Foi há cerca de um mês que vi uma pequena raridade pelo canto do olho: tal como eu, alguém comprava uma viagem numa bilheteira ao meu lado e, tal como eu, pousara um BlackBerry no balcão. Excepto que não se tratava de um BlackBerry KEYone como no meu caso, mas um já distante Passport. O seu aspecto rectilíneo e quase quadrado é imediatamente reconhecível e inconfundível. Mas não é surpreendente: a BlackBerry há muito que tem a fama de possuir utilizadores que se agarram a dispositivos com 3, 4 ou mais anos, mesmo ante a ascensão do Android, mesmo perante o obsoletismo patente do BlackBerry OS. Porque são tão fiéis os utilizadores da BlackBerry quando existem aparentemente opções mais recentes e melhores?
A passagem pelas minhas mãos do BlackBerry KEYone Black Edition deu-me uma oportunidade de reflectir sobre a possibilidade do KEYone ser simplesmente um dos melhores smartphones Android de sempre.
Ferramenta altamente especializada
Os smartphones Android têm como característica intrínseca a sua polivalência: de dispositivos multimédia, a comunicação e produtividade, eles fazem tudo, e fazem-no cada vez melhor. Mas, no fundo, são dispositivos que tentam fazer tudo bem, mas não fazem nada excepcionalmente bem. A especialização do BlackBerry KEYone na produtividade e produção documental significam que este dispositivo é francamente excepcional nesses dois universos e existe pelo mundo fora um amplo mercado de utilizadores que necessitam das suas capacidades.
Tal como na versão regular, o grande argumento do BlackBerry KEYone Black Edition é o seu teclado físico: nem todos irão escrever mais depressa ou melhor com este teclado, face a um qualquer teclado virtual Android. Sou o primeiro a admitir que ainda demorei alguns meses a substituir completamente os teclados virtuais. Mas, uma vez encontrada a minha estratégia de utilização, o teclado físico tornou-se insubstituível.
Em particular, o feefback táctil ajuda realmente a localizar as teclas sem termos de manter os olhos colados ao ecrã, o que o torna mais rápido e seguro. Os atalhos são ainda mais importantes, e só o Key2 conseguirá rivalizar com a possibilidade de criar atalhos para acções específicas ou apps a partir do ecrã principal, iniciando acções com um único clique sem termos que navegar primeiro.
Finalmente, o teclado BlackBerry é talvez o melhor do mundo facilidade de utilização e gestos rápidos para escrever. Ora as teclas físicas são basicamente uma interface física para este teclado: um deslize para cima selecciona a palavra sugerida, um para a esquerda apaga palavras, toque duplo em qualquer lado activa o cursor, e swipe na vertical permite navegar em páginas web ou virar páginas em ebooks, mesmo em modo paisagem.
Face a isto, todos os smartphones Android são simplesmente iguais. Se teclar longamente é uma das nossas tarefas diárias, praticamente todos os Android oferecem o mesmo, pois são simplesmente ecrãs com teclas virtuais. O valor acrescentado é zero.
A alternativa: Verdadeiramente nenhuma, pois quem prefere um teclado físico ou consegue tirar dele o máximo não tem alternativas reais. A Samsung lançou teclados físicos para os Galaxy S8 e Galaxy S7, por isso pode ser vista por aí a coisa.
Autonomia
O BlackBerry KEYone Black Edition mantém a extraordinária autonomia das restantes versões do KEYone. Com uma utilização perfeita normal, incluindo escrita, emails, alguns vídeos, a bateria chego a casa com cerca de 50% de bateria disponível e este valor é suficiente para uma utilização confortável ao longo do dia seguinte.
Não podemos definir um flagship do ponto de vista estrito do processador e memória. Sem uma autonomia razoável, de que serve o melhor hardware? Numa altura em que os equipamentos topo de gama padecem de notável falta de autonomia o KEYone é a excepção à regra e foi feito para não nos falhar num dia em que realmente necessitamos que as forças não lhe faltem.
