Kenichi Yamamoto e Toyo Kogyo.
Muitos de vós poderão não se lembrar ou saber de que personalidade e marca estamos a falar, mas não poderíamos deixar de fazer a nossa homenagem a um dos homens que eternizou e tornou comercialmente viável o motor a combustão rotativo inventado pelo engenheiro alemão Felix Wankel, em 1924.
Estamos nos complicados anos pós-guerra (Segunda Grande Guerra Mundial), altura de repensar, reconstruir e iniciar uma nova era. Kenichi Yamamoto começou a sua carreira como engenheiro mecânico nesta época, na Toyo Kogyo, conhecida desde 1984 por Mazda, em Hiroshima, mas cedo passou para o departamento de design de motores, o que catalisou a sua escalada para gestão.
Uma década e meia passou, e, devido à sua paixão e intensidade com que respirava, vivia e trabalhava no mundo automóvel, foi-lhe confiado um novo projecto: supervisionar e gerir um grupo de engenheiros que estavam incumbidos de aperfeiçoar, para motivos comerciais, o motor rotativo inventado por Wankel. Como alternativa aos motores convencionais de pistão, este motor seria pensado como uma mais valia, uma vez que tinha significativamente menos partes móveis e o seu tamanho era bastante compacto e leve, o que são duas premissas que todos os fabricantes de automóveis ainda hoje perseguem, na concepção dos seus motores.
Assim, e por ser uma ideia e conceito alternativos a todos os outros fabricantes, a Mazda, marca independente, tal como nos dias de hoje, enveredou pelo caminho da diferença, por forma a distanciar-se das grandes marcas da altura, que trabalhavam arduamente em melhoramentos para o motor tradicional, conseguiu desenvolver um motor rotativo viável, que, dois anos mais tarde, tomou a forma do apaixonante coupé Cosmo, mostrado pela primeira vez em 1963, no Tokyo Motor Show.
Propenciado pelo grande boom e época de “vacas gordas” da década de 1960, os motores rotativos deixaram, praticamente após o T.M.S., de ser considerados uma curiosidade para passar a ser uma alternativa aos motores comuns, sendo considerados, por muitos, como apaixonantes e fiáveis. Contudo, tinham um grande problema que, na década seguinte (1973), devido à grande crise petrolífera, quase deixaria o projecto (e a própria Mazda) em falência técnica: os consumos desenfreados que fazia.
Este era um problema com consequências nefastas para um fabricante independente que se tinha dedicado de corpo e alma a um peojecto inovador. Tinham que ser encontradas alternativas e/ou adaptações por forma a conseguir colmatar esta falha de um tipo de motor considerado, até então, como brilhante. Nas palavras do próprio, “Não podíamos abandonar um projecto que iniciámos sozinhos. Todos saberiam que o projecto alternativo que começámos não era viável e, como tal, nunca mais seríamos levados a sério para suceder em algo. Mesmo em motores convencionais de pistão”, in The New York Times.
Assim sendo, em 1974, Kenichi tornou-se o líder de projecto para encontrar as inovações necessárias para melhorar os consumos dos motores Wankel, e assim salvá-los (como à própria Mazda). A reformulação aconteceu, mesmo, não muito tempo depois, e os consumos desenfrados dos motores rotativos baixaram para níveis mais próximos do que seria expectável de um motor a combustão, naquele tempo. Como consequências imediatas, um novo coupé com motor rotativo de alta performance foi lançado em 1978, tornando-se um símbolo para o mundo e para a própria Mazda: o RX-7.
Neste mesmo ano, e enquanto líder das equipas de Pesquisa & Desenvolvimento, Kenichi era conhecido por ouvir críticas e/ou sugestões como forma de aprimorar a evolução dos seus produtos, com ou sem recurso a motores rotativos, já que a Mazda continuou a fabricar motores tradicionais. Assim, ouviu uma ideia de um jornalista (Bob Hall), que sugeria que a Mazda poderia construir um roadster de dois lugares simples, barato e leve, bem ao estilo do que alguns fabricantes ingleses sabiam fazer, mas, ao mesmo tempo, fiável. Este projecto só seguiu em frente três anos após a sugestão, e apenas começou os testes a meio da década de 1980, mas, com avanços e recuos, em 1989, nasce outro grande marco da indústria automóvel: o Mazda MX-5.
O último grande projecto com motor Wankel no qual Kenichi esteve envolvido foi o Mazda RX-8, um desportivo de quatro portas e quatro lugares, sucessor do Mazda RX-7, o qual esteve dez anos em produção, só parando devido aos elevados custos do mercado cambial, assim como às cada vez mais apertadas normas e políticas de Dióxido de Carbono.
Kenichi Yamamoto nasceu no Japão a 16 de Setembro de 1922, na região de Kumamoto, na olha de Kyushu. Mudou-se, mais tarde, para Hiroshima, onde a Mazda tem, historicamente, a sua sede. Obteve o diploma na Universidade Imperial de Tokyo em Engenharia mecânica, e esteve empregado na Toyo Kogyo (Mazda) desde o período pós-guerra. Além disto, Kenichi esteve ao serviço da Marinha Japonesa.
Faleceu no passado mês de Dezembro de 2017, na mesma região onde nasceu, aos 1995 anos. Deixou, para trás, um legado incontornável e um respeito enorme na história automóvel.
Até sempre e obrigado, Kenichi Yamamoto!