A grande notícia do fim de semana é a suspensão dos acordos entre a Google a Huawei, bloqueando à firma Chinesa o acesso aos serviços que não são open source, e sendo seguida nesta acção por empresas como Qualcomm e Intel, após a colocação da Huawei numa lista negra. As empresas terão agora de adquirir licenças especiais para continuarem a ter negócios com a marca Chinesa e, caso não o consigam, a Huawei pode ficar com a sua posição dominante ameaçada, mas talvez mais ainda as empresas Americanas.
Empresas Americanas Expostas
Como seria de esperar, a Huawei tem não só inúmeros clientes nos EUA, com tem inúmeros fornecedores, que ficarão a perder, caso não possam fornecer os seus serviços à Huawei. Segundo a Goldman Sachs, citando a Bloomberg, só a Flex tem um volume de negócios superior a 350 milhões de dólares, enquanto empresas como Broadcom e Qualcomm negoceiam mais de 200 milhões.
Entretanto, estas empresas poderão não ser as mais afectadas, graças à diversificação dos seus clientes. A desconhecida NeoPhotonics, que fabrica produtos para transmissão de sinais digitais ópticos de alta velocidade, tem quase 50% do seu negócio dependente da Huawei, enquanto a Lumentum e a Qorvo se ficam por cerca de 10%. A Qorvo desenha e fabrica soluções de radiofrequência, enquanto a Lumentum fabrica instrumentos de medição.
Se dúvidas houvesse que estas empresas serão impactadas, as acções da Lumentum caíram 10,3% logo na Quinta-feira quando o governo Americano decidiu que quaisquer empresas que desejem negociar com a Huawei terão que comprar licenças especiais. Entretanto, as da NeoPhotonics fecharam Sexta-feira com uma quebra de 20%, idêntica à quebra sofrida na Quinta.
Relativamente à Finisar e à II-VI, também no sector optoelectrónico, com um volume de negócios dependente da Huawei inferior a 10%, pareceria tudo OK, não fosse o facto das duas corporações terem uma fusão acabada de aprovar.
No geral, a decisão do governo Americano está a ter um impacto nefasto nas empresas tecnológicas, com as acções a caírem de forma generalizada.
Os efeitos podem ser mais devastadores na economia Americana do que a cegueira Republicana está preparada para admitir. A Huawei representa $11 biliões de volume de negócios para as empresas americanas, com impactos em milhares de empregos que podem estar em risco.
O efeito será sentido mais no interior dos EUA, ponderando-se já aí que algumas tecnologias da Huawei possam ser licenciadas para evitar uma hecatombe nas áreas mais remotas dos EUA. Aí, pequenas operadoras regionais construíram as suas redes com recurso à Huawei, longe do interesse das principais operadoras. O boicote à Huawei significa que estas zonas vulneráveis verão as suas condições de comunicação e acesso à informação regredir. As empresas ficarão manietadas na sua capacidade de competir numa economia global onde a fiabilidade das comunicações é fulcral.
A bola do lado da Huawei
Não só as empresas Americanas podem sofrer. A Huawei não fabrica per se os componentes dos seus smartphones, a esmagadora maioria sendo obtida via fornecedores externos. A atitude da administração Americana não afectará apenas as empresas Americanas, neste sentido, mas também todas as empresas que pretendam continuar a negociar com elas, o que pode afectar igualmente a TSMC de Taiwan, que fabrica os actuais processadores da marca, ou a Sony que fornece sensores fotográficos, entre outras empresas.
Parece que ninguém sairá para já a ganhar de toda esta confusão, nem mesmo a principal concorrência da Huawei, pois o que podem ganhar em vendas de equipamentos, podem perder em fornecimento de componentes. A Apple, por outro lado, acossada em todas as frentes pela Huawei, já só conta com esta ajuda do governo federal, mas está dependente de como a China retaliará, podendo fechar à empresa de Cupertino as vias de fornecimento, o mercado, e mesmo as fabricantes de semicondutores de Taiwan, como a TSMC. Esta não quererá ter de escolher entre a Apple e a Huawei, e caso escolha uma delas, a outra terá problemas reais.
Mas a Huawei há muito que trilha um caminho em direcção a auto-suficiência e o efeito que a demência de Trump não quer levar em consideração, é que uma vez dado este passo, pode não haver regresso e as empresas Americanas perderão definitivamente um cliente de peso, com impactos na economia global Americana. A China está, para já, bem mais perto de conseguir aumentar seriamente o fabrico de componentes, do que os EUA.
A Huawei chegou já perto de igualar a Qualcomm no desenho de chips e a Apple no desenvolvimento de tecnologias 4G e 5G. De facto, a Huawei já possui modems próprios, enquanto a Apple ainda depende de terceiros. O receio de loucuras ainda mais extremas terá como principal efeito o reforço das tentativas das marcas Chinesas em cortar laços e dependências das empresas Americanas, prejudicando seriamente a sua capacidade de sobrevivência. Entretanto, sem a concorrência da Huawei, as redes nos EUA estarão impossibilitadas de lutar pelo melhor preço possível para os seus utilizadores.
Ninguém nega neste momento que o impacto na Huawei pode ser grande, mas será tão importante nas empresas Americanas, que se tornará difícil ao governo Americano negar as licenças especiais de que as empresas agora necessitarão para continuar a negociar com a Huawei. O perdedor desta guerra de comércio não será obrigatoriamente a Huawei.
[…] Boicote à Huawei não é do interesse das empresas Americanas […]
[…] Embora a administração Trump reconheça que empresas como Micron e Intel estão a voltar a fornecer a Huawei, o que fazer quanto a isso não é tão claro, já que seria uma questão de tempo até estes componentes passarem a ser comprados a outras empresas com largos milhões de dólares de prejuízo e impactos fortes na economia. A título de exemplo, a Huawei é o principal cliente da Micron e inúmeras outras empresas são particularmente expostas a quebras de vendas da Huawei. […]