Húbris. “Aquele que os deuses desejam destruir, primeiro deixam-no louco”. Húbris é o desprezo que temos pelo lugar a que pertencemos, pelas regras pré-estabelecidas, levando-nos a desafiá-las para lá do limite, mesmo desafiando os próprios deuses. A existência do Vivo X80 Pro é puro húbris, pura loucura ambiciosa, e o deus desafiado é o Samsung Galaxy S22 Ultra, para muitos “O” smartphone, o expoente máximo da tecnologia mobile e um topo de gama sem restrições.
O domínio deste terminal é tal, que seria quase impensável que alguém se atrevesse a colocar algo sequer a 1Km do seu território. O Galaxy S22 Ultra fascina tanto os fãs de tecnologia, como intimida os concorrentes. Olhando para aquele leão, as marcas concorrentes parecem algo tímidas em tentar ir contra ele ponto por ponto, especificação por especificação, Euro por Euro. “Deixá-lo estar”, parecem dizer, “nós temos outros territórios de caça ao dispor”. Afinal, o castigo para o húbris é a destruição à mão dos deuses.
E de repente, de modo inesperado, pumba: €1299 pelo Vivo X80 Pro. Todos os peritos da área são perentórios em dizer que este preço, tão perto do Galaxy S22 Ultra é perigoso, é uma loucura, é um enorme risco.
Mas: não. Se. Ganha. Sem. Arriscar.
Afinal, a sorte favorece os audazes.
E quem ganha é o consumidor.
Como se atreve a Vivo? Quem é que a Vivo pensa que é?
Estamos numa era de preços inflacionados. Poucos anos atrás, um telemóvel de topo custava-nos €800 e saíamos escandalizados da loja. Hoje, por €800 compramos um equipamento razoável. Em anos recentes, iPhone e Samsung, por outro lado, habituaram-nos a colocar em cima da mesa equipamentos que rotineiramente ultrapassam os mil paus. A Vivo, por outro lado, ainda não nos habituou a nada. A marca chega a Portugal no início deste ano e tem já presença em várias operadoras, além de acordos ao nível do retalho, mas temos de ser honestos e dizer que, para muitos, não é um nome muito conhecido.
Tudo isto é verdade, e nada disto é totalmente importante. Embora na Europa a Vivo seja ainda um nome emergente, é muito bem conhecida por qualquer entusiasta de tecnologia porque, sejamos honestos: longe vão os tempos em que a Europa era o mercado onde se faziam os grandes smartphones. Nos mercados que geralmente servem de catapulta tecnológica, como o Chinês, a Vivo é um poderoso nome.
Se na era de hegemonia da Huawei, a Vivo era o putativo segundo classificado, com a queda da Huawei, tornou-se o número 1 em smartphones vendidos no mercado Chinês, com 18.3 milhões de equipamentos. A nível mundial, a Vivo ocupava no primeiro trimestre de 2022 a 5ª posição, quase empatada com a Oppo, e atrás de Samsung, Apple, Xiaomi, com um total de 24.8 milhões de equipamentos vendidos.
Então, o nosso certo desconhecimento da Vivo não reflete o mundo ou o mercado. Reflete, se tanto, a decadência da dominância tecnológica Europeia, com o continente a tornar-se agora – finalmente – novamente interessante para marcas de renome. E essa é a questão: o atrevimento da Vivo ao lançar na Europa o X80 Pro reflete precisamente o dinamismo do nosso mercado, e o elevado interesse que desperta. O Vivo X80 Pro, é uma elevada forma de lisonja aos utilizadores de tecnologia Europeus.
€1299 por um… quê?
Muitos de nós não conhecem a Vivo. É justo. Mas, longe vão os tempos em que uma marca desconhecida significava automaticamente componentes estranhos. Hoje em dia, com cadeias de fornecimento e fabrico perfeitamente hegemónicas, qualquer marca vai buscar os componentes à mesma linha de montagem de todas as outras. O que varia, depois, são alterações de detalhe em que uma marca pode usar um algoritmo diferente para gerir uma fotografia, uma bateria, ou um tubo de vapor maior ou menor para controlar a temperatura do telemóvel.
Portanto, €1299 trazem-nos efetivamente uma longa lista do melhor hardware disponível no mercado, oferecendo o máximo possível num conjunto de categorias importantes.
Assim, para o ecrã, temos uma impressionante (e digo mesmo “impressionante”) unidade OLED de 6.8″ de resolução QHD+ (3200×1440) com taxa de atualização variável máxima de 120Hz. O ecrã disponibiliza tecnologia HDR e exibe cores exatas, graças à sua cobertura do espectro DCI-P3. Na análise altamente técnica do DisplayMate, o ecrã do Vivo X80 Pro detém ou iguala 15 recordes de desempenho de ecrãs de smartphones, sendo o smartphone com cores mais exatas, menores desvios de cor, maior gama de contraste, etc. E juntam-se a este ecrã dois altifalantes estéreo muito bons, tanto em detalhe quanto em volume, capacitando o Vivo X80 Pro como um smartphone para consumo de multimédia difícil de igualar.
Mas, será para os mais absolutos aficionados da fotografia que o Vivo X80 Pro foi lançado com um conjunto de argumentos muito particulares: por um lado, estreia o Samsung ISOCELL GNV de 50MP, por outro lado houve claramente um esforço enorme por parte da Vivo e Zeiss em munirem o telemóvel de uma filosofia de imagem purista e de elevada qualidade, sem esquecer o chip V1+. São pontos que detalhei já nas nossas páginas, sendo o sumo que uma das coisas mais importantes num smartphone de gama alta é não ser igual a todos os outros, o que o Vivo X80 Pro faz exemplarmente. Certamente para a Zeiss, a marca valia o risco de expor o seu nome num smartphone para criar valor acrescentado.
