Não é a primeira vez que o Facebook se vê no centro de polémicas relacionadas com o modo como potencialmente recolhe informações sobre os seus usuários. De facto, quem nunca teve a sensação de que a rede social lhe mostrava anúncios sobre coisas das quais tinha falado recentemente?

É o que vários utilizadores parecem demonstrar na Internet, indiciando que o Facebook Messenger pode ouvir as nossas conversas para depois nos bombardear com anúncios.

Nos últimos dias, diversos vídeos têm sido colocados online com anúncios mostrados após supostamente falarmos perto do telemóvel sobre algo. A intenção é mostrar que a app Facebook está a ouvir as nossas conversas, mesmo quando estamos com o smartphone bloqueado.

Bom, podemos pensar que são exageros ou deturpações, mas onde há fumo pode haver fogo, certo?

Rob Goldman, responsável pela publicidade no Facebook, negou peremptoriamente que o Facebook recolha as nossas conversas moo faladas, com a app aberta ou fechada.

Então, o que pode estar a acontecer?

Tudo não passará de coincidência?

Em entrevista à BBC, David Hand, processor do Imperial College, oferece uma teoria alternativa e menos alarmista: os anúncios já estariam a ser mostrados aos indivíduos, mas estes só os terão notado quando estes se tornaram relevantes.

É um pouco como alguém com uma camisa igual à nossa aparece na rua e o conseguimos ver no meio de uma multidão, ou como quando compramos um automóvel começamos a ver o mesmo modelo mais vezes na rua.

A teoria de Hand é limpa, simples e sensata. Mas não tem necessariamente de contar a história toda.

Todos te espiam de um modo ou de outro

Será que o Facebook espia as nossas conversas? Não, mas espia praticamente tudo o resto.

De cada vez que partilhamos uma publicação ou fazemos um like passamos a ser um target demográfico de alguém e é aqui que a teoria de Hand falha o alvo.

Num dos exemplos da BBC, uma barista disse ter-se queimado no trabalho e ido comprar uma pomada a uma loja. Quando regressou ao Facebook, este deu-lhe um anúncio da mesma pomada. Estaria Hand correcto?

Estaria, caso não fosse prática recorrente o Facebook saber quando vamos a uma loja física de uma marca. De facto desde Setembro que o Facebook está a fazer o rollout de uma ferramenta que permite às marcas mostrarem no Facebook anúncios aos utilizadores da rede social que tenham visitado as suas localizações físicas.

Os nossos smartphones possuem serviços de localização e este é o resultado. Têm também por hábito tentar conectar-se a redes abertas ou públicas em qualquer centro comercial e estabelecimento. É perfeitamente natural para o Facebook saber que o vosso smartphone esteve numa determinada loja ontem ou hoje, e logo a seguir inundar o feed de anúncios de uma ou mais marcas pertinentes.

Não é ao Facebook que temos que simplesmente apontar o dedo, mas às lojas que visitamos e que não possuem um disclaimer que nos diz que a nossa localização será recolhida e utilizada para efeitos de marketing. Entraríamos numa loja que à porta dissesse “A sua presença nesta loja será recolhida para efeitos de marketing não solicitado. Deseja continuar?”?

Independentemente de se o Facebook nos espia as conversas orais, a privacidade é hoje uma ilusão à qual nos agarramos em troca da realidade de serviços gratuitos. Todos os locais que visitamos, tudo o que compramos é hoje em dia um serviço vendido a preço de ouro de um lado para o outro e cada loja que visitamos recebe dinheiro não só pelo que lá compramos, mas pela informação que lá deixamos sem saber.

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