A alternativa: Huawei Mate 10 Pro: o Huawei Mate 10 Pro, com a sua enorme bateria de 4000mAh e carregamento rápido sem rival é dos equipamentos com melhor autonomia no mercado e o seu foco é definitivamente empresarial. Será neste momento o melhor smartphone do mercado em termos de capacidade de processamento por cada mAh de bateria, mas abdicaria eu do teclado?
Impressionante na produtividade
À medida que salto de smartphone em smartphone, adapto-me e tento tirar o máximo proveito das ferramentas que cada um põe ao meu dispor, mas constato que nenhum outro smartphone foi feito de de raiz para maximizar o quanto se pode fazer com um número mínimo de passos, principalmente em termos de trabalho puro e duro, redacção e revisão de documentos. A maioria dos smartphones no mercado é simplesmente generalista.
Portanto volto ao KEYone Black Edition e redescubro em segundos como posso usufruir rapidamente de ferramentas como o agregador BlackBerry Hub que me concentra as mensagens de todas as redes sociais, email e apps de conversação, o separador de produtividade que me permite agendar e monitorizar tarefas, ou as teclas configuradas para invocar qualquer app fundamental a partir do ecrã principal. Aqui o Key2 leva vantagem com a nova Speed Key que permite saltar de app em app a partir de qualquer ponto.
O ecrã tem proporções peculiares, mas uma vez incluído o teclado em qualquer smartphone de ecrã inteiro, a verdade é que o KEYone oferece maior área de ecrã para trabalhar em ecrã dividido ou não. O facto do teclado não necessitar de ser invocado significa que as janelas não estão constantemente a mudar de configuração sempre que tocamos numa caixa de diálogo.
A alternativa: Samsung Galaxy Note8 (muito em breve o Note9). A virtude dos Note está na Stylus e, para criativos, as capacidades da caneta são muito interessantes para anotar e gerir ideias on the go. Os serviços da BlackBerry podem ser aqui instalados com grande facilidade e por um preço mínimo, mas a questão mantém-se: o KEYone já nos oferece todos os serviços sem qualquer necessidade de andar atrás deles. Mas Note e KEYone servem públicos diferentes, pelo que a grande questão é qual a nossa necessidade em termos de ferramentas?
Exclusividade
Estarei a ser vaidoso? É um facto que o KEYone tem suscitado mais perguntas de perfeitos desconhecidos do que qualquer outro smartphone, talvez porque do ponto de vista estético e funcional, o BlackBerry seja fundamentalmente mais inconfundível que a esmagadora maioria dos smartphones de 2017 e 2018. A diferença chama imediatamente à atenção e desperta a curiosidade, dando-me novos temas de conversação e troca de opinião.
Mas não, não é neste sentido que falo da exclusividade. É toda uma conjunção entre o design diferenciado e a sensação muito específica e reconhecível na mão, a solidez, a textura inconfundível do painel traseiro em borracha. Para mim, o KEYone é dos poucos smartphones no mercado que reconhecemos imediatamente ao tacto e nos dá uma sensação de familiaridade no manuseio. É o tipo de design e ergonomia altamente pessoal de que carecem muitos smartphones e que para mim faz do KEYone uma estranha mistura entre smartphone e gadget anti-stress.
O KEYone não escorrega, e na versão Black Edition é ainda menos propenso a sujidade e marcas. Acima de tudo é surpreendentemente resistente: a unidade do autor voou recentemente três metros para cair de uma altura de dois metros no asfalto. Soltou-se o painel traseiro e ficou uma amolgadela mínima no canto, ficando o ecrã sem qualquer marca numa era de smartphones de ecrãs demasiado amplos para não serem igualmente frágeis.
A alternativa: não há. Para quem procura um smartphone realmente diferente dos restantes, que se reconheça de olhos fechados e ofereça uma experiência Android totalmente sua, o BlackBerry KEYone é único até à chegada ao mercado do Key2. O OPPO Find X é, ainda assim, um candidato importante em termos de exclusividade.
