Todas as marcas têm boas e más histórias, nenhuma imune aos utilizadores insatisfeitos com algum episódio menos positivo. Nas diversas oportunidades que tive de me relacionar com a BQ, fiquei consciente de que a marca Espanhola tem no seu percurso alguns momentos em que as coisas não terão funcionado muito bem.

Os detractores da BQ costumam ser muito vocais (quiçá como os detractores de qualquer marca), mas para uma marca das dimensões da BQ os danos podem ser superiores do que para marcas com maior presença no mercado. Mas o maior problema para a BQ é o optimismo das suas promessas. Pequena, Europeia, muitos olham para a BQ como uma marca quase “caseira”. Logo as expectativas são mais altas e também o desfavor.

É face a este diferencial entre promessas e realidade que decidi revisitar um dos lançamentos deste ano da BQ, o BQ Aquaris X e colocar diversas perguntas a mim próprio como utilizador, acima de tudo, quanto à durabilidade do equipamento e como reflecte o que é a postura de mercado da BQ.

Seis meses depois, um smartphone ainda moderno?

Honor 9, Nokia 8 e ASUS ZenFone 4 são apenas alguns dos equipamentos que tiveram a oportunidade de ver nas nossas páginas em tempos recentes. Como poderia o pequeno Aquaris X cumprir as nossas expectativas, face a estes enormes dispositivos?

A primeira coisa a notar é que vivemos num mundo em que os dispositivos têm uma validade curta e algumas marcas Chinesas (ou a Sony) têm ciclos de 6 meses. Face a isto, muitos dispositivos com 6 meses são já algo obsoletos.

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Surpreendentemente, não o BQ Aquaris X. Seis meses após o seu lançamento, o X oferece um hardware que se compara favoravelmente com o mais recente Xiaomi Mi A1, que será um dos seus principais concorrentes. O Xiaomi tem a vantagem da construção integral em metal e a mais duvidosa vantagem das câmaras duplas.

No entanto, partilham um chip comparável, ecrã FHD, bateria e tecnologia de carregamento.

Neste espaço de seis meses, poucos equipamentos foram lançados nesta gama de preço que melhorem significativamente o Aquaris X e quem quiser os extras do Snapdragon 630 terá que pagar mais. Muito mais, sem talvez se notar grande diferencial na performance. Olhemos para os resultados do Aquaris X no GeekBench, face a outro dispositivo mais recente, que temos em testes com Snapdragon 630, outro com Helio P20 e ainda o seu concorrente, o Xiaomi Mi 5X:

Capturar

Porquanto não espero que os benchmarks traduzam tudo, é interessante que, na pontuação global, o BQ Aquaris X se comporte com mais adrenalina que os seus principais concorrentes, mesmo os lançados mais recentemente. Para mim, isto diz imenso da capacidade técnica da BQ para optimizar os seus dispositivos.

Do lado gráfico, há maiores limitações e basta uma pequena amostra de testes do GFXBench para mostrar que o Snapdragon 630 tem sim uma GPU profundamente mais evoluída. Tudo somado, no entanto, mostra como o BQ Aquaris X ainda é um produto muito válido cerca de meio ano após ter sido colocado no mercado.

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A experiência de utilização após seis meses

A constante troca de equipamentos tem em nós um efeito adverso que é uma certa falta de ligação afectiva com cada terminal. Ao mesmo tempo, um certo deslumbramento inicial desvanece-se de cada vez que um novo equipamento nos chega às mãos e parece fazer o mesmo.

Bom, seis meses depois e após uma pausa, procurei repensar de novo o BQ Aquaris X, e este não é para mim um equipamento novo cujo primeiro impacto desculpe qualquer lacuna. No entanto, parece-me tão rápido quanto inicialmente, algo que posso atribuir facilmente ao Android stock. As virtudes da abordagem da BQ são sempre as mesmas: transitar de um dispositivo para o outro é fácil e adequá-lo à nossa vontade é rápido.

Talvez mais importante, apesar do Android simples e sem bloatware, a BQ dá-nos mais capacidade de alteração das definições base para realmente termos um dispositivo mais perto do que realmente queremos que ele faça, caso da cor da luz de notificações ou a exibição ambiente que mostra notificações no ecrã desligado.

Continuo a admirar o comportamento geral do dispositivo e a sua performance em jogos. Conseguimos jogar aqui muito bem alguns jogos mais pesados com boas fps, e poderíamos bem pagar mais por este tipo de performance, não muito tempo atrás.

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Sem medo, não preciso preocupar-me com o que instalo no Aquaris.

Alguma lentidão faz-se notar na app fotográfica que demora o seu tempo a alterar a imagem no ecrã conforme modificamos os parâmetros fotográficos. É o efeito de ter já experimentado apps mais rápidas e ter as expectativas em alta, mas de facto não tenho certeza que por este preço encontre equipamentos com fotografia manual mais fluída. O ISP do Snapdragon 626 mostra aqui algumas limitações, no entanto continuo a pensar que será das melhores apps do mercado e em modo automático a reacção da câmara às mudanças das condições fotográficas é substancialmente melhor.

Continuo a considerar esta câmara uma das melhores a bordo de qualquer Aquaris, e o facto de termos aqui o mesmo IMX298 que encontramos no LG G5 mostrará bem a qualidade que a BQ quis incluir no dispositivo. As fotografias são nítidas, sem excessivo tratamento, cores vivas e bons detalhes; o Aquaris X oferece resultados.

