Todos pensamos que podemos safar-nos sem tomar a medicação que o médico recomenda e como ele a recomenda, mas esses dias podem ter terminado com a aprovação pela FDA da primeira medicação com sensores embutidos.
O Abilify MyCite é um medicamento aprovado para a esquizofrenia ou transtornos bipolares, condições que para se manterem sob controlo requerem a toma da medicação de forma regular e conforme prescrição médica. No entanto, são também condições onde os pacientes podem negligenciar ou mostrar hostilidade à medicação, criando situações perigosas para eles próprios.
A monitorização, por seu turno, é difícil. A solução foi colocar um micro sensor dentro de cada pastilha, composto por cobre, magnésio e silicone. Quando o sensor entra em contacto com o ácido estomacal liberta um impulso eléctrico que é enviado para um patch electrónico que então transmite a informação médica.
O processo pode não ser infalível, mas é um grande avanço para monitorizar pacientes cuja medicação pode ser crucial para lhes salvar a vida a curto prazo. No entanto, os pacientes que tomarem o Abilify MyCite terão de assinar um termo de responsabilidade a autorizar o envio da informação. O potencial está lá para violação de privacidade, já que apesar dos dados médicos serem sigilosos, vivemos numa era de partilha, compra e venda de dados pessoais, incluindo registos médicos.
Existem por isso benefícios para um futuro com medicamentos capazes de monitorizar o seu próprio consumo, evitando os riscos de sobredosagem ou negligência, mas as questões éticas terão que ser igualmente levadas a sério para proteger o paciente e não tornar os seus dados pessoais numa comodidade como qualquer outra. O resultado poderia ser vastamente mais nefasto, caso pessoas com patologias socialmente reprovadas receassem ver a sua condição exposta e evitassem tratamento activamente.
As implicações serão ainda maiores para as questões relacionadas com seguros e protecção de saúde, certamente com as seguradoras a terem também uma arma potente para se esquivarem a responsabilidades, no caso de ficar provada a utilização incorrecta de um medicamento. O interesse do consumidor, em última instância, pode ser o menos protegido.