Enfim aconteceu, o que muitos amantes da tecnologia e do ecossistema Android há muito almejavam: os smartphones Google Pixel chegaram oficialmente a Portugal. Para os utilizadores mais embrenhados no mundo da tecnologia, admirar os Pixel já não necessita de explicação, contudo o público geral pode perguntar-se o que têm afinal estes equipamentos para causarem tanto impacto na sua chegada a Portugal em parcerias exclusivas com Worten e Vodafone? Bom, estamos aqui para vos explicar em detalhe.
Com um preço inicial de €829 para a versão com 8GB de RAM e 128GB de armazenamento interno, o Google Pixel 8 oferece desde logo uma impecável relação custo-benefício, colocando-se do ponto de vista do preço abaixo dos principais concorrentes, ao mesmo tempo que oferece hardware irrepreensível para a sua classe. Tanto mais que a Google está a prometer 7 longos e extraordinários anos de atualizações e suporte. Contudo, há mais do que mera força bruta e estatísticas para nos tentar convencer: há inteligência artificial a abrir as portas de fotografia computacional e edição como talvez nunca até agora, mas há também a experiência polida do Android puro, sem invenções, publicidade, apps redundantes e animações que contribuem apenas para peso excessivo. O Google Pixel 8 é um smartphone puro e limpo que facilmente convencerá os que querem uma experiência despreocupada e fluída.
Este é o relato da minha experiência com este smartphone nos últimos dias.
Design: no que está bem, não se mexe (muito)
Os Pixel são os únicos smartphones com engenharia Google, desde o mais seminal momento de conceção de um smartphone, até ao fabrico final. Para quem a Google é apenas uma empresa de publicidade, a eficácia do seu hardware poderá ser uma surpresa, mas a verdade é que com a aquisição de grande parte da divisão de smartphones da HTC, a Google captou para si um know-how impressionante.
E é assim que chegamos ao design. Os Pixel pontuaram por um design limpo e próprio desde o início, embora os Pixel 4 e Pixel 5 possam ter sido tremendos passos em falso quanto à imagem identitária. Mas, depois, chegou o Pixel 6 e o design dos Pixel nunca mais foi o mesmo, culminando então nos Pixel 8 e 8 Pro para afirmar uma realidade simples: um Pixel não se confunde com ninguém. Um disclaimer primeiro: o acabamento mate do Pixel 8 Pro é genial, visualmente e tatilmente. O do Pixel 8 não é tão luxuoso, mas é sedutor também.
Num ano em que muitos procuraram o look iPhone clássico com molduras planas e não totalmente confortáveis, o Pixel 8 apresenta linhas muito bem rematadas, com uma moldura em alumínio fosco de perfil elíptico que cria uma continuidade com o painel traseiro de vidro altamente brilhante com um simples G no seu centro. A face traseira é dominada obviamente pela barra saliente de alumínio que contém as duas câmaras e de curvatura em continuidade com a lateral, recortada por oito antenas perfeitamente niveladas com o metal circundante numa mostra de grande empenho nos detalhes.
Para todos os efeitos, o Pixel 8 é um smartphone compacto. Este ano, o ecrã passa das 6.3″ para as 6.2″ e os cantos são visivelmente mais arredondados que os do Pixel 7. O ecrã é do tipo Actua Display, mas por trás da semântica do nome, temos um OLED avançado com resolução FHD e taxa de atualização máxima de 120Hz, melhorando os 90Hz do Pixel 7. O ecrã não é LTPO como o do Pixel 8 Pro, e por isso alterna entre 60Hz e 120Hz apenas. Os rebordos são mínimos a toda a volta, e se o lábio inferior parece marginalmente mais espesso é isso mesmo: marginalmente mais espesso ao ponto de não conseguirmos ver diferença.
Até agora tudo bem. O ecrã é vibrante e luminoso, atingindo fenomenais 1400 nits de brilho, mas com excelentes contrastes e dinamismo. Há também altifalantes estéreo a analisar com mais cuidado no futuro.
