que puxar um tanto pela sua capacidade de design para conseguir oferecer então valor acrescentado.
E em termos de design, o ASUS ZenFone Zoom S não escapa totalmente a comparações com o iPhone 7, mas apresenta diferenças fundamentais ao ponto de ser fácil distinguirmos um ASUS da sua concorrência principal.
A construção é em metal, com as porções superiores e inferiores em plástico. A união das duas peças é feita no recorte para as antenas que se destacam pelo brilho e espessura fina, permitindo-lhes assumir um papel igualmente decorativo, sem as usuais tentativas de disfarçar o indisfarçável.
O vidro do ecrã, em 2.5D, harmoniza as linhas gerais do ASUS, conferindo-lhe uma estética decididamente actual.
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Experiência de utilização
É frequente que alguns smartphones ditos focados na fotografia fiquem sem gás nos restantes pormenores técnicos, mas o ASUS ZenFone Zoom S não compromete e o Snapdragon 625 mostra um desempenho admirável, tendo em conta a sua idade.
O sistema reage bem e as aplicações funcionam sem queixas, apesar da ZenUI ser bastante extensa em animações gerais. Quando passamos para as tarefas realmente pesadas, o ASUS mantém um comportamento impecável que nos permite por exemplo atacar World of Tanks com os gráficos no máximo sem a fluidez sofrer notavelmente. Este não é um comportamento que possamos encontrar em outros equipamentos de hardware semelhante que já nos passaram pelas mãos, e é seguro dizer que só mesmo os mais absolutamente exigentes sentirão limitações.
A ZenUI continua a ser uma favorita, encontrando-se recheada de funcionalidades e apps úteis. Isto, apesar da ressalva de que utilizamos uma unidade ainda com Marshmallow, que não retirou funcionalidades à interface.
Como está, a ZenUI coloca-nos boas opções de interface, como toque longo nas definições rápidas para aceder aos menus profundos, swipe para baixo a partir do ecrã principal para aceder a uma busca transversal ao sistema.
Nas notificações, o swipe com um dedo abre as notificações em acordeão, enquanto o swipe duplo abre as definições rápidas. O ASUS integra igualmente opções incrivelmente úteis que outros equipamentos deixam de lado, como duplo toque para ligar o ecrã ou ajuste na intensidade da vibração.
O ecrã é, no entanto, um ponto que poderá ser melhorado. Por um lado, o painel AMOLED é soberbo do ponto de vista dos contrastes e riqueza de cor, realçando plenamente as virtudes do multimédia exibido. A resolução é perfeitamente adequada, graças à representação de cor e contraste de que o ecrã é capaz.
No entanto, à luz do sol, existem problemas visíveis, já que o vidro mostra tendência para dispersar o reflexo da luz, criando bandas luminosas que omitem dados quando apanhamos com uma fonte luminosa particularmente forte.
Complementarmente, sob a luz solar as zonas mais escuras do ecrã ficam verdadeiramente escuras, dando ao utilizador uma ideia errada do que está – por exemplo – a fotografar. Este é um comportamento atípico que simplesmente reduz a qualidade de visualização no exterior.
Nota média também para a bateria que mostra uma boa resiliência e é bem gerida pelo sistema. Diz muito da bateria do Zoom que nas últimas semanas nunca tenha estado no vermelho, mas também nunca tenha estado totalmente cheia. A ASUS optou por maior capacidade em detrimento de carregamento rápido, pelo que no dia em que ficamos aflitos, a bateria não carrega em menos de duas horas, período simplesmente demasiado longo. Por outro lado, meia carga em uma hora equivale a 2500mAh, um belo dia de uso para muitos utilizadores.
Ponto que não pode passar em branco é o suporte para DTS auricular e áudio de alta resolução. Para quem ouve música, estes elementos fazem a diferença em qualidade de som e saúde dos ouvidos.
Do ponto de vista ergonómico, o ASUS ZenFone Zoom S surpreende pelas dimensões muito razoáveis, não sendo particularmente espesso apesar da bateria generosa. Os botões laterais e o leitor de impressões digitais estão no entanto algo mais acima do que seria desejável, podendo causar algumas dificuldades aos dedos mais curtos.