Segurança acima de tudo
A BlackBerry fez um nome na indústria como a marca mais segura, tornando-se o fornecedor de eleição de empresários e governos, pelo menos até se ter considerado que o Android era suficientemente robusto para continuar a garantir a exclusividade à BlackBerry. No entanto, o Android continua ainda a possuir diversos buracos de segurança, uma boa parte devido às opções dos utilizadores que encontram ao seu dispor inúmeras apps mais ou menos questionáveis.
O Android é em si mesmo um sistema operativo seguro, e muitos fabricantes contentam-se facilmente com o mínimo garantido. No KEYone, as tecnologias de segurança da BlackBerry são uma camada extra de segurança sob o Android. Não é apenas a suite DTEK que permite auditar a segurança do smartphone ou perceber se alguma app está a agir de modo suspeito em segundo plano, mas protecção de arranque seguro contra acesso root, que impedem o dispositivo de arrancar quando seja comprometido.
Alternativa: como disse, o Android é fundamentalmente seguro, mas para uma camada extra de protecção, mais uma vez tenho de destacar a Samsung com o Knox e todas especificações que permite alterar e reforçar.
A lacuna no entretenimento e performance
Focado como está na produtividade, é compreensível que o entretenimento multimédia seja um ponto onde o BlackBerry KEYone deixe a desejar. O ecrã 3:2 não será obviamente ideal para visualizar filmes, mas o KEYone tem ainda algumas lacunas importantes em termos de áudio. Apesar do preço substancial, não encontramos luxos como Dolby Atmos ou implementações da Dirac, nem sequer um DAC avançado, com o que o áudio via jack é banal. Via Bluetooth a história muda algo, mas ainda assim sinto que a família KEY beneficiaria de melhores implementações a nível do áudio.
A performance será igualmente um ponto que manterá alguns de pé atrás.
A alternativa: inúmeras, mas os Samsung Galaxy S9 e LG G7 ThinQ parecem-me as mais destacadas em termos de combinação de ecrãs de elevada performance com áudio refinado e extremamente bem pensado. O ideal, no entanto, seria um sucessor para o Priv, certo?
Ainda dos melhores Android de sempre?
Fora o aspecto puramente prático e racional, há algo incrivelmente satisfatório e viciante na utilização do teclado físico do KEYone. Inicialmente, o peso das teclas e o peso do smartphone foram quase desconfortáveis para dedos habituados a deslizar por ecrãs sem qualquer esforço, mas depois de superada a curva de aprendizagem, utilizar o KEYone para mim é um vício. Por diversas razões relacionadas com o trabalho na TekGenius tenho de por vezes passar alguns dias sem lhe prestar a devida atenção, mas mal agarrei o Black Edition, foi como se uma parte do meu cérebro estivesse à espera do momento. Utilizá-lo foi instantaneamente natural e tranquilizante. Nenhum smartphone com ecrã tradicional gera este tipo de prazer e intimidade na utilização.
O BlackBerry KEYone Black Edition tem pernas mais longas para andar e dá-nos amplo espaço de manobra em termos de trabalho e armazenamento de dados importantes no dispositivo, sem perdermos em segurança ou funcionalidade. Mas será o KEYone ainda um dos melhores smartphones Android de sempre?
Numa era de marcas que jogam pelo seguro e se copiam mutuamente, o KEYone é uma lufada de ar fresco pela diferença e pelo pensamento sério em ir pelo caminho da optimização em vez de pelo caminho substancialmente mais fácil do smartphone generalista. Apesar das suas lacunas, podemos pegar em 100 smartphones e todos se sentem e utilizam francamente mais ou menos do mesmo modo. E então entra em cena o KEYone e há definitivamente este factor “uau”, esta clara tentativa de nos facilitar o trabalho e as interacções, e sobre isto temos a segurança inegável e a autonomia irrepreensível, além de um design único.
O BlackBerry KEYone Black Edition mantém este foco e melhora-o, mantendo-se como um dos melhores smartphones no mercado.
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