Ontem passei pela BMW para trazer aquele que é o primeiro carro eléctrico que conduzo: o BMW i3. Sendo eu um acérrimo defensor desta tecnologia – apesar dos contras já conhecidos – meti-me no carro e resolvi desafiar o mundo da incerteza, aquele em que não sabemos se temos bateria ou não para chegar ao nosso destino. Mas com uma rede de postos de carregamento tão boa como a da Mobi.e, o que é que poderia correr mal? Pois bem … tudo.
Primeiro que tudo, a autonomia dos carros eléctricos, mesmo sendo limitada, já permite fazer uns bons quilómetros sem andar sempre de coração nas mãos. E a primeira impressão na condução do i3, foi mesmo essa: medo de ficar a meio caminho devido à falta de autonomia. Afinal, fui buscá-lo, ainda tinha que passar no escritório e só depois iria para casa. Mas se ao final de 50km feitos, ainda tinha 140km de autonomia, então não tinha que ter qualquer tipo de preocupação.
Sexta feira à noite e o habitual café com amigos tem que acontecer. Leva-se o carro a gasóleo que está parado na garagem, ou levamos o carro eléctrico? Sem medos, tem tudo para correr bem, e por isso mesmo vamos levar o carro eléctrico. É neste momento que começa a real aventura.
O ponto de partida para esta aventura, foi consultar o site da Mobi.e para tentar perceber qual o melhor local para ir beber um café enquanto deixava o carro a carregar, porque iria precisar de bateria (e bastante) para o dia a seguir. Mais uma vez sem medo, a escolha recai a uns quantos quilómetros de distância, encarando assim o desafio com total confiança. Estando eu em Sintra, o destino escolhido é Cascais. Afinal de contas, estão lá uns quantos postos de carregamento e todos eles dizem que estão disponíveis.
Para quem não sabe, o processo de carregamento nos postos Mobi.e (uma grande rede de postos de carregamento para carros eléctricos), é um processo muito simples. Primeiro que tudo podemos verificar sobre o estado de funcionamento do terminal de carregamento: se a luz estiver verde, está disponível para carregar, se a luz estiver a vermelho então teremos que procurar outra solução. Depois disso, é só encostar o nosso cartão RFID, introduzir o código na máquina, ligar o cabo ao carro e voilá, temos as nossas baterias a carregar. Ou pelo menos deveria ser assim tão simples.
Chegado ao primeiro posto de Cascais, assinalado como estando funcional (a tal luzinha verde), começa o ritual. Primeiro tirar o cabo, ligar o mesmo ao carro. Passar o cartão no leitor RFID do posto e esperar pelo pedido do código PIN. Esse pedido não chega.
Depois de ler várias vezes sobre esta rede e os problemas que toda a gente já tinha tido, optei por entrar em contacto directamente com a linha de assistência 24H. Após algumas questões sobre o posto de carregamento, e sobre qual o processo que estava a ser feito, chegou a tão temida resposta: “Esse posto não está funcional e não será possível fazer aí o carregamento”. Ok, não é o fim do mundo, as avarias acontecem e existem mais postos de carregamento na zona.
Perguntei qual era o posto que se encontrava disponível na zona, já que a rede Mobi.e é monitorizada em tempo real e remotamente. O operador, sempre muito simpático e disponível para ajudar, lá me indicou que seria algures na Boca do Inferno. Bom, não é assim tão longe, e dado que nesta odisseia há outro carro (dependente de petróleo) com dois lugares vazios, o BMW i3 fica a carregar enquanto eu apanho boleia para o centro da vila, para beber uma bastante desejada bebida quente, devido à noite fria e chuvosa.
