Caro João Pedro Matos Fernandes, esta semana tem sido marcada pelas suas declarações em torno dos carros a diesel. Segundo as suas afirmações, um carro a diesel valerá menos dentro de 5 anos. Todos sabem que um carro depois de comprado desvaloriza, isso é certo. E se formos avaliar por aí, tem toda a razão. Mas não, a sua afirmação é no sentido de assustar os portugueses na compra de carros a diesel, e quiçá, até mesmo a gasolina. Eu sei que só se refere ao diesel, mas não tardará muito até começar a falar nos carros a gasolina. Eu sei.
Parece-me uma tentativa interessante de mexer no mercado automóvel. Pôr o português a trocar de carro. Despachar o diesel, comprar um carro a gasolina. Daqui a um aninho ou dois, o governo volta a assustar os portugueses, e troca tudo de carro de novo. Afinal de contas, trocar para carro a gasolina, são mais uns quantos euros em impostos que entram durante algum tempo. É que o equivalente a diesel que gasta 5 litros, a gasolina gasta uns 7 litros. Feitas as contas, os cofres acabam por engordar. Acresce a isso o IVA de nova aquisição de veículo. Depois daqui a uns aninhos, mais umas declarações e o português troca de novo de carro, desta vez para os tão famosos eléctricos. Mais umas transações, mais uns impostos. Pelo meio, ainda fica bem na fotografia, por preocupar-se muito com o meio ambiente. Percebo senhor ministro, tudo em prol do ambiente e da economia, claro.
Mas caro João Pedro Matos Fernandes, não se pode esquecer que os portugueses acabaram de sair de uma crise (isto se alguma vez saíram). E apesar do governo actual não o assumir, está a entrar noutra crise. Sim, não tentem esconder mais, porque os sinais estão aí. E as suas afirmações, são irresponsáveis na medida que irão fazer muita gente trocar de carro só porque sim. Com medo de perder dinheiro, adquirindo viaturas mais caras, novos empréstimos e mais endividamento. Eu sei, não está a obrigar ninguém, mas com certeza que sabe das forças das suas palavras.
Mas vamos até ignorar que poderá estar aqui uma transição para um carro a gasolina, vamos avaliar apenas uma transição directa para carro eléctrico, aquele que tanto gosta. Nem assim, as suas declarações parecem sequer bem pensadas ou ponderadas. Nem por si, nem por alguém que aos dias de hoje diga que a mobilidade eléctrica é a solução para todos os Portugueses. Alguns sim, estão preparados, mas a maioria dos Portugueses não tem a mínima condição senhor ministro. E com afirmações dessas, senhor ministro, pode estar a levar portugueses a fazer uma escolha errada, que poderá comprometer seriamente a forma como irão conseguir lidar com a próxima crise que aí vem. Sim, não vale a pena negar.
A compra de um carro eléctrico, senhor ministro, está envolta em valores extremamente elevados quando comparados com outras viaturas, sejam elas a gasolina ou a gasóleo. Sim senhor ministro, não caia no erro de algumas pessoas. Compare modelos iguais, gamas iguais. 30.000€ por um carro eléctrico que poderá custar 15.000€ (valores aproximados claro) se for de combustão. Ainda acha que é vantajoso a nível económico senhor ministro? Sim, eu sei que fala na dedução do IVA nas empresas. O que o senhor ministro não deve saber, é que a maior parte dos portugueses não têm empresa. Sim, antigamente tinham o carro que as empresas lhes davam, mas o senhor ministro deve saber que com toda a história da crise que houve, mais a suposta recuperação que já irá dar em nova crise (sim, não o negue), as empresas deixaram de o fazer. Sabe disso não sabe?
Em relação aos carregamentos. Diz-nos que deveremos carregar os carros em casa. Quem não pode carregar em casa, deverá carregar na rua ou no trabalho. Caro João Pedro Matos Fernandes, eu sei que é difícil perceber o dia a dia dos portugueses e a realidade que está em torno deles. Mas garanto-lhe que é muito diferente daquela com que vive. Porque o que diz é utópico! É impossível!