Antes de passar para o exterior, relembro que a bateria de 4700mAh é muito conveniente, com carregamento de 80W com fios ou 50W sem fios. O primeiro não será o mais alto que encontramos no mercado, mas o segundo está lá no topo e o facto de se encontrarem relativamente perto em performance é de louvar, já que plenamente justifica a opção pelo wireless.
Exterior então? Não há dúvidas de que temos em mãos um equipamento da gama alta. Não é apenas o arrojo do enorme módulo fotográfico que mostra a altivez do terminal, mas todo o acabamento geral dos componentes é de elevada qualidade, com bons remates e integração. A certificação IP68 é obrigatória neste segmento e está presente.
O que mais poderíamos querer? Um nome diferente no telemóvel?
Afinal qual é o melhor?
Determinar qual o melhor equipamento nunca foi o objetivo. Se pretendiam sair daqui com uma indicação disso, vão ficar desiludidos. Se eu escrevesse estas linhas com a intenção de vos dar essa resposta, estaria a prestar-vos um mau serviço.
O Samsung Galaxy S22 Ultra é um smartphone estupidamente dominador. Não há grandes falhas que lhe possamos apontar, por mais que tentemos. Sobre o Vivo, tem certamente a vantagem de incluir a S Pen, com todo o potencial que esta tem. Inversamente, o Vivo inclui um Snapdragon que será, para muitos, imediatamente superior ao Exynos do Galaxy S22 Ultra Europeu.
No restante, os dois equipamentos são suficientemente semelhantes para não existir um claro vencedor. Evidentemente, o Galaxy conta com uma câmara de maior resolução, mas nas restantes a vantagem parece ir para o Vivo, que acrescenta a estabilização Gimbal de capacidades técnicas únicas no mercado. Não tenho qualquer dúvida que este é o smartphone fotográfico a comprar no mercado Europeu. A sua bateria é algo mais curta, mas vai carregar muito mais depressa.
E a questão é precisamente essa. De um lado, no canto azul, o chaebol Coreano onde cada filho pródigo é o putativo melhor do mercado. Do outro lado, no canto vermelho, a upstart vinda da China, que de uma só jogada mostra estar ao nível dos melhores. Será uma vitória por KO, ou um empate técnico?
Samsung Galaxy S22 Ultra | Vivo X80 Pro | |
Processador | Exynos 2200 | Snapdragon 8 Gen 1 |
Memória e armazenamento | 12/256GB | 12/256GB |
Dimensões e peso | 163,3 x 77,9 x 8,9; 228g | 164,57 x 75,3 x 9,1 mm; 219 g |
Câmaras principais | 108MP + 12MP + 10MP + 10MP | 50MP + 48MP + 12MP + 8MP |
Câmara frontal | 40MP | 48MP |
Bateria | 5000mAh | 4700mAh |
Carregamento | 45W | 80W |
Carregamento sem fios | 15W | 50W |
Ecrã | Dynamic AMOLED 2X 6.8″, 120Hz, HDR10+, 1750 nits, 3088×1440 | LTPO3 AMOLED 6.78″, 1B colors, 120Hz, HDR10+, 1500 nits , 3200×1440 |
Apostem na loucura
Do que seria a Humanidade e todas as grandes ideias do passado, presente e futuro, sem alguma boa dose de loucura? Para alguns, o Vivo X80 Pro deveria custar simplesmente menos, já que pertence a uma marca menos conhecida. Muitos concordarão, mas será “pagar a marca” uma opção inteligente? Qual o custo-benefício disso?
É certo que muitos olharão para os dois telemóveis e agarrarão o Samsung pelo reconhecimento da marca, e não ficam nada menos, nada mais, do que extremamente bem servidos.
Mas se esse for o vosso fator de decisão, é uma pena, porque com o Vivo X80 Pro arriscam algo diferente, um tempero novo com argumentos com muito esforço, empenho e sabedoria por trás. Para o público-alvo certo, o Vivo X80 Pro tem o cunho ara ser o smartphone de uma vida, aquele terminal que um dia deixaremos para trás, mas nunca por vontade própria.
A Vivo poderia ter-se deixado ficar no seu canto, sossegada, segura. Mas o que seria o mundo sem algum húbris? O que seria se todas as marcas olhassem para um S22 Ultra e pensassem “nem sequer vou tentar”? O mercado seria francamente mais entediante. O Samsung Galaxy S22 Ultra tem, por trás, todo o peso e garantias que o historial da Samsung nos dá, enquanto a Vivo ainda precisa desse historial por cá, mas isso não é razão para passarmos ao lado do X80 Pro pura e simplesmente.
A Vivo não desafiou o status quo de ânimo leve, nem tomou atalhos para fazer deste telemóvel um flagship “a fingir”: Vivo X80 Pro é um topo de gama puro e duro. A última coisa que pagamos é a marca e isso é refrescante, e talvez o inteligente a fazer. Se isto fará do Vivo X80 Pro o smartphone do ano, veremos, mas celebre-se o desplante da Vivo, a sua incapacidade de se limitar ao seu espaço sem tentar ir mais longe, e não se assuma por uma vez que o vencedor é sempre o mesmo. O Vivo X80 Pro tem todo o potencial para desafiar convicções, por isso não o ignorem só porque. Apostem na loucura.