Mais uns quantos quilómetros e estou na Boca do Inferno. Várias passagens pelo local, mas nem sinal de vida dos postos de carregamento, nem sequer qualquer sinalização. Uma outra passagem mais atenta, lá se identifica o posto mas, este encontra-se rodeado de obras. Supostamente deveriam ser dois pontos de carga, pela informação do assistente da Mobi.e, mas apenas um estava lá montado e com um buraco enorme em toda a volta. Mas se o operador diz que a rede lhe indica que o ponto de carregamento está a funcionar, porque não tentar? Resultado: mais uma perda de tempo, mais um posto que não se encontrava em funcionamento (este até estava mesmo desligado, apesar de na rede dizer que estava ligado) e menos um pouco de bateria. Não é o fim do mundo, nova chamada para o número de assistência da Mobi.e e mais uma vez a tentativa de perceber se havia forma de pôr o posto a funcionar remotamente (resposta essa que foi negativa) e qual o posto Mobi.e mais próximo. Pois bem, o ponto mais próximo seria em São João do Estoril, junto da estação, onde até estaria um carro a carregar na altura.
Começa mais uma viagem, até esse ponto Mobi.e para carregamento. Pelo caminho, é identificado outro posto de carregamento Mobi.e, no parque de Cascais. Luz verde que indica que está disponível para carregamento e até era capaz de ler o cartão? Maravilhoso, este escapou à rede Mobi.e mas vou poder carregar o meu carro. Mais uma vez, não passou de uma simples ilusão e, a verdade, é que o carregamento mais uma vez não aconteceu. Simplesmente o posto não dava qualquer corrente ao veiculo.
Neste momento já só tenho 68% de bateria. Mas não desisto facilmente e afinal de contas, tenho mesmo de pôr o carro à carga, porque vou fazer uma série de quilómetros no dia a seguir e a bateria vai ser mesmo necessária.
Começa então a viagem até São Pedro do Estoril, de forma a que consiga pôr o carro em carga, naquele que parece ser o único posto Mobi.e em funcionamento, numa área bastante grande. Mas espera! Não sei se foi uma ilusão, tal como o avistamento de um oásis no meio de um deserto, mas ali junto do Casino do Estoril estão vários postos de carregamento e todos eles disponíveis. Dá-se a volta na marginal, volta-se para trás. Pára-se no posto de carregamento. Começa o ritual todo, afinal o posto até tem o ecrã ligado (onde inserimos o pin) e tem a luz indicadora que permite carregamentos. Liga-se o cabo ao carro, passa-se o cartão no leitor e ele pede o PIN. Desta vez vai correr bem! Depois de indicar qual o posto de carregamento que queria usar, surge finalmente a solicitação de ligar o carro ao posto. Ligação feita, indicação de carregamento em curso e cabo trancado tanto no carro como no posto de carregamento. Melhor indicação de que está a ocorrer um carregamento era impossível. Fecha-se o carro, vai-se com os amigos dar uma volta ao Casino, beber uma bebida quente nos arredores e comer qualquer coisa (já vos disse que estava frio e de chuva certo?) para enganar o estômago e para aliviar o mau estar com a rede Mobi.e. Afinal de contas, carro a carregar e amigos, estava tudo bem de novo.
Duas horas e meia depois, volto ao carro. Estranho a falta de indicador de carga no BMW i3. Estranho também o posto estar com a luz vermelha. Mas não há-de ser nada! Entro no carro e carregou … 0.5%. Mais uma chamada para a rede Mobi.e e a resposta que me dão é de que “Ainda está a carregar o veículo”, isto quando eu já tenho os cabos desligados no chão. Segue-se uma longa conversa, seguem-se vários testes. O posto Mobi.e apenas carrega o meu i3 durante uns míseros 3/4 minutos e depois desliga-se. “Deve ser um problema com o veículo”, diz-me o senhor que está a dar apoio do outro lado do telefone. Não me contento com isso. Afinal de contas o carro é “novo” com 4.000kms, foi-me dado pela BMW totalmente carregado e agora está com problemas de carregamento? Ainda tenho bateria suficiente para muitos quilómetros, mas não para aqueles que preciso de fazer amanhã. Tenho mesmo de carregar o carro e não desisto.
