O ASUS ZenFone 6 é um smartphone muito peculiar. Com um único módulo fotográfico posicionável que lhe permite dispor de um ecrã de 6.4 polegadas desimpedido, e uma bateria de 5000mAh para uma autonomia absolutamente anormal num segmento de smartphones adelgaçados, o ZenFone 6 é a solução da ASUS para uma pergunta que se pensava sem resposta: como criar uma alternativa ao Huawei Mate e vencê-lo no próprio jogo do preço?

Ora, os Huawei Mate, incluindo o recente Mate 30, são dispositivos de eleição. Excelente hardware, prestações irrepreensíveis. Não têm muitos concorrentes diretos, e muito menos com preços competitivos. A ASUS não parece ter pensado na Huawei ao conceber o ZenFone 6, mas conseguiu realmente criar o tipo de equipamento para produtivos e power users que geralmente só a casa dos €1000 nos oferece.

Design

O ASUS ZenFone 6 é um equipamento agradável e imponente, mas destoa certamente numa era de terminais adelgaçados e quiçá vulneráveis. Claramente um exemplo sublime da filosofia da função antes da forma, o ZenFone 6 não comprometeu as suas funcionalidades ao design.

Assim, a face traseira é dominada pelo módulo rotativo que inclui as duas câmaras a bordo, uma de 48MP e uma de ultragrande angular de 13MP. O módulo é de metal e parece bastante sólido, podendo movimentar-se com as teclas de volume até ao ângulo pretendido. Entretanto, para encaixar a bateria de 5000mAh e manter os custos controlados, a ASUS optou por um ecrã LCD algo mais espesso que os AMOLED e, por isso, o ecrã assenta mais sobre a moldura de metal, em vez de ser abraçada por esta, como podemos ver nos topos de gama. Função antes da forma, lembram-se?

Com estes predicados e uma colossal bateria no seu interior, algo que o ZenFone 6 é, é pesado. Com 190 gramas, o ZenFone não é certamente leve, mas excelente engenharia por parte da ASUS, conseguir um peso equivalente ao de um Xiaomi Mi 9 T Pro ou Huawei P30 Pro, e ainda os superar na bateria.

Ecrã

Se tivesse que abdicar de algo num smartphone, isso seria certamente a câmara selfie. Necessariamente dentro dos desígnios do mercado, a ASUS não pode ser tão pragmática quanto eu e, por isso, optou pelo seu módulo rotativo. A vantagem foi ter libertado o ecrã de qualquer elemento e, por isso as suas dimensões de 6.4 polegadas não são meras estatísticas, mas uma realidade, já que não teremos que ativar rebordos artificiais para cobrir perfurações ou notch.

Temos, portanto, este delicioso ecrã amplo e desimpedido que é genial para ler livros ou ver uma série na maior das descontracções.

A ASUS habituou-nos a ecrãs OLED, mas para manter os custos melhor controlados no ZenFone 6 o painel a bordo é um IPS LCD com resolução 1080 x 2340, com capacidade de reprodução HDR. Porquanto os ecrãs AMOLED possam ter maior contraste, graças à capacidade de reprodução de negros puros, o ecrã do ZenFone 6 é inegavelmente do melhor ao nível dos LCD, com excelente luminosidade e sombras suficientemente escuras para os filmes e jogos não perderem a sua atmosfera.

O ecrã tem uma clara tendência para os azuis e predominância dos tons frios. De certo modo, esta tendência pode ser calibrada a nosso gosto nas definições do ecrã, que nos permitem alterar contraste e temperatura de cor. Pessoalmente, recorri a apenas alguns ajustes para maior contraste sem perder a curva para os frios.

Performance e experiência de utilização

Portanto, o ASUS ZenFone 6 é o mais polido dos ASUS que vimos até agora. O dispositivo chega-nos com Android 9 Pie, com promessa de atualização para o Android 10 e para o futuro 11.

