Os Bose QuietComfort Ultra Headphones chegam rodeados de concorrência feroz da parte de nomes como Sennheiser ou Sony, e com a enorme responsabilidade de superar um marco icónico nos auscultadores com cancelamento de ruído ativo (ANC) como os Bose QC 700. Mas, se há auscultadores que podem encaixar este desafio e superá-lo, são mesmo os Bose QuietComfort Ultra Headphones, que trazem consigo refinamentos ao nível do design funcional, mas acima de tudo introduzem um ANC renovado e áudio espacial capaz de marcar o standard na indústria. Além destes “detalhes”, os Bose oferecem um áudio encorpado de grande detalhe, capaz de se adaptar a todos os géneros de música com convincente qualidade.

Discrição confortável

Os Bose QuietComfort Ultra Headphones são auscultadores bastante discretos, onde a qualidade dos materiais se faz todavia notar, graças ao metal fosco dos braços e forquilhas, enquanto as conchas são e plástico bem rematado. A leveza dos Bose é notória, enquanto a pressão que exercem na cabeça será na medida certa: nem muito forte, nem muito fraca. Em conjunto com o oblongo das almofadas, que rodeiam razoavelmente as orelhas, a utilização é confortável durante longos períodos de tempo, mesmo com óculos, como é o meu caso.

O acolchoamento, no geral, é excelente, tanto nas almofadas dos auscultadores, quanto no arco sobre a cabeça. Poderá parecer um mero detalhe, mas porque os Bose são colapsáveis, dobram-se sobre si mesmos e acabam por poder ser transportados numa caixa elegante e relativamente compacta por comparação a alguns concorrentes.

Em termos de comandos físicos nos auscultadores, a Bose foi algo conservadora, optando por dois botões físicos do lado direito e um slider capacitativo. Um dos botões controla o multimédia, com o típico clique para pausar/reproduzir, dois ou três cliques para recuar ou avançar. O segundo botão ativa e desativa o Bluetooth e liga/desliga o headset, permite saber a fonte a que estão ligados, mas pressionar longo também alterna entre os modos de imersão. Já o slider serve para controlar o volume, mas tem uma função secundária de informação quanto à carga da bateria.

Já do lado esquerdo contamos com um jack de áudio e uma porta USB-C. Como já disse nas primeiras impressões, os Bose não podem ser usados via USB-C, mas a adição de uma ligação de 3.5mm é de bom tom. A inclusão de um cabo com micro é um must.

Uma app sólida

Obviamente que é necessária uma app para realmente tirarmos partido de todo o potencial dos Bose. A Bose Music é simples e pouco intrusiva, com um conjunto elevado de opções para tornarmos os QuietComfort algo mais “nossos”.

A app permite desde logo configurar os nossos modos de audição. Por defeito há três (silencioso, alerta e imersão) mas podemos configurar até 10, para situações diversas como caminhadas, exercício físico ou trabalho, com ajustes específicos ao nível do modo de imersão e redução do vento.

A app também permite configurar o atalho do slider, alterando-o para o acesso ao assistente de voz, alterar o modo de imersão ou aceder diretamente ao Spotify. Há ainda um equalizador relativamente básico que permite intensificar os graves, os agudos, ou reduzi-los. Há ainda uma secção específica para controlar o modo de imersão e outras opções enterradas em menus secundários, entre outras permitindo indicar quanto da nossa voz pretendemos ouvir durante uma chamada, ligar ou desligar a deteção de cabeça (a música para quando tiramos os fones), calibrar o áudio espacial ou atualizar o headset.

A tecnologia de áudio espacial que muda tudo

Face às restantes tecnologias de áudio espacial presentes no mercado, a solução da Bose não muda apenas no nome. Chamam-lhe Áudio Imersivo, mas isso não é de todo o mais importante. O realmente importante a reter é que a) funciona de forma espetacular e b) é completamente agnóstica e livre de custos adicionais.