Fotografia e vídeo impressionantes
Se há um ponto onde a Google se tem destacado, é na enorme potencialidade das suas câmaras. Enquanto muitas marcas tomaram alternadamente o trono da fotografia mobile, em muitos casos têm jogado ao apanha com a Google, seguindo a sua opção de criar um chip doméstico para tratamento de imagem. Ao nível da edição, a ferramenta Google Fotos tem sido das mais potentes no mercado. Este ano, o enorme potencial do processamento a bordo do Pixel 8 casa-se com câmaras renovadas e com o processamento disponível nos servidores da Google quando fazemos o upload das imagens para a nuvem. Ao contrário do que ocorre com alguma concorrência, o Google Pixel 8 ainda não tem comandos Pro na câmara e concentra-se principalmente na qualidade de imagem sem problemas ou preocupações, oferecendo uma fotografia exemplar em praticamente qualquer situação.
A Inteligência Artificial está a bordo em força, abrindo novas portas de fotografia computacional: ferramentas como a Best Take, que escolhe a melhor fotografia de um grupo e permite depois a edição das expressões faciais para todos ficarmos no nosso melhor; o Real Tone para as tonalidades de pele, qualquer que seja o nosso tom; a Magic Eraser ou a edição do céu; todas estas ferramentas estão ao nosso dispor para cada fotografia ser aquilo que realmente queremos que seja. Convém relembrar que no Google Fotos podemos aumentar a nitidez daquelas imagens que tenham ficado desfocadas, sem esquecer que este ano a Dual Exposure, Real Tone e Magic Eraser chegam também ao vídeo, este último permitindo remover trilhos de áudio indesejados, como o vento.
Mas, ao nível puro do hardware, há novidades. O Pixel 8 pode não ter o mesmo trio de câmaras potentes do 8 Pro, mas ganhará a sua vida com dignidade, graças ao par de 50MP+12MP. Ambas as câmaras oferecem mais captura de luz que as suas antecessoras e este ano a ultragrande angular recebe autofoco e, portanto, capacidades macro perfeitamente ausentes do Pixel 7.
Começo por aqui. Com um foco mínimo a 12cm do objeto, o Pixel 8 é capaz de nos oferecer imagens macro francamente convincentes. Para ativar o modo macro, basta que nos aproximemos o suficiente de um objeto para o Pixel 8 fazer o switch das câmaras. A maior parte das vezes, o resultado é realmente atraente, se bem que quando o alvo não enche exatamente o ecrã, então o foco parece saltar do plano frontal para o plano de fundo e de volta.
Mas, depois de algumas fotos com a opção macro, confesso-me francamente impressionado pelos resultados obtidos quanto ao detalhe global no geral.
A consistência de cores entre ambas as câmaras é impecável, o que nem sempre vemos na concorrência e, como é apanágio da Google, as imagens oferecem excelentes tonalidades, mesmo que não se tenha envolvido nenhum nome lendário da fotografia para o conseguir. Tudo isto é puro hardware e algoritmos da Google. Algoritmos esses que realmente dão um ar da sua graça em condições de baixa luminosidade, onde o resultado é irrepreensível. Devo dizer que as primeiras gerações de fotografia noturna Google pareciam ter mão pesada na conversão da noite em dia, enquanto que neste momento me parecem ter um excelente equilíbrio: o resultado tem pouco grão, boa definição e cores equilibradas.
Um ponto muito importante aqui a referir é que uma fotografia de 6s pode ser tirada facilmente de mãos livres, não apenas pela estabilização de imagem, mas porque os algoritmos conseguem criar um composto de grande nitidez. Isto é particularmente impressionante para os amantes de astrofotografia, onde uma exposição de 6 segundos nos mostra um mar de estrelas onde apenas vemos céu vazio.
Para um smartphone sem uma câmara zoom dedicada, o zoom digital funciona muito bem até 5X zoom pelo menos, mantendo neste nível ainda um bom detalhe geral.
