O modelo de negócios da Tesla tem vindo a ser pouco falado nos últimos tempos, muito por culpa dos novos anúncios da marca. Também a legião de fãs que se criou à volta da mesma, permite que muitos assuntos controversos não sejam falados ou que, mesmo quando são falados, sejam abafados em pouco tempo. Esta não é uma situação única da Tesla, sendo que algumas outras marcas sofrem desta mesma protecção por parte dos seus “clientes”.
Exemplo disso, é o facto de a Tesla apresentar agora dois novos modelos, mas ainda não ter conseguido chegar aos valores de produção necessários para entregar a tempo e horas todos os Model 3 que estão encomendados. Mas até agora, ninguém questionou ou pôs em causa a marca.
Para além disso, a nível financeiro, a Tesla passa por momentos muito complicados nos últimos tempos. Nos passados 12 meses, estima-se que a Tesla esteja a perder dinheiro ao ritmo de $8.000 Dólares por minuto, ou seja, $480.000 Dólares por hora. Os dados não são nossos, mas sim da Bloomberg, que acaba por mostrar que a este ritmo, a Tesla estará sem dinheiro no dia 6 de Agosto do próximo ano.
Ainda assim, a solução para estes gastos astronómicos será “relativamente simples”. Basta que a Tesla consiga entregar os Model 3 que estão encomendados, e aí o dinheiro começará a entrar e a contrariar esta tendência negativa no balanço de caixa. Os próprios investidores parecem bastante confiantes com esse facto, já que as acções da Tesla valorizaram 3% na passada terça feira, para $317,81 Dólares, dando um valor de mercado de $53 Biliões de Dólares à empresa de Elon Musk. Para terem um elemento de comparação, a Ford Motor Co. vale actualmente $48 Biliões de Dólares.
Mas então, onde está o problema da Tesla?
É uma questão interessante, já que a solução para os gastos astronómicos parece ser bastante simples: entregar todos os carros que estão para entrega, e aí a empresa já começa a dar lucros.
Mas o problema está na política de Elon Musk à frente da Tesla: lançar novos modelos para financiar a produção dos modelos anteriores. O problema voltou a repetir-se agora, com o anúncio do Roadster e do Semi Truck. É que Elon Musk pede aos clientes para pagar antecipadamente os novos veículos, mesmo quando ainda nem existem datas para eles serem entregues. Na verdade, podem vir a ser entregues apenas daqui a alguns anos.
Esta seria uma boa aposta, caso o dinheiro estivesse a servir para financiar a produção dos novos modelos anunciados, mas em vez disso, percebe-se que o dinheiro será usado para financiar a produção de modelos anteriores, criar fluxo de caixa e contrariar a perda de $8.000 por minuto que se tem verificado no mundo Tesla. Um exercício simples permite verificar isto mesmo. O Founders Series Roadster (que permite reservar um Roadster de edição limitada e recebê-lo em primeira mão) irá custar aos compradores $250.000 Dólares. Tendo em conta que está limitado a 1000 compradores, estamos a falar que poderá gerar qualquer coisa como $250 Milhões Dólares, mesmo que o carro possa vir a ser produzido só daqui a dois anos. Mas não se fica por aqui, já que a reserva do Roadster Regular custa qualquer coisa como $50.000 Dólares. Dependendo do número de reservas (que olhando à tendência actual até costuma ser elevada), facilmente os $250.000 Milhões sobem para valores muito mais altos. Para aumentar ainda mais o valor que poderá ser injectado nas contas da Tesla, as empresas interessadas nos Semi (camião eléctrico da Tesla), também podem fazer as suas reservas por $200.000 Dólares na edição Founders Series, ou $20.000 Dólares na versão normal. No caso do Semi, a Tesla garante mesmo que a produção não arranca antes de 2019.
