Somos constantemente bombardeados com as grandes notícias de novos smartphones, com a imprensa e os meios publicitários a capitalizarem toda a atenção que recebem equipamentos como o Huawei P10, Samsung Galaxy Note8, LG V30 ou iPhone 8. Muitas vezes, são os cartazes dos grandes topos de gama que nos fazem entrar numa loja, mas é com os dispositivos mais baratos que mais frequentemente de lá saímos. Os dados mais recentes da DeviceAtlas mostram, inclusivamente, que os smartphones mais utilizados no segundo semestre de 2017 foram lançados em 2015.

A Qualcomm ainda continua a dominar o mercado dos smartphones, sendo o mais expressivo fornecedor de chips mobile, seguida da Samsung e só então da MediaTek, com a HiSilicon da Huawei num distante quarto lugar, dado que não surpreende, já que a Huawei retém toda a produção da HiSilicon e não a licencia.

O mais interessante deste dado, no entanto, é que a Qualcomm não se destaca pelos processadores mais impressionantes, como o Snapdragon 835. Pelo contrário, é o já obsoleto Snapdragon 410 quem domina a maioria dos mercados, desafiado apenas pelo Apple A9 e pelos octa-core da família Exynos 7.

snapdragon410

A par da popularidade do Snapdragon 410, os dispositivos com 2GB de RAM ou menos superavam os 70% dos equipamentos utilizados nos países analisados pela DeviceAtlas, com os equipamentos com mais RAM a ficarem muito para trás em popularidade. O dado é tão mais impressionante, quanto mais percebemos que já em 2016, 4GB de RAM era o padrão para um equipamento topo de gama e em 2017 mesmo os dispositivos de gama média devem possuir pelo menos 3GB de RAM.

Embora a RAM seja fundamental para o multitasking e tarefas gráficas intensivas, é possível que muitos utilizadores ainda não sintam a necessidade de dispor de tamanha capacidade de processamento, optado por equipamentos mais baratos. É algo que coloca em grande destaque a necessidade de se apostarem em equipamentos como os próximos Android One, que ofereçam hardware equilibrado e preço acessível para uma grande fatia da população que é deixada de fora dos orçamentos necessários para comprar equipamentos de elevada performance.ram

Inversamente, as marcas têm optado por uma taxa anual de renovação dos seus dispositivos, mas a corrida desenfreada às especificações e à novidade tem gerado preços cada vez maiores: Samsung Galaxy S8, Huawei P10 e iPhone X são apenas alguns exemplos de dispositivos que foram marcados como os mais caros da história das suas respectivas marcas.

2015

Mas com preços exorbitantes que andam hoje na casa dos €1000 para um topo de gama, e raramente descem abaixo dos €600, o mercado ainda não está preparado para mudar de smartphone anualmente. É por isso interessante constatar que a maioria dos dispositivos móveis em circulação é de 2015, mas ainda mais importante constatar que aqueles países onde os modelos de 2016 são mais populares, são os países mais desenvolvidos, como EUA, Suécia, Reino Unido ou Japão. Noutros países da Europa, como Espanha e mesmo Alemanha, 2015 é o ano mais popular, mas é importante notar que os equipamentos anteriores a 2014 ainda representam pelo menos 1/3 do mercado, com os equipamentos de 2012 a terem uma maior quota de presença na Internet que os dispositivos de 2017.

Estas constatações mostram uma grande dificuldade para as marcas de maior renome: atrair novos consumidores todos os anos, quando mais de 2/3 dos consumidores renova o seu smartphone em ciclos de dois anos ou mais. Mas, face à escalada dos preços e integração de tecnologias por vezes supérfluas, a enorme massa de consumidores incapazes ou pouco interessados em aceder a equipamentos novos significa também um potencial entrave no acesso democrático à informação e serviços.

Estes consumidores com dispositivos de 2014 ou anteriores, muitos dos quais com 1GB de RAM ou menos, encontram-se bloqueados fora de actualizações de segurança, novas ferramentas de cidadania e serviços básicos, por incapacidade dos equipamentos para acolherem novas apps e funcionalidades, seja por processamento insuficiente, seja por armazenamento reduzido.

Os dados da DeviceAtlas mostram que, por trás das mais intensas campanhas de marketing, os equipamentos de que hoje dispomos são capazes de aguentar uma longa vida de serviço sem necessidade de substituição anual. Os consumidores estarão, de resto, pouco convencidos da necessidade de actualizarem anualmente os seus smartphones, face às novidades dos novos equipamentos que poderão parecer pouco expressivas, face aos preços praticados.

Mesmo a Samsung, que continua dominante na Europa, vê as diversas versões dos Galaxy S5, S6 e S7 em plena competição com os seus novos dispositivos.

samsung

O problema não deixa a Apple incólume, já que o iPhone 6 continua a ser o iPhone mais popular. Os gráficos mostram no entanto uma realidade muito interessante para a Apple, já que apesar do Android dominar em 60 mercados importantes, o iOS mantém uma fatia de marcado de 14,7%. Parecerá um valor pouco interessante, mas somente a Apple fabrica e vende equipamentos iOS, enquanto o mercado Android é amplamente fracturado com mais de uma dezena de marcas a competir entre si pelo que são, por vezes, margens de lucro muito baixas.

Por isso torna-se urgente apostar seriamente nas gamas médias e baixa, de forma a que todos possam aceder com qualidade às ferramentas profissionais, educativas e de entretenimento que a tecnologia móvel já proporciona hoje em dia. Para o conseguirem, muitos fabricantes poderão ter que estabelecer parcerias de importação de equipamentos móveis, como é o caso da Umidigi que já aparece em forma de rebranding em alguns países Europeus, ou a Francesa Archos, que já inclui dispositivos BlackView e Nubia no seu catálogo.

 

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