Por partes, e começando pelo primeiro: carregar em casa! Senhor ministro, sabe que a maior parte dos portugueses vive em grandes aglomerados urbanos, em prédios sem garagem? E sabe também que, mesmo que tenha uma garagem (e mesmo assim já é um luxo), as famílias portuguesas são obrigadas a ter dois carros? Sim obrigadas, porque a rede de transportes é insuficiente, nunca cumpre horários nem chega aos pontos necessários. Se calhar, em vez de lançar o alarmismo sobre o transporte pessoal, o ministro do ambiente deveria estar a trabalhar com o governo numa rede de transportes eficiente e realmente útil. Que não esteja parada, que não sofra atrasos. Sabia que iria tirar centenas de milhares de carros das estradas portuguesas senhor ministro? Isso sim, era ajudar o ambiente. O ambiente e os portugueses. E a cereja no topo do bolo, era electrificar toda a rede de transportes públicos rodoviária. Ou será que comprar autocarros eléctricos é menos viável que comprar os actuais a diesel? São muitas despesas não é senhor ministro? Eu compreendo, há que ir pelo caminho mais fácil!
Mas pronto, o senhor ministro estava acautelado para a situação de não ser possível carregar em casa. Diz mesmo que quem não o pode fazer, terá que fazer na rua. Ora, o senhor ministro não deve conhecer a péssima rede de carregamentos existente. Para além de inútil actualmente (será que 50% dos postos estão funcionais?), mesmo quando estiver toda ligada será insuficiente. Mesmo para os que já têm carro eléctrico e que até podem carregar em casa. Senhor ministro, conhece mesmo a rede de carregamentos que temos em Portugal?
E já agora, parece que também não conhece as regras desses postos. Sabe que não pode deixar o seu carro ligado ao posto de carregamento, isto depois de já estar carregado? É uma regra de bom-senso, para libertar o posto para o que estiver a seguir para carregar, faz sentido. Ora então senhor ministro, faça lá um exercício simples comigo. Mas para isso, terá que se colocar na pele de um Português. Vamos lá a isso! Chega a casa perto das 8 da noite, depois de um dia de trabalho, em que saiu de casa às 8 da manhã. Tem que colocar o carro a carregar. Liga-o num posto de carregamento público, e vai para casa descansado da vida. O carro irá demorar cerca de 6/7 horas a carregar nesse posto público (é o normal senhor ministro). Vai jantar, deita os seus filhos (não sei se tem, mas supomos isso), e vai descansar. Afinal de contas tem que acordar às 7 da manhã de novo, para sair de casa às 8. Ainda assim, põe o despertador para sair de casa por volta das duas ou três da manhã para ir desligar o carro do posto, que já está carregado. Mas não vai logo para casa, porque tem que procurar um lugar na sua zona urbana, sobre-lotada, sem lugares de estacionamento. Tem que deixar o carro longe de casa, para depois voltar a ir para a cama e dormir mais um pouco. Agora acrescente sobre isto um dia de inverno e de chuva. É isto que faz com o seu carro eléctrico que foi até Coimbra, correcto?
E caso não saiba senhor ministro, aqueles que já têm carro eléctrico não andam muito satisfeitos com pessoas que não acordem com o despertador. Isto porque, lá está, a rede de carregamentos é rídicula. Deixe lá o carro carregado por mais de 15/30 minutos, e tem a fotografia da sua viatura, com matrícula, partilhada nas redes sociais e com uns quantos nomes relacionados, isto na melhor das hipóteses. Na pior? Tem isso tudo, mais o carro rebocado pela polícia municipal e uma bela multa por ocupação indevida do posto de carregamento. Não se atreva a adormecer senhor ministro, tudo em prol do ambiente!