A skin prima por uma colagem muito clara ao Android puro e é perfeitamente coerente. Por vezes as marcas não parecem saber bem por onde ir, com ícones por todo o lado, sem uma língua estilística transversal. Aqui, a linguagem é igual em todos os ícones, contribuindo para uma louvável coerência visual, ao contrário de algumas skins que por aí andam.

A marca utiliza certamente pouco bloatware, mas dá-nos um manager de memória e bateria. Com o primeiro podemos gerir de modo muito mais fino as apps que correm no telemóvel, e com o segundo podemos optimizar o consumo energético do ZenFone com sugestões sobre como melhorarmos a autonomia do equipamento.

A performance é – por falta de melhor termo – irrepreensível. Embora por fora pareça tudo muito diferente do ROG Phone, a genética é a mesma em ambos os dispositivos e em jogos o ZenFone 6 tem uma performance muito satisfatória, acima de tudo limpa, graças ao ecrã sem impedimentos. Poderemos jogar aqui os jogos mais exigentes com gráficos no máximo ou lá perto sem aquecimento notável ou quebras de performance durante períodos de tempo razoável.

A ASUS inclui mesmo o Génio de Jogos, com interligação com a nossa conta YouTube ou Twitch, com programação da resolução do streaming em direto.

Uma última palavra para o áudio. O ZenFone 6 chega com alta-voz estéreo e de boa qualidade. Aparentemente algumas unidades tinham problemas de distorção no som, mas a nossa unidade de testes não fazia parte desse lote. A presença do DTS:X e a possibilidade de ajustes dos perfis áudio para várias aplicações certamente ajuda a tornar este um excelente smartphone para multimédia.

Autonomia

Com uma bateria de 5000mAh, o ASUS ZenFone 6 é certamente uma opção a considerar pelos utilizadores mais intensivos. De minha parte, habituado muito bem à autonomia dos BlackBerry, poucos smartphones me impressionam.

Ao ser frugal, abdicando de resolução mais elevada ou dos 90Hz tão em voga atualmente, o ZenFone 6 tira um enorme proveito da capacidade da sua bateria e com uma utilização normal atesto que podemos ter dois dias de utilização sem grandes dificuldades, embora mais tipicamente saísse do trabalho com 40-50% da bateria, o que é um resultado muito apetecível. Nenhum equipamento com Snapdragon 855 nos poderá dar neste momento tamanha autonomia, nem que seja à força de não ter ao seu dispor 5000mAh.

Como seria expectável, carregar este monstro não é fácil. Se estivermos habituados a pouco mais de uma hora para chegar aos 100%, aqui o valor ronda as duas horas, com um carregador de 18W. Mas, o ZenFone 6 não é o tipo de smartphone que precisem carregar até aos 100%, por isso um boos de mais 20 ou 30% em meia hora será suficiente para várias horas extras.

Uma última palavra para o áudio. Os altifalantes são excelentes para gaming e vídeo, e a presença do DTS:X garante que podemos ajustar a sonoridade a cada tipo de utilização.

Câmara

Hoje em dia já não faltam câmaras de 48MP, nem mesmo câmaras de 64MP, parecendo que o ZenFone 6 já não se destaca particularmente acima da concorrência, até porque neste jogo da matemática do marketing, o ZenFone tem 2 câmaras num mundo onde até os terminais de gama média já chegam com 3 e 4 câmaras.

A característica mais visível é mesmo o facto destas câmaras se encontrarem num módulo posicionável a 180 graus. Ao activarmos a app da câmara, o módulo mantém-se em posição, e roda quando escolhemos o modo selfie. Mas, graças aos botões de volume, podemos posicioná-lo na posição que desejarmos. Caso deixemos cair o telemóvel, a aceleração ativa o sistema de recolha automática para evitar danos.

