Esta semana ficamos a saber que, pelo segundo mês consecutivo, a Huawei ultrapassou a Apple no número de vendas mundiais de smartphones e pode agora clamar ser a segunda maior marca de equipamentos móveis no mundo.

Esta constatação é totalmente merecida e um justo resultado para os esforços da Huawei nos últimos anos, para se sobrepor a uma certa má fama das marcas Chinesas e conquistar o respeito de imprensa, instituições e consumidores. Mas por trás desta história há uma constatação estranha: a Huawei não tem qualquer equipamento entre os dez mais vendidos a nível mundial. Aliás, a listagem dos dez mais vendidos em Julho mostra uma triste história de falta de variedade, falta de opções, dados surpreendentes, e a ausência gritante das grandes marcas.

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Observemos portanto o gráfico da Counterpoint. A primeira constatação é que o iPhone 7 continua a vender cerca do dobro do primeiro Android da lista. Este dado é tão mais extraordinário quanto se percebe que estamos a meros dias de ver os novos iPhones anunciados, e isso não teve qualquer impacto nas vendas do seu antecessor.

A Apple continua a ter um poderio enorme, e parece imune ao fenómeno de quedas de vendas que afecta todas as outras marcas quando um modelo novo é apresentado.

Já a presença do iPhone 6 na lista é chocante. Este dispositivo a caminho dos 3 anos de idade vendeu marginalmente menos que o Samsung Galaxy S8 Plus e é um mistério porque é que vende tanto um equipamento que já não tem neste momento qualquer vantagem ou ponto positivo face a equipamentos Android da sua gama de preço e mesmo mais baratos. Muitos consumidores estarão ainda demasiado sedentos de produtos da Apple, dispondo-se a pagar valores premium por equipamentos obsoletos.

Entretanto, destacamos igualmente a presença de dois equipamentos da OPPO e um da Xiaomi, apontando para a predominância dos mercados Asiáticos nos números globais, já que as vendas a nível internacional da Oppo são negligenciáveis.Galaxy Note 8

Finalmente, mais do que números em bruto, a Samsung continua a ser a grande dominante no mundo Android, colocando no Top 10 quatro dos seus equipamentos: Galaxy S8, Galaxy S8 Plus, Samsung Galaxy J7 Prime e Samsung Galaxy A5 2017. Os valores são interessantes para as marcas envolvidas, em particular para a Samsung que, deste modo, poderá sentir-se menos ameaçada pela ascensão da Huawei. A marca Chinesa carece, afinal, de um dispositivo capaz de arrasar os tops de venda e se tornar um dispositivo de prestígio. É muito provável que o futuro Huawei Mate 10 ajude a mudar essa lacuna, e a Huawei está certamente no bom caminho.

O que há, portanto, de triste nesta lista (fora a constatação de que há gente a comprar equipamentos com 3 anos sem olhar à qualidade)?

Trata-se do facto de encontrarmos essencialmente quatro marcas para dez lugares, ante uma quase escandalosa ausência dos grandes nomes da indústria, como LG ou Sony. Esta hegemonia é boa notícia para a Apple, que consegue continuar a manter os seus produtos no Top 10, e compete com apenas dois ou três modelos anuais, enquanto os seus concorrentes Android se encontram forçados a debitar grandes volumes de diferentes modelos para obter uma performance minimamente concorrencial.

A diversidade de oferta será dos pontos mais apaixonantes do ecossistema Android face às opções restritas do iOS, mas significa que a Apple corta nos custos e maximiza nos lucros, enquanto as marcas Android continuam a diluir qualquer margem de lucro em demasiados modelos, espalhados por demasiados segmentos de mercado.A Huawei lança dois flagships por ano. Aqui o Huawei Mate 9.

Face a isto, a Huawei está a mudar de estratégia. Recentemente, o gigante tecnológico anunciou a sua intenção de abandonar os segmentos de entrada para se concentrar na gama alta. Por outras palavras, a Huawei quer ter menos modelos, mas melhores e mais populares modelos.

É fundamental para a saúde do ecossistema Android uma menor fragmentação, além de modelos melhor segmentados. Muitos smartphones do ecossistema são praticamente indistintos uns dos outros e é por vezes difícil para o consumidor perceber porque comprar um ou outro equipamento, ou porque existem disparidades de preço entre equipamentos com o mesmo hardware. Para as marcas, este estado de coisas significa o desperdício de recursos em equipamentos com pouco poder diferenciador e dispersão do tipo de investimento de que são capazes Samsung ou Apple para apostar forte em chegar ao modelo que realmente dominará as vendas.

Quiçá somente a Huawei tenha até agora visto a luz.

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