Sim, eu sei o que vai dizer: então carregue no trabalho. Mas senhor ministro, lamento muito informá-lo, mas a maior parte dos portugueses não trabalha em empresas onde tenha lugar para deixar o carro. Quanto mais para o pôr à carga. Sabia disso senhor ministro? Sabia que a maior parte das empresas só dá lugar aos administradores das mesmas? Sabia que essas regalias é apenas para aqueles que estão no topo? Eu sei que o senhor ministro está lá. Mas caro João Pedro Matos Fernandes, tem que perceber que nem todos têm essa possibilidade, ou a sua possiblidade. São raros os que estão ao seu nível senhor ministro.
Mas já que fala tanto no exemplo dos outros, senhor ministro, porque não fala das várias notícias que têm vindo a surgir mas que depressa são “abafadas”. Sabia que o Japão percebeu que a melhor forma de cumprir com o acordo de Paris é voltando aos carros a diesel? Sabia senhor ministro que o Japão quer subir a sua cota de carros a diesel em prol do ambiente? É que eles não se deixam embarcar em estudos feitos antes dos novos filtros de partículas. E como diz, e bem, não podemos ficar parados, é necessário ver as evoluções! Mas o senhor ministro, e muitos outros, estão a ir atrás de interesses económicos. Será que também não é capaz de ver que, entre dois motores recentes, gasolina e diesel, o motor diesel tem menos emissões de gases de estufa, as que realmente estão a contribuir para o aquecimento global? Vamos lá senhor ministro, como explica que em 4 anos as emissões de CO2 tenham sido sempre a descer, mas desde que começaram com o histórico ataque ao diesel, as emissões tenham disparado? Será que o pode justificar?
Mas voltando às suas declarações, senhor ministro do ambiente. Tem noção de que em vez de contribuir para um melhor ambiente, o senhor está a contribuir para um ainda pior? Acha que não? Vamos então fazer um simples raciocínio senhor ministro. Se está a dizer que os carros a diesel vão desvalorizar, quem estiver a pensar comprar um agora, não o irá fazer. Ao comprar um carro a diesel, provavelmente seria para trocar um outro a diesel muito mais poluente. Ou até mesmo um carro a gasolina ainda mais poluente. Sim eles existem senhor ministro. Mas não, essa pessoa não vai trocar! Irá manter o seu carro a gasóleo, sem filtro de partículas e sem as mais recentes normas que contribuem para uma redução na poluição. E não, não vai trocar por um carro eléctrico senhor ministro! Mentalize-se de uma coisa: são caros para a maior parte dos portugueses, a maior parte dos portugueses não tem condições para os comprar e a rede de carregamento não funciona.
Caro João Pedro Matos Fernandes, enquanto ministro tem várias obrigações, sendo que, uma delas, é ter noção da sociedade portuguesa e de conhecer o povo português! Mas pelos vistos, demonstra um total desconhecimento do povo português. Não sabe as condições do dia a dia do povo que governa: não sabe as suas condições habitacionais, não sabe as suas condições económicas. Mais grave ainda, como ministro do ambiente, tem declarações que podem prejudicar os portugueses a nível económico ao afectar a industria automóvel (que certamente irá deixar de vender), ao levar alguns para créditos difíceis de pagar quando temos nova crise a caminho, afectando também o próprio meio ambiente devido à não renovação do parque automóvel.
Para finalizar senhor ministro, gostaria apenas de o convidar a fazer melhor as contas. É que os carros eléctricos também desvalorizam, e muito. Com a agravante de, quando tiverem que trocar de baterias, estas custarem mais de 1/3 do valor do carro (em média). Noutros casos, pode mesmo chegar ao valor que o carro vale. Por isso senhor ministro, as pessoas serão obrigadas a comprar um novo carro, deitando o antigo fora. Caro João Pedro Matos Fernandes, uma boa medida ambiental não é?
Por situações menos gravosas, há pessoas a serem despedidas. Mas com estas declarações, acredito que tenha o seu lugar totalmente garantido, afinal fica bem na fotografia que é o que importa. Tudo o resto, principalmente os portugueses, logo se vê! Parabéns senhor ministro, parabéns!
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o que o ministro e o governo queriam era que o zé começasse a comprar carros a gasolina e assim aumentar os lucros em impostos