Próxima paragem é em Sintra, mais precisamente em São Pedro de Sintra. O próprio BMW i3 assume que há lá um posto de carregamento e que está disponível. Começa de novo o ritual, mas desta vez é o BMW i3 que se queixa: potência insuficiente na rede. “@#$&($ mas será tão difícil carregar um carro em Portugal?”.
Última tentativa, para perceber se realmente o problema é do carro para reportar à BMW (o que, mesmo depois de várias tentativas falhadas, duvido muito), ou se o problema é da rede não funcional da Mobi.e. Próxima paragem é também em Sintra, são 3.30 da manhã e estou na Volta do Duche. Inicia-se o ritual de carregamento do i3. Carro ligado ao posto, carregamento inicia. Passa-se meia hora e o carro continua a carregar, finalmente! Mas são 4 da manhã e é hora de ir dormir que amanhã tenho de acordar cedo. Mas são cerca de 100km que tenho que fazer de carro e vou ter que os fazer dependente de petróleo porque … a rede de carregamento Mobi.e simplesmente não funciona em Portugal.
Resumindo, para além de ser necessário melhorar muito a tecnologia dos carros eléctricos, com um aumento da autonomia, assim como a redução do custo das baterias (vamos falar disso mais tarde), a verdade é que a rede de carregamentos é simplesmente vergonhosa em Portugal, e muito por culpa da má manutenção feita pela Mobi.e.
Já agora, convém realçar que o posto de carregamento que funcionou – o único – está batido e meio tombado, tal como é possível ver nas fotografias acima.
Amigo, comprei em 22ABR2016 uma Volvo V60 PHEV e ainda não consegui, uma vez que fosse, carregar a ‘porra’ do carro na Mobi.e… só a consigo carregar em casa e no trabalho através de uma tomada 220 V normal… SEM PALAVRAS!!!
Caro João, por princípio também sou, ou gostaria de ser defensor dos carros eléctricos. Como gestor de frotas, já tive oportunidade de experimentar várias opções, tendo ficado positivamente surpreendido pela sua performance e conforto em cidade, mas na realidade existem ainda bastantes entraves quanto à adopção por este tipo de motorização tanto por particulares como por empresas:
-Preços elevados
-Autonomia anunciada muito baixa na maioria dos modelos em comercialização, agravado da incerteza quanto à efectiva duração das baterias no médio prazo, com consequências na previsão do respectivo valor residual
-Custo de substituição de baterias elevado
-TCO elevado, mesmo apesar do custo de carregamento poder ser inferior, por exemplo ao gasóleo
-Tempo de carregamento/rede
[…] Mas já que estamos a falar de baterias, vamos falar de autonomia. E aqui o i3 tem comportamentos completamente diferentes consoante o tipo de condução. A versão que tive oportunidade de conduzir, quando totalmente carregado, anuncia uma autonomia de 194Km. No entanto, posso garantir que tanto fiz mais que isso, como também fiz muito menos. O primeiro dia com o carro, juntamente com a disponibilidade imediata de 170cv e 250Nm, levaram a que a bateria não fizesse mais do que uns 130/140Km. O facto de estar sempre a insistir em acelerações repentinas, procurar atingir velocidade máxima de 150Km/h, tirar o partido da excelente aderência em curva, “mataram” por completo as baterias. (e tentar carregá-las foi uma aventura, como já tive oportunidade de relatar anteriormente). […]
Bons dias…
Infelizmente é mesmo o que falta, é garantias nos postos de carregamento.
Tenho um I3 Rex e carrego o todos os dias em casa, faço com ele sempre mais de 150km dia sem arranques e velocidade muito continuas, raramente ligo o extensor tão raro que ele liga se auto por vezes para efeito de manutenção… Se não fosse o extensor já teria tido umas preocupações antes, sem esquecer que não sou de uma cidade como a capital o que piora esse tipo de apoio :/
Vamos cruzar dedos ( que é o que melhor se pode fazer neste pais ) para que melhorem em breve…