Achei importante utilizar a palavra “honestamente” no título desta análise porque acompanho a Huawei há bastantes anos e se algo sempre me pareceu foi que a marca se esforçou por produzir equipamentos sólidos, honestos e de qualidade. É importante realçá-lo mais do que nunca, considerando os tempos que atravessa, e principalmente num segmento que não é aquele que a tornou famosa e onde não nos faltam ofertas: o áudio. Para esta review temos os surpreendentemente capazes e intuitivos Huawei FreeBuds Studios, uma oferta wireless over-ear confortável, elegante e com grande performance.
O que são os Huawei FreeBuds Studio?
São a primeira aventura da Huawei em auscultadores over-ear wireless, aventurando-se na conceção e fabrico destes equipamentos depois de passar alguns anos a lançar auriculares de boa qualidade com os seus melhores smartphones, além de diversas gerações de auriculares bem conceituados.
Os FreeBuds Studio são, portanto, uma grande mudança para a Huawei, em termos de abordagem ao áudio. Os auscultadores over-ear não são em momento algum comprados por quem quer auriculares para atender telefonemas e, de vez em quando, ouvir música. Muito pelo contrário, este tipo de auscultadores são usualmente music first e quando os agarramos numa loja temos expetativas muito mais elevadas do que quando compramos um par de minúsculos auriculares. A Huawei foi, no entanto, por um caminho bem contemporâneo, não esquecendo de todo uma nova geração de aficionados de música que também trabalham e que mantêm os auriculares sobre as orelhas para o fazer, seja em teletrabalho, seja num open space com dezenas de pessoas e teclados matraqueados.
O que oferecem?
Os FreeBuds Studio apresentam um design muito limpo e decididamente premium, apesar do preço muito abaixo do que a etiqueta premium usualmente significaria. As linhas são elegantes e os materiais trazem remates impecáveis, com a bandolete a mostrar um desenho acolchoado e extensores de metal na extremidade dos quais encontramos os auscultadores propriamente ditos, num formato oval que será capaz de comodamente envolver a maioria das orelhas, oferecendo conforto e bom isolamento.
Estes auriculares têm o equilíbrio certo entre estilo, arrojo e discrição. Não são nem demasiado atrevidos, com o que o design cansaria depressa, nem demasiado brandos, com o que nem daríamos por eles. De todo. Os FreeBuds Studio exalam status e são extremamente convincentes nesta abordagem que fica bem num comboio ou num momento de lazer, mas também no escritório. As pessoas vão perguntar-vos por eles, e vocês vão perguntar por eles na loja. O design é intensamente executivo e recita qualidade e “jovem executivo”, ainda mais acompanhados que são pelo estojo elegante com o compartimento próprio para o cabo de carregamento USB-C. A este nível, os FreeBuds Studio são irrepreensíveis e decididamente apelativos.
A bandolete é bastante flexível e a força de aperto é curiosamente leve. No meu rosto estreito, isto significou que por vezes os FreeBuds me desciam algo na cara e necessitavam de ajustes, movendo-se facilmente enquanto corria ou quando me perdia nos ritmos mais furiosos do meu Heavy Metal e acabava com a banda em frente aos olhos, numa imitação fortuita do Geordi La Forge. Mas há um enorme lado positivo para quem sofre geralmente de dores de cabeça ou nos maxilares com auscultadores mais apertados. Com o ajuste certo são francamente confortáveis.
Uma das características mais destacadas dos FreeBuds é certamente o seu cancelamento de ruído ativo, que pode ser ativado ou desligado, para ativarmos um modo de transparência que nos permitirá ouvir melhor o que nos rodeia. O isolamento passivo é bom, o que facilita a vida ao cancelamento de ruído, perfeitamente capaz de filtrar os ruídos mais normais num quotidiano para nos oferecer mais isolamento e uma melhor experiência global de utilização.
A Huawei pensou particularmente bem o nível de controlo que podemos ter ao manusear a combinação de gestos e toques que os auscultadores permitem. Os auscultadores com controlos apenas com botões físicos são uma seca e, exceto se a força de aperto for ao nível de uma Louva-a-Deus emocionada, tendemos a deslocar os auscultadores durante ações simples.
Então a Huawei pensou e equipou os FreeBuds com áreas capacitativas e basta deslizar o dedo ao longo destas superfícies para cima ou para baixo para controlar o volume, para a frente e para trás para avançar nas músicas, ou dar toques para pausar e iniciar a reprodução. Toda a superfície plana na peça direita serve de superfície de toque, pelo que é extremamente fácil executar os gestos que queremos, sem muitos enganos pelo caminho. Cuidado apenas com os toques acidentais, já que as superfícies são bastante sensíveis. Via app AI Life, podemos depois configurar estes gestos para maior comodidade. Certifiquem-se apenas que vão buscar a app à loja oficial da Huawei, não à Play Store da Google.
Acima de tudo, polivalência
Vamos tirar de cima da mesa a parte chata: sim, os FreeBuds Studio são excelentes para videoconferências no Zoom ou no Teams, e igualmente para chamadas telefónicas. Do nosso lado não temos problemas em ouvir os interlocutores, até porque os sopros do vento na rua só se ouvem realmente a sério quando temos ligado o modo de transparência (e se o tivermos durante uma chamada, tolice nossa), e do outro lado a nossa voz é clara e com os ruídos de fundo bem filtrados (dizem-me). Deixamos os FreeBuds de lado uns dias e voltamos ao “desculpa Marco, não conseguimos perceber”, “podes falar mais alto? Não ouvi”.
Ainda assim, à prova de audiófilos?
