A primeira vez que ouvimos falar da nova família Qualcomm Snapdragon 700 foi durante o MWC de Barcelona, onde a Qualcomm fez um anúncio cheio de promessas de mais e melhor, mas sem revelar dados específicos sobre a nova família. O anúncio não foi sequer acompanhado da oficialização dum chip, mas segundo Roland Quandt o primeiro chip da família será o Snapdragon 710.
Qualcomm Snapdragon 710 (SDM710) incoming. The first 700-series Snapdragon SoC.
— Roland Quandt (@rquandt) April 3, 2018
Para quê uma nova segmentação?
Infelizmente, também Quandt não revela qualquer dado técnico para o Snapdragon 710. O nome é muito indicativo da segmentação dos chips da Qualcomm, e a família Snapdragon 700 ficará encaixada entre a gama alta da família Snapdragon 800 e a gama intermédia Snapdragon 600.
Como sabem os leitores mais atentos, esperava-se que a Qualcomm anunciasse em Barcelona o Snapdragon 670, chip que continua relegado ao estatuto de mito urbano. Nesta fase, acredito que o Snapdragon 670 será o Snapdragon 710, e jamais teremos um Snapdragon 670.
A segmentação da Qualcomm não faz real sentido de outro modo. Embora o Snapdragon 630 tenha sido um grande sucesso, os equipamentos de gama média continuam a apostar de forma alarmante no Snapdragon 625 e a Qualcomm ainda não conseguiu que nenhum dos seus possíveis sucessores obtivesse tracção. O poderosíssimo Snapdragon 660 seria um candidato ideal para o substituir, mas só quase um ano depois do seu lançamento começa a aparecer em alguns equipamentos e ainda assim não se pode dizer que seja um chip comum. Com um custo elevado, muitos fabricantes poderão simplesmente não considerar que este chip encaixe nas suas estratégias de preço para a gama média.
Suceder o Snapdragon 660 com o 670 poderá então ter parecido um erro e a Qualcomm voltou aos esboços. O problema com a gama 600 é que perdeu o foco. A família 800 concentra-se na potência máxima com recurso aos mais recentes métodos de fabrico e mais recentes tecnologias. A família 400 é o budget por excelência, mas a família 600 é tudo, e enquanto o 625 se coloca na gama média baixa, o 630 coloca-se na gama média nuclear, enquanto o 660 se posiciona na gama média premium, destinada a equipamentos que querem parecer verdadeiros flagships, mas sem processamento idêntico.
A Qualcomm irá assim concentrar a família 600 na gama intermédia, e deixará a família 700 na gama premium, mesmo abaixo dos flagships. Isto está em linha com o que a Qualcomm delineou para a nova família de processadores, e que não é muito diferente das ambições que a empresa sempre estipulou para o Snapdragon 660.
Mas porque fazê-lo de qualquer modo? Essencialmente, porque sendo uma gama própria, a família 700 será facilmente identificada como oferecendo chips premium, extremamente modernos, mas mais equilibrados do que a família 800 focada amplamente na performance. O valor de marketing é importantíssimo aqui, dando à Qualcomm uma linha dedicada de promoção dos novos processadores, sem confusões de segmentação.
O que oferecerá o Snapdragon 710
A Qualcomm delineou algo floreadamente o que serão os principais argumentos dos Qualcomm 710. A marca destacou a procura crescente por equipamentos premium no mercado Chinês e destacou a presença de Inteligência artificial via Artificial Intelligence Engine, tecnologia de ponta, e funcionalidades da gama alta. Em termos de performance, os produtos da família Snapdragon 700 oferecerão 2X a performance do Snapdragon 660 para aplicações de inteligência artificial, incluirá computação heterogénea, processamento de imagem de gama alta, além de eficiência energética superior, com melhorias de até 30% face ao Snapdragon 660.
Mas, fundamentalmente, estes dados podem ser condensados numa palavra: equilíbrio. O enquadramento do Snapdragon 710 relembra-me a declaração recente da Lenovo quanto a porquê preferirem o MediaTek Helio P70: a marca entende que o Snapdragon 845 está demasiado focado na potência e não oferece um bom equilíbrio de características focadas nas novas exigências em termos de IA e reconhecimento de imagem, ou optimização de performance.
O Helio P70 pode mesmo trazer uma renovação da MediaTek e até mesmo a Xiaomi poderá voltar a utilizar chips da marca. Por comparação, a Qualcomm não parece oferecer nenhum equipamento do mesmo calibre, o que deverá agora mudar.
Possíveis características do Snapdragon 710
Se eu estiver correcto e o Snapdragon 670 não se materializar, os pontos-chave do Snapdragon 710 deverão ser muito semelhantes. De facto voltando ao início de Fevereiro, aquilo que escrevi por então assenta ponto por ponto no que a Qualcomm diz hoje sobre os Snapdragon 700.
O chip teria arquitectura assimétrica, com 2+6 núcleos, especificamente 2 núcleos Kryo 300 Gold e 6 Kryo Silver para a performance sustentada. A gráfica seria uma Adreno 615 com frequência até 700MHz. Na altura até disse que o chip deveria oferecer um excelente compromisso entre performance e eficiência de recursos.
Voilá o Snapdragon 710.