Os ThinkPad já foram ao espaço: são assim tão resistentes, feitos parar durar e não sucumbirem a abusos. Então imaginem a surpresa de receber um ThinkPad que se dobra, desdobra, e tanto é tablet quanto computador portátil. O ThinkPad X1 Fold Gen1 é um computador revolucionário que nos impressiona logo à primeira vista pelo seu desenho engenhoso e pela forma quase “mágica” como o seu ecrã tanto se usa dobrado em duas partes, como totalmente aberto num verdadeiro ecrã portátil. Os ThinkPad têm uma fama quase mitológica pela robustez e inovação, e é nestes dois capítulos que o ThinkPad X1 Fold se supera e abre portas muito confiantes para o futuro, se bem que o equipamento em si não fuja às fragilidades das primeiras gerações de todas as revoluções.
Especificações técnicas
- Processador: Intel Core i5-L16G7
- Ecrã: OLED 13.3″ 2048 x 1536
- Armazenamento e memória: 256GB SSD, 8GB de RAM
- Gráfica: Intel UHD Graphics
- Conectividade: 802.11ax, Bluetooth, 5G, 4G
- Portas: 2 x USB-C
- Autonomia: 50Wh
- Peso: 999g
- Dimensões: 236.0 x 158.2 x 27.8 mm
A engenharia é excitante por si só
Podemos ter reticências sobre a maturidade dos equipamentos com ecrãs flexíveis, mas ao utilizarmos o ThinkPad Fold Gen 1 temos de nos render ao facto da engenharia que envolve este produto ser toda uma experiência de utilização em si mesma.
O ecrã flexível é apenas parte da equação. O ThinkPad é envolvido numa cobertura de pele sintética que se move à medida que abrimos ou fechamos o equipamento, com movimentos bastante sólidos que permitem colocar o ThinkPad numa posição totalmente aberta, ou intermédia em “L”, a que voltarei mais tarde. Uma vez aberto na totalidade, o ThinkPad pode ser mantido na vertical para utilização como monitor externo ou em modo tablet, com uma aba da capa a ajustar-se para diferentes graus de inclinação.
Uma vez fechado sobre si mesmo, o ThinkPad permite colocar entre as duas metades o fino teclado que cabe aí perfeitamente, parecendo que carregamos um simples livro na mão. Esta abordagem confere a este terminal uma polivalência incrível para podermos estar sempre prontos para trabalhar, agora, mais tarde, em qualquer local. A solução muito engenhosa da Lenovo significa que não precisamos exatamente de uma capa protetora para proteger o X1 em viagem, já que ele está, efetivamente, envolto na sua própria concha de proteção.
Sem o joystick e sem botões físicos no trackpad, que peculiar teclado de Thinkpad é este?
Muito fiel aos teclados da Lenovo, o teclado do Thinkpad Fold Gen1 é razoavelmente cómodo e um dos seus pontos de venda, já que a engenharia muito prática da marca permitiu que este teclado possa conectar-se por Bluetooth e simplesmente ficar pousado numa mesa enquanto o Thinkpad se encontra aberto para servir de ecrã portátil. Ou, se preferirem, preso magneticamente sobre o ecrã meio dobrado, num mini portátil mais clássico: ao colocarmos o teclado sobre a metade do ecrã, este automaticamente assume a metade descoberta como sendo o ecrã completo.
As teclas são confortáveis e relativamente bem espaçadas para um teclado tão fino e compacto, com boa atuação e resistência, mas tem também o seu forte quê de frustrante. As dimensões compactas são um problema, mais especificamente no teclado Inglês em que escrevo. Toda a acentuação se encontra escondida nas teclas da direita, com acentos agudo e grave na tecla P, C cedilhado na tecla do til… Implica que cada vez que tenho de fazer acentuação tenho de recorrer primeiro à tecla Fn que está algo mal localizada para ser tão importante. Pior, alguma acentuação só pode ser acedida via Fn+Shift, uma verdadeira prova de força para quem está habituado a jogar twister!
Escrever em Inglês será inquestionavelmente mais confortável, ou então precisamos mesmo de um teclado adaptado para o Português para sermos verdadeiramente produtivos. Isto não retira ao teclado o mérito de ser merecedor da história ThinkPad, com um nível de conforto inusitado para uma peça tão pequena que se mostra sólida a cada toque e nos deixa confiantes quanto à sua qualidade inerente.
Último detalhe do ponto de vista técnico para este teclado que tem tudo bem pensado, é que pode ser carregado via USB-C, mas isso será um último recurso, já que recolhido entre as duas metades fechadas do ThinkPad, carrega de forma wireless e basta uma hora para obtermos 8 horas de utilização. Máxima comodidade, portanto!
A revolucionar quando e onde trabalhamos
Pensem no seguinte: é Sábado e querem dar um passeio, mas também precisam colocar algum trabalho em dia. Pode a oportunidade colocar-se ou não, por isso não sabem se querem levar o portátil convosco, o que vos força a levar uma mochila num simples passeio. O portátil acaba por ficar em casa. Pelo caminho resolvem sentar-se um pouco a beber um café e eis que, por entre quem passa mais ou menos desocupado e quem se senta como vós a pensar em algo no seu íntimo, a vontade de agarrar um teclado e relaxadamente compor umas linhas surge. Tarde demais.
Com o X1 Fold, isto é apenas ficção. O seu fator de forma da grossura de um livro e pouco mais pesado que isso permite-lhe caber numa simples sacola e ir connosco para qualquer lado, discretamente, seja num passeio de lazer, seja para o trabalho quando a mochila já vai carregada com outros computadores. A pequena manga para a caneta ativa garante que não a deixamos perdida em algum sítio sem darmos por ela.