Começo pelo fim: as alternativas de áudio espacial começam a ser comuns no mercado, mas estão frequentemente dependentes de serviços premium ou serviços compatíveis. Usufruir desta tecnologia significa poder gastar mais ao final do mês. Não com a Bose.

Nos QuietComfort Ultra, todo o processamento espacial é efetuado nos auscultadores, graças a tecnologia própria, e por isso a funcionalidade ganha vida com qualquer serviço, independentemente de se estes serviços têm ou não compatibilidade com áudio espacial, de forma gratuita ou paga. Não é igualmente dependente de tecnologias como Dolby Atmos. Totalmente agnóstico, o áudio imersivo da Bose funciona com qualquer conteúdo, em qualquer momento, sem qualquer custo adicional, e este é o caminho a seguir. Deitem fora os vossos auscultadores que vos amarrarem a um serviço específico para usufruírem da experiência completa. Deitem-nos fora agora.

E o áudio imersivo funciona de forma impressionante. Há espaço para aperfeiçoamento, claro, com um certo delay em ambos os modos de áudio imersivo, “imóvel” e “em movimento”, quando movemos a cabeça. É coisa de menos de um segundo, e não se nota demasiado. A filosofia da Bose é manter sempre o áudio à nossa frente, como se estivéssemos numa sala de espetáculos e enquanto o modo “imóvel” pressupõe que a fonte está sempre no mesmo sítio, o modo “em movimento” vai mantendo o som à frente à medida que caminhamos e mudamos de direção, sendo esta a opção que tenho.

O resultado está algo dependente da mistura inicial, claro. Para ouvir isto a funcionar, recuei algo no tempo e se em If Looks Could Kill, das Heart, a diferença nota-se, mas não acrescenta nada fenomenal à música, exceto uma mais mais decente separação dos bases e projeção da voz de Ann Wilson. O que, pensando nisso, é desde logo positivo.

Só que depois segue-se You Could be Mine, e  – pelos deuses – que diferença! Há uma separação magistral dos canais estéreo e o duo Slash/Stradlin surge muito mais à frente, com as leads de Slash muito mais distintas, e mais uma vez aquela projeção adicional da voz de Axl. A afinação das guitarras é mais clara e toda a rebeldia da música vem ao de cima.

Regressando ainda mais no tempo para Creeping Death, cuja gravação soa precisamente ao que se esperaria no início dos anos 80. E é essa sonoridade crua, visceral, que nos atinge com a pureza das frequências dos Bose, mas com o áudio imersivo, a textura ganha um palco muito superior. O bombo, antes perdido na mistura, mostra bem até onde estes auscultadores conseguem ir em baixas frequências, enquanto cada nota das guitarras é francamente mais audível e traz ao de cima um dos riffs mais geniais da história do rock.

Fortunate Son, um recuo ainda maior para uma sonoridade muito mais clássica, o baixo salta-nos à cara, com muito mais textura e profundidade na separação tridimensional de cada instrumento. O áudio imersivo da Bose tem uma assinatura muito específica de realce das vozes, o que será muito interessante, ao mesmo tempo que nos coloca perante músicas com um feeling muito mais live. É uma perspetiva apaixonante, confesso.

Se algum senão lhe poderíamos apontar seria que ao recuarmos no tempo e passarmos músicas clássicas pelo crivo do áudio espacial talvez se perca um pouco a crueza de algo gravado numa fita magnética nos anos 70, recebendo um take mais moderno.

Mas não sejam rockeiros como eu. Metam As Quatro Estações de Vivaldi, fechem os olhos e ali, mesmo à vossa frente, está toda a orquestra, a encher-nos os ouvidos de requinte.

Uma marca da filosofia sonora da Bose para esta geração de equipamentos, o destaque para as vozes é notório e olhando para elas e a forma como são soberbamente projetadas, abri um serviço de streaming ao acaso e revi um dos meus favoritos Star Trek II: A Ira de Khan e deixei-me surpreender com os pequenos detalhes da atuação vocal de cada ator, a assinatura de Montalban absolutamente incrível. Tudo isto sem se perder os efeitos sonoros de fundo, num filme que sabe criar uma atmosfera de tensão de forma muito discreta.