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Experiência fotográfica
O ASUS ZenFone Zoom S clama ter vocação fotográfica, e este é o seu maior risco, pois a afirmação é forte e exige que a prática corresponda à teoria.
Do ponto de vista técnico, o sensor Sony IMX362 é bastante avançado, em particular na encarnação com abertura f/1.7 que garante maior entrada de luz no sensor do que a maioria dos sensores no mercado.
Aqui, a ASUS tomou a melhor possível. A resolução não é tudo numa câmara, e a importância do tamanho dos pixéis não pode ser menosprezada: quanto maiores, mais luz recolhem antes de sobrecarregar, e maior será a nitidez da imagem, graças a menor contaminação de pixéis adjacentes por fugas de luz. Ora o IMX362 possui pixéis de 1,4 micrómetros, que se encontram entre os maiores do mercado.
A implementação da ASUS inclui ainda estabilização óptica de imagem, importante para obter imagens estáveis e a tecnologia de foco ASUS Tritech. A tecnologia recorre ao foco Dual Pixel do sensor, combinando-o com foco laser e rastreamento de objectos, para obter o foco mais depressa e de modo mais exacto.
A câmara é igualmente muito funcional, integrando além dos regulares modos de captura leitura de códigos QR ou o modo super resolução que permite a captura de uma imagem de alta resolução de 48 megapixéis. Ao todo – e incluindo os filtros – o ASUS ZenFone Zoom S possui 19 modos fotográficos.
À partida, o ASUS ZenFone Zoom S reúne tudo o que um smartphone fotográfico requer para ter sucesso, mas não é isento de pontos a melhorar.
- Aquilo de que gostamos
Bom, aqui começo pela bateria. Surpreendente? Não: pelo peso que tem em processamento e no ecrã, a fotografia é dos grandes motivos de drenagem rápida das baterias, por isso quanto mais generosa a bateria, mais fotografamos sem ficarmos offline.
E principalmente se considerarmos que o ASUS ZenFone Zoom S apresenta um histograma em tempo real no modo manual. Para os menos versados, o histograma é um gráfico em tempo real que representa o número de pixéis nas diferentes zonas do enquadramento.
Por exemplo, se há barras encostadas à direita, há zonas na foto que ficarão queimadas. É um excelente indicador visual, mas puxa imenso pela bateria. Por isso tenho que estar grato pelos 5000mAh.
Portanto o resultado é apenas parte do que torna um smartphone uma boa escolha para fotografia. Neste sentido, aliada à bateria, uma app muito completa e maleável permite-nos agarrar a foto como bem desejarmos, ajustando praticamente todos os parâmetros e dando-nos claro controle sobre a nossa fotografia.
Por exemplo, podemos alterar se a fotometria faz uma média das áreas de exposição ou fica indexada ao ponto de foco, o que permite expor as imagens para um objecto em particular. Neste sentido é igualmente possível bloquear o foco e a exposição antes de recompor a imagem, importante para conseguir uma boa composição.
A performance do sistema de foco é bastante positiva, agarrando o foco rapidamente, embora com alguma degradação visível em baixa luminosidade.
- Do que menos gostamos
Da minha experiência com a app, seria mais proveitoso que a selecção dos parâmetros fotográficos estivesse adjunta aos sliders de ajuste. A transição de uns para os outros leva a toques acidentais que podem alterar outros parâmetros.
Como fotógrafo aficionado, também prefiro alternar entre os modos manual e automático de modo quase instantâneo. O ASUS não me permite fazer isso, necessitando de um toque nas definições rápidas e só então no modo manual. O momento pode perder-se.
Realço igualmente que a teleobjectiva não possui estabilização de imagem e pode ser mais complexa de dominar. No entanto, a minha maior queixa aqui serão os 10cm distância mínima de foco, demasiado para propósitos macro quando o mercado já apresenta soluções com 1cm se distância mínima.