Em troca, as proezas da inteligência artificial na pós-edição ainda não estão a um nível que vá fazer-nos pensar na conquista do mundo pelas máquinas. Não que a Google prometa verdadeiros milagres. A marca é suficientemente cautelosa ao nos dizer que algumas das ferramentas que recorrem a IA generativa estão no seu começo e o feedback dos utilizadores é importante. A Magic Eraser, por exemplo, funciona razoavelmente bem, mas tem o hábito particularmente cómico de sugerir a remoção do humano, deixando solitários cãezinhos a passearem na rua com uma trela flutuante. Aqui temos mesmo de usar o dedinho para apagar o cãozinho.
O lado do vídeo é certamente um ponto que terei de experimentar melhor, mas a Magic Eraser é impressionante. Basta filmar, ir à edição e escolher o áudio. Uma rápida análise automática distingue a voz de um ruído de fundo (música, vento, outros ruídos) e oferece-nos a hipótese de escolher cada pista para diminuir o seu volume. O efeito é – digamos – impressionante.
Desempenho e experiência de utilização
O que dizer sobre o Google Pixel 8 em termos de desempenho? A Google não nos deu todos os detalhes sobre o Tensor G3 que o alimenta. Sabemos tratar-se de um processador de 9 núcleos, incluindo um potente Cortex-X3 Prime a 2.91GHz, 4 Cortex-A715 e ainda 4 Cortex-A510 para as tarefas mais eficientes e é fabricado num processo LPP de 4nm da Samsung. Emparelhado com um mínimo de 8GB de RAM e 128GB de armazenamento interno, o Pixel não tem falta de capacidades. Contudo, o seu foco vai muito para lá da força bruta. Este é um smartphone que quer ser inteligente.
E é-o. Para os absolutos incondicionais da experiência limpa de Android, não há melhor, e nada desde o fim do Android 1 pode competir com a pureza da interface. É certo que muitas marcas apostam forte em funcionalidades adicionais, e que a versão de fábrica do Android nem sempre é a primeira a disponibilizar estas funcionalidades que o público acaba por considerar importantes. É assim que no Pixel 8 ainda não temos comandos manuais nas câmaras, de forma inexplicável. Mas também não temos apps com propósitos duplicados, bloatware, publicidade ou animações elaboradas por tudo e por nada. O Android aqui dança de forma impecável sem soluços.
Não obstante, a maior parte de nós quer saber da força bruta e o Tensor G3 está claramente em território de gama alta. Não foram exatamente dias suficientes para trepar nos rankings dos meus jogos favoritos, mas o Pixel 8 corre War Thunder Mobile com gráficos no máximo sem dificuldades, e clássicos como Real Racing 3 ou concorrentes como Gear.Club e GRID Autosport correm muito bem.
A outra parte da história é contada pelos benchmarks. A tecnologia de 4nm da Samsung tem sido algo “problemática” em termos de eficiência energética e tendência para o aquecimento excessivo, algo que afetou por exemplo os Pixel 7 até a Google resolver o tema via atualizações de software.
Sem ter tido o prazer de usar o Pixel 7, uma comparação dos benchmarks disponíveis mostra que o Tensor G3 domina o Tensor G2 em desempenho, com mais de 20% de incremento nos testes Wild Life. As curvas de desempenho são praticamente iguais em ambos os processadores, mas nem tudo são rosas e – para já – o Pixel 8 ainda atinge 44ºC, começando a reduzir o desempenho do processador bastante cedo nos testes de stresse, e culminando num output substancialmente reduzido com cargas elevadas prolongadas. Digo “para já”, porque estamos num Outubro estranhamente quente e porque o Pixel 8 está na sua infância e é mais do que expectável que a Google enderece o tema com atualizações no futuro próximo. Felizmente há mais do que espaço de manobra neste processador, para a experiência nunca ficar comprometida.
Finalmente, a eficiência energética do Tensor G3 parece ser superior à do seu antecessor, mas o desenho compacto do Pixel 8 e a ausência de uma câmara de vapor como em alguma concorrência mais direta parecem impedir o G3 de realmente atingir o seu máximo potencial. A autonomia, até agora, é impecável para mais de um dia a puxar bem pelo smartphone, e os benchmarks mostram uma degradação da autonomia inferior à dos seus antecessores, o que é altamente positivo. De notar que a bateria de 4485mAh é bastante generosa para as dimensões do Pixel 8 e o carregamento sem fios a 12W é muito bem-vindo.