Para algo mais dramático, os filmes de suspense e atmosféricos recebem um tratamento muito interessante, que realça precisamente os efeitos de fundo para atmosferas mais envolventes e tensas.

Áudio a toda a prova

Muitos auscultadores são feitos para tipos de música ou públicos muito específicos e, consequentemente, não têm uma assinatura sonora particularmente equilibrada. Eu sou tão culpado desse tipo de escolhas, quanto qualquer outro, quando saco de um equipamento de bases carregados e poderosos que acabam por o ser em detrimento das restantes frequências.

Em benefício dos Bose QuietComfort, há que dizer que possuem uma assinatura sonora neutra, que não ressalta os bases como é moda, antes dá um espaço suficiente a cada frequência. Fruto deste equilíbrio, os Bose exibem com o mesmo vigor agudos e graves, oferecendo um palco soberbo e bastante energia para rock.

O tratamento sonoro dado a músicas como Iron Man dos Black Sabbath é paradigmático da capacidade dos Bose para reproduzir uma mix incrivelmente detalhada e equilibrada ao mesmo tempo. A música começa com toques bem secos da bateria e a guitarra é energética, enquanto cada impacto na caixa sobressai. As linhas de baixo e o bombo continuam a ser um baque seco de fundo que criam uma atmosfera intensa e sombria perfeitamente típica de Sabbath.

Estou francamente impressionado com a pureza do som obtido, mesmo quando aumentamos o volume e a partir de fontes de áudio de qualidade questionável, como planos básicos dos serviços de streaming. É uma assinatura agnóstica a géneros e eras, sem ser castrada como por vezes são as assinaturas “puras”, incrivelmente detalhada e tão capaz de bases secos e limpos que batem diretamente no ouvido, quanto de agudos estridentes.

Cancelamento de ruído impressionante

Há sempre dois elementos a considerar quando falamos de cancelamento de ruído. Por um lado, o isolamento passivo, conseguido pelos materiais e pelo acomodar os auscultadores à nossa cabeça. Neste ponto, os Bose parecem excelentes, embora seja difícil de o comprovar, uma vez que o cancelamento de ruído ativo está sempre ligado numa forma ou outra.

E depois há mesmo o ANC propriamente dito. Neste campo, a Bose dá cartas há agum tempo, e com os QuietComfort Ultra Headphones mobiliza os seus vários anos de experência para oferecer o que é cancelamento de ruído de qualidade superior. Através a app podemos ajustar a transparência deste cancelamento de ruído, contudo se quisermos o isolamento completo, no modo de imersão, é como se o mundo quase desaparecesse e mesmo os ruídos mais violentos se tornam sussurros. Seja a motorizada que passa a rasgar, seja o teclado mecânico na secretária ao lado, que passa de um claque-claque distante no perfil “trabalho”, para um silêncio quase absoluto no modo de imersão. Uma sala onde 50 pessoas e teclados trabalham freneticamente e se desdobram em telefonemas e documentos quase desaparece para um sossego reconfortante e do qual não queremos realmente sair.

Isto permite que a música seja apreciada sem ruídos que lhe retirem qualidade ou nos distraiam. Curiosamente, se a maior parte dos barulhos é soberbamente abafada, às vezes um ou outro ruído parece conseguir passar e vê-se amplicado. Por exemplo o puxar ruídoso num dispensador de toalhas de papel, uma pequena anomalia num desempenho no geral soberbo e pouco intrusivo. Digo-o porque não é particularmente propenso a alterar a assinatura áudio ou a produzir aberrações em viagens atribuladas, sempre uma questão a ter em conta.

