Tendo acompanhado de muito perto a abordagem da BlackBerry Mobile ao legado da BlackBerry, particularmente no segmento dos dispositivos com teclado físico, o BlackBerry Key2 LE era sem dúvida algo que eu queria experimentar avidamente. Para baixar o preço até estar em linha com outros dispositivos de hardware da mesma classe de preço (o teclado excluído, claro), a BlackBerry fez alguns cortes e concessões cujo resultado final era uma incógnita para mim. Surpreendentemente, a jogada resultou num dispositivo muito capaz, dependendo daquilo que queremos para o nosso quotidiano.

 

Lightweight e confortável

Não podemos exigir nesta gama de preço um smartphone com tudo, incluindo os serviços de segurança e produtividade dos BlackBerry. Por isso, a BlackBerry Mobile decidiu poupar em alguns materiais, e o chassi é em plástico. Bem trabalhado, rematado, mas plástico.

Podem considerar isto um ponto negativo, com o metal e vidro em moda, mas limita a possibilidade de danos graves e cria um smartphone quase ultraleve. O BlackBerry Key2 LE sente-se realmente confortável na mão e corta quase 30g ao KEYone, 20g ao Xiaomi Mi8 e consegue mesmo ganhar por 3g ao super leve LG G7. Quem passa muito tempo a escrever com o terminal na vertical, sabe que a leveza faz toda a diferença.

 

Todos os privilégios, nem mais um tostão

Desculpem, mas vi isto a acontecer com inúmeras marcas: um tratamento completamente diferente nos diferentes segmentos de preço. Menos opções de segurança, apps menos completas ou simplesmente omissas, além dos óbvios cortes ao nível do hardware.

Mas a BlackBerry teve pelo menos a sabedoria de perceber o seu core audience e os serviços são exactamente os mesmos que encontramos no mais caro Key2, de resto em qualquer BlackBerry! A acrescentar que, como os restantes Key, o LE faz parte do programa Android Enterprise Recommended.

Performance melhorada face ao KEYone

A BlackBerry trocou o Snapdragon 660 pelo mais económico Snapdragon 636, acompanhado de 4GB de RAM e um máximo de 64GB de armazenamento interno. O processador é um moderno octa-core fabricado numa litografia de 14nm e pode ser encontrado em terminais da mesma gama de preço, como o Nokia 7.1 ou o ASUS ZenFone 5.

Os BlackBerry não são particularmente fáceis para os processadores, cortesia do software extra, mas o 636 oferece uma melhoria muito notória face ao 625 do KEYone. O Key2 LE é mais rápido, mais fluída, e está perfeitamente à vontade na maioria das tarefas que possamos pensar.

 

Teclado físico justifica a aposta

Eis algo que me surpreendeu muito positivamente: a experiência de escrita no Key2 LE. O teclado é um misto daquele que encontramos no Key2 e o original do KEYone. Deste herda as teclas mais próximas e quiçá com menos altura e diferenciação, enquanto do Key2 herda o toque mais leve. Como o terminal é mais leve que qualquer um dos restantes Key, teclar no Key2 LE é agradável e rápido, bastando dizer que este artigo (e outros) têm sido compostos em movimento no teclado do LE sem qualquer dificuldade.

A disposição das teclas é idêntica à presente no Key2, incluindo a nova tecla Speed Key, que permite aceder a qualquer atalho, a partir de qualquer ecrã que não o inicial.

O LE faz, no entanto, uma concessão importante ao abdicar do teclado capacitativo. Deixamos de poder utilizar gestos como o swipe vertical para seleccionar a palavra sugerida, o toque duplo para activar o cursor, ou o swipe a partir do backspace para apagar rapidamente palavras e frases. De todas as alterações introduzidas pelo LE, esta será a mais gravosa, já que penaliza claramente o utilizador quando este comete um erro. Se estes gestos são importantes no seu estilo de escrita, então o KEYone continua a ser uma alternativa.

 

A autonomia continua excelente

Apesar da perda de 500mAh face aos restantes Key, um ponto que estou feliz que a BlackBerry tenha mantido é o Quick Charge que permite carregar metade da bateria em 30 minutos. Em termos práticos, a autonomia não me parece até agora degradada face ao KEYone, nem face ao Key2, já que o 636 é mais eficiente que o 625, e menos potente que o 660, permitindo abdicar de alguma capacidade extra de bateria. A disponibilidade deste terminal é, por consequência, alta, e não me senti em momento algum perto de esgotar as minhas possibilidades.

 

Conclusão: o essencial da BlackBerry

Mais barato, mas a que custo?

Esta é a pergunta que muitos têm feito sobre o BlackBerry Key2 LE, para perceber para onde vão os seus 200 Euros de diferença face ao Key2, e para perceber a BlackBerry foi longe demais ou não.

O BlackBerry Key2 LE não tenta ser inovador, nem revoluciona o mercado, mas é um excelente exemplo que muitas marcas poderiam seguir no futuro, sobre como oferecer o essencial da sua mística aos seus utilizadores mais die hard. A BlackBerry fez algumas concessões: optou por um processador menos potente, mas manteve uma performance globalmente superior à da geração anterior da família Key. E optou por um chassi em plástico e com isso deu-nos um smartphone mais leve e confortável para maratonas de escrita.

Mas, acima de tudo, a BlackBerry não trapaceou os seus utilizadores mais fiéis, mantendo os serviços BlackBerry intactos sem negar apps ou funcionalidades, e o melhor da experiência de escrita num teclado físico, com teclas agradáveis e funcionalidades quase completas, excepto pelo controlo por gestos. Estes são os detalhes que não podem deixar de nos atrair para o excelente exercício de utilitarismo que o BlackBerry Key2 LE representa, sendo um real esforço de uma marca a oferecer aos seus utilizadores fiéis o essencial daquilo que a torna diferente de todas as outras.

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