Se, como eu, ainda têm os vossos KEYone e Key2 e ainda os utilizam com prazer, façam-no novamente, porque poderão ser os últimos Blackberry quer verão no futuro previsível. A esperança de um novo Blackberry em 2022 parece não ter frutos para dar, agora que novos rumores indicam que a Onward Mobility fechou as portas.

A Onward Mobility era a última esperança de quem queria um novo Blackberry com teclado físico, mas depois de ouvirmos as suas primeiras promessas em 2020, e um suposto prazo de 2021 que nunca se verificou, o renovar de garantias para 2022 começava já a ter o sinal de um certo fraquejar.

O que matou o smartphone Blackberry?

Curiosamente, a Blackberry. O grande segredo dos Blackberry fabricados pela TCL não era o hardware, mas o software da empresa-mãe Blackberry e que era francamente adorado por utilizadores como eu. Do genial Blackberry Hub que concentrava notificações de todas as apps de mensagens e emails, ao Privacy Shutter ou ao cofre extremamente seguro para armazenar passwords, os Blackberry tinham associados serviços muito intuitivos e úteis, impulsionados por uma comunidade de testers envolvidos no programa de desenvolvimento. Em suma, estes smartphones conseguiam reter alguma da mística da Blackberry original quanto a facilidade de utilização e ferramentas úteis.

Mas, este ano, em Janeiro, a Blackberry anunciou o fim da vida para estas apps Android, deixando qualquer fabricante Blackberry com a missão de usar um smartphone com esse nome, mas sem qualquer software digno de tal.

Talvez a maior machadada tenha sido a venda de inúmeras patentes Blackberry a uma patent troll, uma empresa que adquire patentes não com o propósito de as utilizar em tecnologia, mas apenas para lucro fácil no seu licenciamento a terceiros. O site Ars Technica é mais radical deste comprador do Delaware, Catapult IT Innovations Inc., que adquiriu as patentes através de um empréstimo de $450 milhões e contratualizou o pagamento dos restantes $150 milhões nos próximos três anos.

Por outras palavras, a empresa tem uma bolsa cheia de patentes, e uma conta bancária com várias centenas de milhões de Dólares de dívida, o que permite adivinhar que as patentes serão rapidamente transformadas em armas judiciais para processar e obter compensação de todos os nomes que possam estar a utilizar estas patentes de alguma forma. De resto como a própria Blackberry fez quando processou por exemplo o Facebook Messenger.

Tal passo colocaria automaticamente em perigo os esforços de qualquer marca que pretendesse lançar um smartphone Blackberry apenas no nome e francamente foi um prego no caixão da marca. Um smartphone tem que ter, afinal, alguma perspetiva de lucro, o que fica extremamente difícil quando temos de pagar licenças a duas marcas diferentes e contabilizar isso no nosso ROI.

A Onward Mobility ainda não comentou oficialmente esta notícia avançada pelo site Blackberry, mas quando estes rumores começam desta forma, raramente são desmentidos. Veja-se os Lumia, por exemplo.

E o futuro?

Ao longo dos dois últimos anos, a Onward Mobility foi o nome que deu esperança a todos os fãs da Blackberry, mas parece ter sido traído pela própria Blackberry e o seu desejo de se distanciar por completo do mercado dos smartphones. Algures no tempo, a marca precisou de dinheiro rápido antes que as suas patentes expirassem e aí vendeu-as num negócio economicamente são, eticamente talvez questionável por ser extremamente previsível que a venda dificilmente contribuirá para nos lembrar que a Blackberry em tempos se chamou Research In Motion.

Com toda a certeza, se alguém chegar à Blackberry e quiser encher-lhes o bolso com royalties para poder fabricar um smartphone com o amado símbolo da amora aí impresso, de certeza que a Blackberry acede, mas com uma empresa a tentar capitalizar em processos judiciais e nenhuma app Blackberry digna desse nome, teríamos apenas mais um smartphone Android com preço inflacionado por licenciamentos. Para quê darem-se ao trabalho?

E isto é uma pena. Os Blackberry da TCL não eram perfeitos, mas nutro uma admiração ainda intensa pelo Blackberry Motion e a sua construção irrepreensível, mas também a autonomia imbatível até hoje, enquanto KEYone e Key2 são um gozo para escrevermos um artigo rápido quando não queremos sacar o portátil da secretária. Com cores em cobre, vermelho e azul, os últimos Blackberry eram mesmo irreverentes e elegantes e tinham muito potencial. Descobri mesmo que adoro utilizar aquele ecrã truncado e as teclas para emuladores de jogos clássicos.

Felizmente, ainda funcionam todos, porque de momento é aquilo com que terei de me contentar até ver.

Emulação GBA no BlackBerry KEYone e no excelente Huawei Mate 20 Lite

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