Então, embora para a parte divertida: Heavy Metal or no metal all, para clamar uma frase que os fãs saberão reconhecer a milhas. Não é fácil senhores, criar uma identidade de som neste mercado, e conseguir furar a concorrência. Para o fazer, a Huawei optou por uma afinação bastante plana, procurando um bom equilíbrio entre o consumo multimédia e a inevitável utilização como equipamento em chamadas e videoconferências que mencionei atrás. Como tal o som parece-me neutro e polivalente, com as vozes a soarem particularmente naturais, o que abre as portas a bastantes géneros musicais e, acima de tudo, há detalhe de sobra e limpidez, mesmo com o volume a chegar ao máximo, sem começarmos a ouvir distorção, um dos grandes méritos dos FreeBuds.
Já os graves e as baterias não são particularmente densos, principalmente com cancelamento de ruído ativo, o que de algum modo tem um impacto muito audível na capacidade de reprodução destes sons, deixando as músicas francamente brandas.
Podem ouvir rock, podem ouvir Heavy Metal, que apreciarão a amplitude do detalhe, mas não partirão para a loucura. Aquele “coice” que gostamos de sentir não está lá com a intensidade necessária. Os FreeBuds não me agridem quando eu quero ser agredido, quando ouço “Humanicide” dos Death Angel, naquele tenso pré-coro. A intro de guitarra em The Rivalry (Running Wild) é deliciosa e cristalina, e a voz do Rolf soa melhor que nunca, mas depois depois o bombo e as linhas de baixo simplesmente não explodem tanto quanto eu desejaria. OK, senhores, vamos tentar isto novamente: Dust From The Burning, de Virgin Steele. Cada oscilação nos riffs do Pursino se sentem, o som é cristalino e os agudos de DeFeis proeminentes, mas o “boom” mais profundo dos acordes e do baixo ponderoso não se destaca como eu quereria.
Por outro lado, numa peça mais neoclássica, como “Release My Symphony” dos Visions Of Atlantis, os FreeBuds dão um impulso a toda a atmosfera positiva deste tema. As orquestrações são ricas com a subtileza dos metais a fazer-se sentir, as nuances das vocalizações de Clémentine Delauney elevam a experiência a outro nível. Em temas fortemente orquestrais, os FreeBuds estão no seu terreno e mostram o seu potencial para um áudio rico, limpo, e com um estéreo impecável.
Por isso, podem não ser os auscultadores mais arrebatadores para quem precisa de baixos à frente, mas o equilíbrio global é suficiente para conquistar os ouvintes exigentes que preferem som equilibrado em vez de assinaturas áudio muito tendenciosas. É apenas aquela certa ausência de tonalidades mais sombrias que não chega a tornar os FreeBuds estonteantes.
Os FreeBuds também são algo limitados pela sua dependência da EMUI. São perfeitamente utilizáveis sem a app companheira, mas se optarem por a usar, terão de fazer o download diretamente da loja da Huawei. A questão é que por razões certamente técnicas, algumas das características dos FreeBuds estão dependentes de um smartphone da Huawei com pelo menos EMUI 10.1 para o modo de baixa latência para jogos e emparelhamento rápido, ou EMUI 11, se quiserem realmente extrair o som máximo via codec L2HC, um codec extraordinário de baixa latência da própria Huawei. Além dos codecs AAC e SBC teria sido impecável se a Huawei implementasse o LC3 possibilitado pelo Bluetooth 5.2 a bordo, pois assim abriria as portas a certamente mais utilizadores.
Durante todo o dia
A “outra” razão pela qual compramos on-ear é pela autonomia incomparavelmente superior a auriculares TWS. Os FreeBuds Studio indicam 24 horas de playback sem o cancelamento de ruído ativo. É certo que há alguns concorrentes com mais pernas, mas 24 horas é pelo menos uma promessa que os FreeBuds comprem sem falhas: ouçam a música duas horas numa caminhada, outras tantas horas ao longo do dia, juntem-lhe outro tanto de telefonemas e reuniões de uma ou duas horas, e no final do dia talvez coloquem os FreeBuds a carregar. Ou talvez não.
A virtude dos FreeBuds é que ligar o cancelamento de ruído apenas encurta a autonomia para 20 horas, um impacto deliciosamente pequeno. Entretanto, 10 minutos de carregamento rápido oferecem 5 horas de utilização, pouco mais de uma hora bastando para repor o sumo todo nesta bateria que, sem ser a mais longeva, é das mais satisfatórias.
Conclusão: auscultadores over-ear para diversão e trabalho
Como dizia, no início, os Huawei FreeBuds Studio são um equipamento fundamentalmente honesto que exala qualidade no fabrico, nos gestos, no conforto de utilização. É um excelente headset para modos de trabalho híbrido, já que houve uma clara aposta na claridade das vozes, seja em chamadas ou música. Este detalhe depois não foi totalmente compensado com uma assinatura sonora mais excitante e com mais garra, de maior densidade nas baixas frequências, o que pode alienar alguns potenciais utilizadores, mas não posso sequer considerar isso um defeito. É uma abordagem como qualquer outra e também permite realçar as virtudes dos FreeBuds na reprodução de áudio nítido e vocalizações predominantes.
Não trabalha a favor dos FreeBuds Studio que tenham algumas características dependentes de um Huawei de gama alta, o que certamente os restringe.
Ainda assim Huawei fez um excelente trabalho na sua estreia nos over-ear. Nada nos FreeBuds é imaturo ou inexperiente. Do design aos comandos, passando pela assinatura sonora, estes são equipamentos maduros que nada devem aos nomes mais conceituados na praça. Devem com toda a certeza ponderar comprar os FreeBuds Studio se procuram on-ear polivalentes e de surpreendente qualidade física a um preço atraente. Se querem mesmo um som mais energético devem pensar um pouco mais, mas se a polivalência é importante, passem pelo stand da Huawei numa loja perto de vós.