Claro que a Google não está a vender o G3 como o mais potente processador do mercado. O foco é nas suas capacidades de inteligência artificial e na colocação à disposição do utilizador de ferramentas muito úteis para o quotidiano. Aqui, diga-se que o Pixel 8 é inquestionável. Duas funcionalidades impecáveis e que destacaria deste já, são a leitura em voz alta de qualquer site, independentemente do idioma, e com igual agilidade, o assistente google faz a tradução oral de qualquer site. O Pixel 8 é de facto o primeiro smartphone a usar diretamente no equipamento os mesmos modelos de texto-para-discurso dos data centers da Google, com uma eficácia soberba.
E ainda a vista imersiva que é disponibilizada quando escolhemos um monumento como a torre de Belém. Aqui é gerada uma visão 3D da área por onde podemos navegar e preparar melhor o nosso passeio, e que não é de todo uma street view, porque mostra muito mais detalhe para lá das estradas. A Casa da Música no Porto, Mosteiro dos Jerónimos e alguns monumentos internacionais estão já disponíveis, mas espero ver em breve o Palácio da Pena, Palácio de Queluz, Palácio da Regaleira, etc. nesta aplicação.
Conclusão
A chegada dos Pixel 8 e Pixel 8 Pro a Portugal é de uma enorme importância para os fãs do sistema Android e que, até agora, não tinham uma alternativa real com Android stock e tão intimamente integrada com o ecossistema da Google. Esta receita é talvez o principal argumento no Pixel 8, cuja interface acaba por ser limpa como em poucos telemóveis, e para já claramente polida.
As inúmeras ferramentas de inteligência artificial a bordo aumentam a utilidade do Pixel 8 sem serem intrusivas e oferecem alguns predicados impressionantes ao nível da captura e edição de imagem e vídeo. Até podemos anedoticamente dizer que ainda há espaço para melhorias com os nossos cães de trelas flutuantes, mas aa Magic Eraser aplicada ao vídeo é literalmente ouvir para querer, eliminando o vento de um diálogo, ou a música de fundo. Ou vice-versa, removendo o diálogo e ficando só a música.
Fora uma ou outra maleita de juventude, e que a Google prontamente saberá ultrapassar, o que aqui há é um enorme potencial de crescimento por um lado, e uma soberba experiência de utilização por outro. A experiência de Android puro nunca foi tão refinada e limpa, transformando o Pixel 8 num smartphone inquestionavelmente viciante.
Os dois Pixel não chegam sozinhos: trazem ainda o novo Watch 2 com o melhor da FitBit, Google Buds e ainda se afirmam como os primeiros smartphones no mercado com Android 14. É muita coisa para vermos à medida que continuamos a descobrir o Pixel 8, por isso acompanhem-nos nesta viagem.
Principais destaques | A melhorar |
Design Distinto: O Pixel 8 apresenta um design único, com acabamento sedutor, compacto com um ecrã de margens mínimas e elevada qualidade | Aquecimento do Processador: O Tensor G3 mostra nesta fase tendência para aquecer, o que deverá ser corrigido com atualizações de software. |
Fotografia Impressionante: Excelente desempenho em condições de pouca luz e capacidades macro, capturando imagens detalhadas e vibrantes. Funcionalidades de IA como Best Take, Real Tone, Magic Eraser e Dual Exposure melhoram a experiência fotográfica. | Controlos Manuais Limitados da Câmara: O Pixel 8 não de controlos Pro na câmara, funcionalidade que agradaria aos entusiastas, mas espera-se que estes comandos venham a chegar |
7 anos de suporte: Sete anos de peças de reposição, feature drops e atualizações. Sete. Se-te! | |
Experiência Limpa com Android: O Pixel 8 funciona com Android puro, proporcionando uma experiência de utilização limpa e suave, sem bloatware ou animações excessivas. Os utilizadores podem desfrutar de uma interface irrepreensível. | |
Recursos Únicos: O Pixel 8 introduz recursos inovadores como a leitura em voz alta de qualquer site e traduções orais de conteúdo web, ou a edição de vídeo com IA para remover ruídos. |