Olhando para estes números, estamos a falar de valores astronómicos e que deveriam ser mais que suficientes para uma empresa ter financiamento para arrancar a produção dos modelos que anunciou. No entanto, os gastos actuais da Tesla são de $1 Bilião de Dólares por cada trimestre. Este valor é resultado do investimento da marca para a produção do Model 3, um carro que começa a ser vendido nos $35.000 Dólares e que pretende ser um carro de eléctrico de produção em massa. O problema, é que este não está a gerar o retorno pretendido: apesar das muitas reservas iniciais (nos mesmos moldes que as reservas do Roadster e do Semi), a Tesla não tem conseguido produzir os carros ao ritmo que deveria produzir, estando com grandes dificuldades nas suas entregas. E não entregando os Model 3 aos seus clientes, não tem dinheiro a entrar. Não havendo dinheiro a entrar, os gastos são de $8.000 Dólares por minuto e os lucros não os acompanham.
Anúncios para salvar a empresa
Ora, a gastar $8.000 Dólares por minuto, e mantendo tudo exactamente como estava, a Tesla iria entrar em falência em Agosto do próximo ano. Para quem não tem os números à frente, pode parecer algo ridícula esta afirmação, mas as contas foram feitas por analistas da Bloomberg Intelligence. Kevin Tynan, um desses analistas, diz mesmo que a Tesla terá que aumentar os seus gastos de 1 Bilião de Dólares para perto de 2 Biliões, de forma a conseguir aumentar os seus níveis de produção e conseguir começar a entregar os Model 3 ao ritmo que deveria entregar, e assim começar a gerar lucros.
Ora, numa fase crítica para as finanças da Tesla, Elon Musk surge a apresentar dois modelos com especificações incríveis e bastante apetecíveis para quem tem dinheiro para gastar. E ainda há muita gente que quer ter estes modelos em primeira mão, que vão permitir uma injecção de capital enorme nesta fase, permitindo assim um balão de oxigénio para as finanças da marca Americana. Com estes dois novos modelos, é gerado um grande fluxo de caixa em reservas, que é de seguida aplicado na produção dos modelos anteriores (neste caso o Model 3). Sim, o lançamento do Roadster e do Semi, é apenas uma manobra para conseguir o financiamento para a produção do Model 3, que já se encontra bastante atrasada.
Falta de justificação clara aos investidores
A Tesla afirma que tem dinheiro para atingir a produção que tinha previsto de 5.000 unidades de Model 3 por semana, até ao final de Março de 2018. Quando chegar essa altura, espera que os valores de fluxo de caixa operacionais sejam já significativamente positivos para contrariar as despesas muito altas. Esta foi a informação que a Tesla enviou aos seus accionistas a dia 1 de Novembro mas, no entanto, ninguém dentro da Tesla explicou de onde vinha o dinheiro, nem como tinha sido conseguido. Mais um claro sinal de que está a vir principalmente das reservas dos próximos modelos.
Até ao momento a Tesla tem contado sempre com o apoio dos seus accionistas, mas a verdade é que o modelo de negócio da Tesla é de alto risco. A verdade, é que Elon Musk está muito dependente do entusiasmo do mercado e da sua legião de fãs. Enquanto a Tesla continuar a depender de reservas de novos lançamentos, que nem datas para produção ainda têm, o risco será sempre muito alto. Afinal de contas, quem investe $250.000 Dólares na reserva de um carro e passados dois anos continua sem o poder conduzir, de certo que pensará duas vezes antes de pensar em reservar o próximo modelo.
Outro problema que a Tesla poderá começar a sentir, é o facto de as outras marcas também já estarem a entrar no mercado e terem uma capacidade maior de produção em massa. Veja-se o caso da Nissan que, após o anúncio do seu novo modelo Leaf, deu logo datas para entrega dos novos modelos, entrega essa que será já nos próximos meses. Com outras marcas a entrar no negócio dos carros eléctricos, será ainda menor o interesse nos compradores em investirem num carro que apenas estará disponível passados alguns anos.
Quer se queira quer não, Elon Musk tem conseguido manter o negócio que todos diziam ser impossível. Mas a manter-se assim, acho que a única pergunta que se pode fazer é esta: até quando irá durar a Tesla?
$250 000 * 1000 = $250 000 000 ($250 milhões, e não $250.000 milhões, como escreve o autor)
Isto de traduzir artigos da bloomberg (https://www.bloomberg.com/news/articles/2017-11-21/tesla-is-blowing-through-8-000-every-minute-amid-model-3-woes) literalmente dá barraca quando não se sabe a diferença entre os sistemas numéricos Americano e Português.
Obrigado pelo reparo. Já foi feita a correcção no artigo.
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