Também faz chamadas de qualidade

A Bose fala-nos da forma como incluiu quatro microfones para um cancelamento de ruído inteligente e captação mais apurada da nossa própria voz. Portanto, como se transforma isto num telefonema de qualidade?

Curiosamente, muito bem. Auriculares e auscultadores sem fios geralmente fazem muitas promessas e cumprem pouco. No caso dos QuietComfort Ultra isso só aconteceu porque durante algum tempo estive com eles invertidos, o que será no mínimo um testamento ao seu conforto, não importa quão tótó seja o utilizador.

Portanto, quando utilizados de forma correta, tenho tido um excelente feedback relativamente à qualidade de áudio da chamada do outro lado, o que é uma certa proeza num open space ruidoso com chamadas de trabalho. Entretanto, do meu lado, a chamada é mais do que nítida e clara, em boa medida porque o isolamento acústico é soberbo e filtra perfeitamente o ruído externo.

Autonomia mais do que suficiente

Com uma promessa de 24H de bateria, os Bose QuietComfort Ultra Headphones estão no quartil superior da autonomia deste tipo de equipamentos, embora existam alternativas com ainda mais autonomia. Mas, 24H é bastante interessante, e com o carregamento rápido bastam 15 minutos para 2h30min de autonomia com áudio imersivo ativo.

Ora, com o áudio imersivo ativo, a autonomia leva um tombo para 18 horas, tema que não me aflige, visto parecer uma promessa justa e não tenho dificuldades em usar os auscultadores ao longo de 3 dias sem problemas, sempre com o áudio imersivo e cancelamento de ruído, com chamadas pelo meio. A leveza do equipamento pela bateria mais pequena parece-me um tradeoff mais do que justo, e considerando o processamento que ocorre a bordo para o áudio imersivo, a autonomia acaba por ser bem interessante.

Áudio high-end revolucionário

O título deste capítulo é demasiado curto e não faz justiça aos Bose QuietComfort Ultra Headphones.

Por €519, os Bose QuietComfort Ultra Headphones não são os auscultadores mais baratos do mundo, mas também não são os mais caros na sua classe. Se formos justos e olharmos para a sua concorrência direta, oferecem mesmo um dos melhores custos-beneficio do mercado de áudio entusiasta, graças à irresistível tecnologia de áudio espacial (agnóstica e totalmente gratuita, para cereja no topo do bolo), cancelamento de ruído de topo e uma assinatura acústica pura e polivalente.

E revolucionário é de facto, porque se não são os primeiros equipamentos a chegar ao mercado com áudio espacial, são os primeiros com o processamento de áudio independente de qualquer plataforma ou premium, oferecendo uma liberdade fora do alcance de muitos concorrentes.

Ao nível da app, gostaria certamente de ver mais opções de equalizadores e quiçá uma maior amplitude de comandos nos próprios auscultadores. De facto porque algo não pode ser perfeito, a disposição dos comandos físicos não me pareceu totalmente confortável e o slider de volume requer alguma habituação para quem, como eu, tem cabelo comprido e frequentemente ajusta o volume em vez do cabelo. Francamente mais irritante, a condutividade de cabelos húmidos pode ativar constantemente a shortcut do slider para informar a bateria.

Mas, quanto à pura qualidade de áudio em combinação com um cancelamento de ruído que só não abafa uma bomba atómica, os Bose QuietComfort Ultra HeadPhones oferecem das experiências áudio mais viciantes e convincentes do mercado, com um som dinâmico, encorpado e deliciosamente detalhado, a tocar de forma purista sob a guarida de um cancelamento de ruído líder de mercado que coloca o nome da Bose novamente no centro dos amantes do áudio de qualidade.

Pontos positivosPontos negativos
Tecnologia de áudio espacial sem dependência de serviços premiumPosicionamento dos comandos físicos a melhorar
Áudio encorpado e detalhado, com áudio espacial convincenteNão pode ser usado com cabo USB-C
Qualidade de construção e conforto elevados
Excelente relação preço-qualidade

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