Finalmente, a taxa de reciclagem no ecrã em modo fotográfico é surpreendentemente baixa, apresentando os movimentos aos soluços. É um aspecto que importa melhorar, já que ao fotógrafo importa que os movimentos do seu alvo sejam bem compreendidos.
- Qualidade de imagem
A abordagem da ASUS ao tratamento de imagem custou a entrar, em boa medida porque o ecrã tem uma grande carência na representação do detalhe nas sombras à luz do dia. Só quando as imagens foram exportadas é que a sua real qualidade se tornou aparente.
E a verdade é que a ASUS introduziu aqui excelentes algoritmos de tratamento de imagem, refinando o detalhe e fortalecendo a nitidez. O delinear das texturas é particularmente interessante e é a minha opinião pessoal, mas gosto bastante da estética geral das imagens produzidas pelo ASUS ZenFone ZenFone Zoom S.
Em baixa luminosidade a ASUS tomou um caminho muito agressivo em termos de redução de ruído, deixando as imagens pastelizadas e com poucas texturas, mas direi que será líder de mercado em eliminação de ruído cromático. A preservação das cores supera de longe alguns smartphones de maior renome.
Mas existem também pontos negativos que retiram bastante potencial ao ZenFone. O primeiro problema está nas ópticas, que produzem poucos flares (com inegável potencial artístico) e concentram demasiado o bleeding dos pontos de luz, como por exemplo o sol que deixa uma mancha queimada sem grande transição ou estética.
Este problema é exacerbado pela baixa capacidade de retenção das altas luzes. Em situações de elevado contraste, o ASUS tende a queimar demasiado facilmente céu e nuvens quando muitos outros pormenores ainda não deixaram a penumbra.
O HDR seria aqui uma alternativa, mas facilmente cria auras demasiado proeminentes em torno dos objectos ao ponto de ser inaceitável.
Palavra mais positiva para a câmara zoom. Se alguns concorrentes já conseguem zoom híbrido bastante interessante, a câmara secundária do ASUS ZenFone Zoom S apresenta resultados muito superiores em termos de qualidade final. A menor abertura e falta de estabilização óptica aconselham no entanto cuidados extras na sua utilização.
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Conclusão
Não se deixem enganar pelo nome: o ASUS ZenFone Zoom S tem mais para dar do que simplesmente o Zoom. Um processador de excelente performance a par com boa RAM e uma das baterias mais generosas no mercado configuram um smartphone com amplos argumentos para utilização intensiva e profissional.
O sistema agradará a quem requer celeridade e capacidade de processamento ampla, sem ficarem com a bateria parada a meio das tarefas importantes. Aqui, a grande falha é a ausência de carregamento rápido de última geração: com cerca de três horas até uma carga completa, muitos não terão simplesmente paciência para esperar.
Mas o ASUS ZenFone Zoom S chega também com a vontade de ser um smartphone para entusiastas da fotografia.
Aqui o seu maior argumento é o preço mais modesto face a concorrentes onerosos como Samsung Galaxy S8 ou Huawei P10.
No entanto, não obstante uma excelente prestação global que inclui das melhores performances em baixa luminosidade mercado, o ASUS ZenFone Zoom S fica aquém dos melhores do mercado, graças a um HDR que falta refinar e tratamento de imagem que tende a queimar as altas luzes demasiado facilmente. Não obstante, a qualidade final das imagens do ASUS ZenFone Zoom S são excelentes para a sua gama de preço, e a sua polivalência fotográfica e funcionalidades avançadas são ímpares.
À vista das capacidades fotográficas e amplas funcionalidades das câmaras do ASUS ZenFone Zoom S, nomes como Huawei, LG, Sony ou Samsung farão bem em renovar a sua gama média, porque abaixo dos €500 nenhuma destas marcas possui equipamentos capazes de rivalizar com o ZenFone. O ASUS ZenFone Zoom é, então, uma forte alternativa aos flagships bem mais caros do mercado e pode ser uma ameaça séria à sua hegemonia.