Mas os pixéis não são tudo e mais não é simplesmente melhor só pela quantidade. Sempre gostei das capacidades fotográficas dos ZenFone e o ZenFone 6 não desilude. A câmara de 48MP produz resultados extraordinários quanto ao detalhado, autorizando crops aproximados daquele pormenor que queremos ver em grande, enquanto a combinação de pixéis pode ser utilizada para obtermos imagens de 12MP bastante interessantes, quer quando a luz começa a escassear, quer quando queremos tirar o máximo proveito de funcionalidades como HDR desativado quando usamos a resolução máxima. É que, mesmo com um Snapdragon 855 a bordo, uma fotografia de 48MP demora mais tempo a processar e isso notar-se-á. As reviews raramente tocam neste assunto, mas o abrandamento é comum a todos os smartphones; uns mais, outros menos, mas a máxima resolução é sempre um peso para o processador e escrita na memória.

Um truque que rapidamente aprenderão é que, se tiverem a mão firme, é mais útil capturarmos uma imagem a 48MP e fazer crop ao detalhe que queremos, do que baixarmos para 12MP e usar zoom digital. O exemplo abaixo é notório quanto ao detalhe extra que podemos obter quando fazemos um crop sobre 48MP por comparação a um equivalente de 12MP.

As câmaras zoom estão na moda e em boa medida poderão ser superiores a um crop sobre uma imagem de grande resolução, mas o utilizador pode ganhar muito em recortar uma área de 48MP (esquerda) por comparação a simplesmente chegar mais perto do detalhe (direita). O contraste e o detalhe é simplesmente superior.

 

Francamente, tenho visto samples de outros smartphones onde os pixéis extra acabam por não produzir resultados estelares, porque são mais propensos a aberrações cromáticas. A ASUS fez aqui um excelente trabalho ao as manter sob controlo, permitindo ao detalhe extra realmente sobressair. Isto é fácil de notar na folhagem e vegetação, onde o ASUS consegue boa diferenciação, ou nos pequenos detalhes mais distantes que mantêm a sua dignidade quando fazemos zoom à imagem.

Um ponto que a ASUS necessita ainda de melhorar é no HDR, que parece algo tentativa e erro. É dos melhores que podemos encontrar no mercado, mas será talvez o único ponto onde julgo que o ASUS está realmente distante dos melhores do mercado, com algo menos de detalhe, particularmente numa excessiva recuperação de algumas sombras. As fotografias resultantes são algo brandas e perdem expressividade, embora sejam agradáveis e tenham poucos vícios como as auras tão comuns noutros dispositivos.

Com uma opção para captura em RAW e um modo manual bastante completo, o ASUS ZenFone 6 é igualmente um smartphone capaz de encher as medidas aos fotógrafos mais aventureiros. Dá-nos certamente muito espaço para brincar!

Conclusão

Comecei esta análise, comparando o ASUS ZenFone 6 aos Huawei Mate, 20 ou 30, tanto faz. Algumas centenas de Euros separam o ZenFone dos Huawei, mas a comparação é justa: são ambos dispositivos que aliam o melhor processador possível a grandes ecrãs e autonomias pensadas para quem precisa ter uma bateria pronta para ser puxada a sério. Para power users, os Huawei Mate são inquestionavelmente referências.

Mas a ASUS conseguiu chega ao mesmo objetivo com por menos algumas centenas de Euros no preço, sem comprometer em algum ponto importante.

O ZenFone 6 abdica da construção algo mais compacta de alguns concorrentes, não tem proteção IP68 ou ecrã OLED, em última instância questões talvez secundárias. Em troca, coloca-nos nas mãos o melhor processador possível, boas câmaras, uma autonomia que nos dá paz de espírito, e uma interface limpa que é constantemente atualizada para crescer e melhorar. Com tudo isto em cima da mesa, o ASUS ZenFone 6 é o smartphone de €1000 que vocês querem, a um preço que podem pagar. Uma das melhores relações preço/qualidade do mercado junta-se a especificações irrepreensíveis para o smartphone do ano para power users.

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