No mês passado foi actualizada uma lista pela Statista com os smartphones que emitem mais radiação. Na anterior lista causou alguma surpresa a presença de um smartphone popular e recentemente chegado ao mercado no topo da lista – o Oneplus 5T. Agora o primeiro lugar é ocupado pelo Xiaomi Mi A1 que também está a ter bastante sucesso e que tem poucos meses de vida. Outra conclusão que se tira rapidamente da lista é a predominância de equipamentos de marcas chinesas (Xiaomi, OnePlus, Huawei e ZTE) que totalizam 10 dos 16 smartphones considerados.
Acerca deste tema e olhando para este gráfico, algumas questões que se podem levantar:
- A partir de que nível de radiação, a exposição pode ser relevante e por isso preocupante?
- Estará o nível de radiação dependente da qualidade dos equipamentos e estarão as marcas preocupadas em baixar os níveis de exposição?
- Deveriam os novos equipamentos apresentar valores inferiores de radiação em relação aos modelos antigos?
- É ou deverá ser este um factor a ter em conta na compra de um smartphone?
- Onde poderei consultar o valor de radiação do seu smartphone?
Tentaremos neste artigo responder a algumas destas questões.
Que tipo de radiação os smartphones emitem?
A radiação é definida com a emissão ou transmissão de partículas de energia em forma de ondas ou partículas através do espaço ou outro medium. Um das formas de radiação é a radiação electromagnética pode ser dividida em dois tipos: ionizante e não ionizante. A primeira é produzida por raios-x ou raios cósmicos (por ex.) e a segunda é produzida por radiação ultravioleta, infravermelha ou ondas rádio (por ex.). A radiação electromagnética é definida pela sua frequência e comprimento de onda, sendo que a frequência é medida em hertz (Hz).
A radiação ionizante tem frequência alta e por isso uma energia alta, por outro lado, a radiação não ionizante é de frequência baixa e como tal tem uma energia baixa. É nesta segunda categoria que encontramos a radiação de radiofrequência, que é produzida pelos nossos smartphones, televisores e transmissões de rádio. Esta radiação emite uma frequência entre os 30 quilohertz (30 kHz ou 30.000 Hz) e os 300 gigahertz (300 GHz or 300 mil milhões de Hertz).
O que é o SAR?
O corpo humano é capaz de absorver esta energia proveniente de aparelhos que emitam esta radiação de radiofrequência. A dose de energia absorvida é estimada tendo em conta uma medida chamada de taxa de absorção específica (specific absorption rate – SAR), que é expressa em watts por quilograma de massa corporal.
Quando é que a radiação pode ser perigosa?
De modo a evitar potencial efeitos nefastos para a saúde, a SAR não deverá exceder os 2 Watts por quilograma. Apesar de não encontrarmos smartphones com valores acima desse referencial, modelos como o Oneplus 5T ou o Xiaomi Mi A1 apresentam valores muito próximos – 1,75 e 1,68, respectivamente.
Apesar de terem existido muitos estudos a analisar os potenciais efeitos para a saúde da exposição a radiação não ionizante provenientes de radares, micro-ondas, fogões e telemóveis, não existe actualmente um consenso alargado de que este tipo de radiação aumente o risco de cancro.
No entanto, em 2011 a Agência para a Investigação do Cancro da Organização Mundial de Saúde afirmou que a radiação dos telemóveis é possivelmente cancerígena. Já mais recentemente o Departamento de Saúde Pública da Califórnia inclui no seu documento orientador que alguns testes laboratoriais e estudos sugerem a possibilidade de o uso intensivo e a longo prazo de telemóveis estar ligado a certos tipos de cancro e outros efeitos para a saúde.
Onde posso consultar a radiação do meu telemóvel?
Entre os diversos sites disponíveis, destaco o site da Agência Federal Alemã para a protecção contra do cancro (aqui). Esta lista compila valores de radiação de modelos de telemóveis desde 2002 e nela podemos encontrar dois valores da SAR quando seguramos o telemóvel junto ao ouvido durante uma chamada e quando o temos junto ao nosso corpo.
O que podemos fazer para nos protegermos?
Uma vez que com a nossa saúde todo o cuidado é pouco, penso que mais vale prevenir e por isso deixo algumas recomendações da Agência Alemã que visam reduzir a exposição à radiação dos nossos telemóveis.
- Usar a rede fixa, quando é possível escolher.
- Reduzir o tempo de duração da chamada.
- Se possível, não efectuar chamadas quando o sinal é fraco, uma vez que o telemóvel terá de emitir um sinal mais intenso para compensar esse facto.
- Preferir telemóveis que emitam pouca radiação quando os temos perto da cabeça, ou seja, que tenham baixo valor de SAR.
- Usar auscultadores ou activar a alta-voz permitindo assim que o telemóvel esteja mais longe da cabeça.
- Substitua as chamadas por mensagens de texto.
Julgo importante que os consumidores devam estar atentos a esta característica aquando da compra ou utilização dos equipamentos de modo a que possam preferir telemóveis com SAR baixos e assim “pressionar” as fabricantes a produzirem modelos cada vez mais seguros.