Graças à BQ, o autor ainda teve oportunidade de testar alguns dispositivos móveis com Ubuntu. No caso mais recente, a versão Ubuntu do BQ Aquaris M10, o software deveria unificar desktops e smartphones/tablets, mas parecia inacabado e algumas aplicações eram impossíveis de utilizar. O produto não será agora terminado, já que a Canonical colocou um fim na interface Unity.
Com isto, o Ubuntu para desktop reverterá para a GNOME, mas o mais importante é que, doravante, não existirá uma versão Ubuntu oficial para dispositivos móveis.
Segundo Mark Shuttleworth, a comunidade não entendeu o Ubuntu Unity como inovação, mas como fragmentação. Segundo o fundador da Canonical, o fim do projecto é, por isso, uma resposta à vontade da comunidade.
Não temos total certeza da hostilidade da comunidade à ideia da Unity, mas acreditamos piamente que, tal como Shuttleworth indica, a comunidade de fabricantes não abraçou o conceito e preferiu ficar com o já comprovado Android, ou investir em plataformas próprias, como será o caso do Tizen da Samsung.
E não podemos censurar nenhuma marca, depois do exemplo pioneiro da BQ que apostou tanto no Ubuntu, quanto no Cyanogen OS e se viu defraudada em ambas as ocasiões. Para uma marca que tem ao seu dispor um sistema operativo sólido e apoiado, sair fora dessa zona de conforto tem custos elevados que nem todos podem ou querem suportar.
E aqui tudo se resume a sustentabilidade: independentemente do apoio ou não da comunidade, sem o suporte de fabricantes de smartphones, a Unity não era sustentável ou lucrativa.
Shuttleworth não o diz claramente, mas a admissão é peremptória, quando indica que a Canonical se concentrará no Ubuntu para desktops, IoT e servidores, todas áreas onde há crescimento e receitas.
O mercado mostra mais uma vez quão difícil é competir com a hegemonia do Android. Face a esta dominância da Google, são necessários meios astronómicos para ganhar tracção e é fundamental cometer poucos erros. A Canonical não está isenta destes erros: por exemplo, uma parte substancial do software a bordo do Aquaris M10 não tinha suporte touch. O dispositivo não era, então, apetecível para utilizadores finais, mas apenas entusiastas, muitos dos quais dificilmente abandonariam o Android, e com ainda menos marcas disponíveis para apostar nos poucos entusiastas que o pudessem fazer.
Face a mais este insucesso na busca a uma alternativa viável ao Android, será que alguém tentará criar uma plataforma Linux convergente?