Do ponto de vista do hardware, temos um Intel Core i5-L16G7, um chip híbrido de 5 núcleos, sendo quatro para tarefas eficientes (Tremont) e um núcleo rápido (Sunny Cove) a 3GHz, e que no papel até parece muito capaz, contudo não suporta hyperthreading e rapidamente percebemos que o X1 Fold não está vocacionado para tarefas pesadas. A performance em si mesma é meramente razoável, com alguma parcimónia na resposta das aplicações e do sistema operativo como um todo, não sendo o computador mais espevitado quando estamos com pressa. O lado positivo é um funcionamento silencioso na esmagadora maioria das tarefas, mesmo que exista uma ventoinha física que ouvimos disparar quando ligamos o carregamento rápido.
No fundo, o principal problema está no Windows 10 que vem a bordo e que está longe de ser otimizado para equipamentos táteis e muito menos foldable, a Lenovo intervindo com software próprio para ajudar um pouco o utilizador, com o Mode Switcher que nos ajuda a colocar aplicações lado a lado. Não esperemos jogos aqui, exceto dos realmente leves, ou o processamento de folhas Excel pesadas.
Finalmente, a bateria de 50Wh não surpreende. Por um lado, há a capacidade de carregar normalmente via USB-C, o que nos oferece flexibilidade extra na hora de ligar o Lenovo a um carregador de recurso. Por outro, a bateria revelou-se algo curta em autonomia, sendo possível extrair entre 5 e 6 horas de utilização, dependendo da tarefa, o que não nos iliba de ter de enfiar o carregador na mochila se formos passar um par de dias fora, porque este não será o equipamento para perdoar um deslize.
Um ecrã para revolucionar
Podemos dizer tudo e mais alguma coisa sobre o ThinkPad X1 Fold Gen 1, mas é sobre o ecrã que todos queremos falar, certo? Ao longo deste texto não deixei de repetir que o seu formato fold é um dos seus grandes segredos para tornar a nossa produtividade muito mais independente de ocasiões e locais. Portanto o que vou dizer a seguir já não será novidade, mas há algumas palavras a levar em consideração quanto ao que este ecrã oferece.
A maior parte das pessoas que olhou para Fold admirou desde logo o que ele é capaz de fazer e a forma como se dobra com o teclado no meio da concha, mas todos foram perentórios quanto a ainda terem desconfianças relativamente aos ecrãs dobráveis. Deixem-me dizer que eu também, principalmente depois de vermos alguns passos em falso por parte de algumas marcas de renome.
O ecrã do ThinkPad Fold, ao contrário do que vemos em alguns smartphones, mostra rigidez na sua superfície e não me parece fácil de arranhar, embora não tenha estado particularmente interessado em testar este ponto. Não tem um aspeto frágil, e isto é importante num equipamento deste preço. Ao mesmo tempo, apesar da dobradiça ter um diâmetro bastante fino quando fechada, ao abrirmos o ecrã o vinco no ecrã é praticamente indistinto. Ao fim de alguns minutos de utilização já nem percebemos que lá está e trabalhamos como num ecrã normal sem qualquer entrave. Finalmente, há sempre o medo de termos alguma coisa a infiltrar-se dentro do corpo do portátil para estragar o ecrã por trás.
Não digo que é impossível estragar o ecrã, mas há a toda a volta uma película flexível que faz um excelente trabalho de manter os componentes internos protegidos contra a entrada de corpos externos que teriam de ser do tamanho de partículas e de modo geral temos uma grande sensação de segurança por comparação ao que estamos habituados a ver.
Há, todavia, alguns sinais da insipiência deste ecrã. Ao aumentarmos ou diminuirmos a luminosidade, o ecrã reage de uma extremidade para a outra de forma visível, em vez da forma instantânea a que estamos habituados, e a sua taxa de atualização no geral, com 60Hz, parece já pouco topo de linha nesta altura. Mas, com excelentes cores e ângulos de visão muito amplos, o ecrã do X1 Fold é excelente para a utilização polivalente a que se propõe.
Um futuro com potencial
O Lenovo ThinkPad X1 Fold Gen 1 é inquestionavelmente um equipamento revolucionário que abre toda uma nova dimensão de portas para a nossa produtividade em qualquer local, com uma engenharia e conceção banhadas em ideias muito bem conseguidas que o tornam irrepreensivelmente prático. Apesar dos pequenos pontos onde notamos estar perante um produto de primeira geração – caso do ecrã lento por comparação a um ecrã tradicional nesta gama de preço – o ThinkPad X1 Fold mais do que justifica ser respeitado e admirado pelos talentos que coloca em cima da mesa. É um tablet? É um portátil? É o que quisermos, sem termos de andar com dois equipamentos pesados atrás de nós, e isso mostra-nos que estamos perante um futuro muito credível para os computadores portáteis de ecrã flexível.
Onde o ThinkPad X1 Fold Gen 1 ainda não está no ponto é na relação custo-benefício, com os equipamentos deste género a serem ainda muito caros para o hardware que oferecem e, no caso do X1, o desempenho está mais consistente com o de um Chromebook económico do que com o de um equipamento revolucionário, significando que esta primeira geração é excelente para quem gosta de iniciar novas tecnologias ou para inovadores à procura de desafios, enquanto os produtivos e os utilizadores quotidianos encontrarão soluções mais eficientes no restante portefólio da Lenovo.