As coisas começaram a ficar más ainda nos anos 90 com as primeiras acusações de que os nossos endereços de email poderiam ser vendidos por fortunas para empresas de publicidade duvidosas, depois os dados de navegação. Por então tudo parecia muito mau, muito pouco ético, e os internautas – que na altura eram bem menos – lá fizeram algum barulho. Mas, vinte anos depois, abdicamos da nossa privacidade em troca da promessa de serviços e agora até o nosso aspirador pode vir a vender dados privados. Sim, a Roomba é mais do que um aspirador, é um mapeador.
Para o CEO da iRobot, mais uma vez a questão é o serviço, já que os dispositivos conectados das nossas casas inteligentes têm um completo desconhecimento do seu meio circundante, aquilo a que chamamos spacial awareness. Ora Colin Angle tem algo perfeito em mãos: a Roomba anda todos os dias por nossa casa confortavelmente a recolher o lixo das nossas refeições e vida quotidiana, mantendo a sala e a cozinha e os quartos limpos para nosso prazer, de modo muito inocente e discreto.
Não tão inocente ou discreto no futuro, já que a Roomba é um perfeito mapeador das nossas casas, passando por cada canto e esquina, por cada móvel e obstáculo. A diferença no futuro será que Angle se vê a vender estes mapas das nossas casas a quem der mais.
A premissa de cada vez melhor serviço para que os restantes dispositivos conectados possa fazer ainda melhor a sua missão de tornar a nossa vida confortável é apaixonante, mas no fundo a iRobot é um negócio e quer é fazer dinheiro.
Faz parte da sua visão de lucro que os dados que vende continuem secretos e as nossas casas protegidas, mas a iRobot não pode controlar se esses dados são ou não revelados por vulnerabilidades nos dispositivos de terceiros. Portanto a iRobot primeiro vende os dados, depois as outras empresas que consigam – ou não – fazer algo positivo com eles.
O hacking de casas inteligentes é um problema sério e nenhuma marca é invulnerável. Muitas mais são simplesmente frágeis a tentativas de intrusão maliciosa.
Angle assegura que a recolha dos dados das casas será feito apenas com a autorização dos clientes, mas mais uma vez isto significa que teremos mais um dispositivo com capacidade de comunicação com a Internet, logo um potencial risco de segurança. Mais do que isso, uma promessa de só vender dados com autorização valeria menos que o papel em que seria impressa: face à promessa de melhoria de serviços, mais funcionalidades e eficiência, a maioria de nós não tem qualquer problema em vender os seus dados privados sem ganhar um tostão por isso.
E tu, o que pensas da protecção dos teus dados privados nesta era conectada?