Como um fanático de fotografia, sim, conseguiria viver contente com esta câmara e com esta app, embora existam obviamente melhores actualmente disponíveis no mercado. Não nesta gama de preço, de qualquer modo.

“A BQ promete actualizações e depois nunca cumpre. Ainda estou à espera”

A BQ sempre fincou o pé no seu compromisso com as actualizações dos seus dispositivos. Tal como muitas outras marcas, nem sempre terá cumprido exactamente aquilo a que se propôs.

Um grande problema para este estado de coisas foi a ruptura com a MediaTek em 2016, quando transitou exclusivamente para a Qualcomm. Os utilizadores dos Aquaris E ficaram aí à chuva, e é natural que se encontrem altamente chateados com a quebra da promessa. Em defesa da BQ, a MediaTek é a única que pode fornecer as chaves de acesso aos seus chips e isso é algo pelo qual se faz pagar bem, razão pela qual muitos equipamentos MediaTek não recebem simplesmente novas versões do Android. Sem a cooperação da MediaTek, a BQ não pode fazer melhor. Sobre os atrasos na gama M de 2015, a BQ tem sido peremptória quanto a continuar a trabalhar na actualização destes dispositivos que começaram no Lollipop e foram entretanto passados para o Marshmallow.

Vou então tomar o BQ Aquaris X como exemplo. O dispositivo tem recebido as suas actualizações frequentemente, com a sua disponibilidade online para instalação manual. Mais recentemente o BQ Aquaris X recebeu mesmo o Google Duo, e encontra-se actualmente com o Patch de Segurança de Agosto. Só os novos Aquaris V ou V Plus se encontram já no patch de Setembro, seguindo a Nokia de muito perto, pelo que é de esperar que o patch de segurança chegue ao X e X Pro rapidamente.

Especificamente, convém mencionar que a BQ não actualiza os seus equipamentos por lotes, mas de modo granular. Ou seja, as apps são actualizadas individualmente, e com frequência. Na mais recente actualização a câmara recebeu melhorias e o dialer também foi actualizado. Na verdade, poderei estar totalmente errado nisto, mas a câmara parece agora mais responsiva e com menos atraso entre a entrada de um parâmetro e a pré-visualização da imagem no ecrã.

Em suma, o historial de actualizações da BQ estará neste momento entre os melhores do mercado, tendo melhorado a olhos vistos face ao que terá sido em tempos não muito distantes.

“Quando é novo, é tudo bom, BQ. Mas depois…”

Até agora tudo bem. Famosas últimas palavras, certo? Bom, até agora tudo parece de facto estar OK com o equipamento, sem avarias ou gralhas. É um curto período de tempo, mas em tempo idêntico já tive equipamentos que ficaram sem ecrã, sobreaqueceram até se tornarem insuportáveis, ou deixaram simplesmente de carregar, e diversos pequenos incómodos em unidades de teste.

Bom, um exemplo mais útil será o Aquaris M4.5 que temos cá por casa e funciona sem sobressaltos há dois anos. Serei um dos sortudos como já me disseram?

Por sorte e por ocupação, a visão que possa oferecer sobre as acções da BQ será naturalmente enviesada. Tive apenas uma situação em que foi necessário recorrer aos seus serviços técnicos, e neste caso a peça avariada foi substituída, o sistema operativo actualizado e o dispositivo limpo no espaço de uma semana. O João Mateus invocava recentemente um episódio em que, face a uma avaria severa num Aquaris M5, a marca optou por substituir o equipamento por um novo de versão superior.

Não é ser blogger que me livra de azares, independentemente da boa vontade das marcas. Já tive de desistir de um equipamento de 500 Euros que falhou catastroficamente duas vezes em seis meses, apesar de toda a simpatia da marca. Já o João teve que aguentar 3 meses por um altifalante de substituição num equipamento com 1 mês por falta peças.

No entanto, a BQ fará bem em ouvir com atenção as queixas dos seus utilizadores. A relação de uma marca com os seus utilizadores é cada vez mais fundamental e tanto mais nas marcas mais pequenas que não têm o orçamento para as grandes campanhas de imagem.

Conclusão

Quando iniciei este artigo, pensei em várias questões às quais gostaria de responder. Eram perguntas que tinha visto formuladas em vários fóruns.

Num mundo da blogosfera em que mudamos constantemente de smartphone, e num mercado que se habituou à renovação de equipamentos de meio em meio ano, é tão difícil às marcas conceber equipamentos que mantenham o encanto ao fim de algum tempo de utilização, quanto lhes é manter um nível de serviço à medida que se multiplicam os dispositivos. Mais difícil é para o consumidor conseguir não se sentir tentado a comprar algo novo quando acaba de pagar um equipamento e há logo um novo.

Bom, vários colegas meus hesitariam hoje em analisar um smartphone com meio ano de mercado. Há novos, há melhores, mais modernos. Mas a realidade é algo diferente.

Meio ano após o lançamento e o meu primeiro contacto com o BQ Aquaris X, o dispositivo de algum modo mantém frescura e vitalidade na utilização quotidiana. Os seus specs continuam bem enquadrados no mercado actual e, acima de tudo, sinto que o tempo respondeu às minhas perguntas quanto ao compromisso da BQ com os seus dispositivos. A BQ criou um dispositivo completo, funcional, e manteve-o constantemente actualizado os últimos meses. Acima de tudo, é um equipamento com que gosto sumamente de trabalhar.

Bem entendo que outros possam não partilhar a minha opinião, mas esta é a minha experiência com o BQ Aquaris X e é tão pessoal quanto possível.

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