Uma questão tão frequentemente veiculada pela imprensa especializada e pelos utilizadores é o preço do BlackBerry Key2 face ao hardware que oferece, particularmente a ausência de um processador topo de gama, presente em outros dispositivos dentro do mesmo preço. Em resultado, existe talvez a percepção de que o Key2 é um smartphone de gama média caro, quando é efectivamente um equipamento de gama alta com um preço perfeitamente competitivo face às alternativas, pelo menos desde que nos apercebamos o que o define como tal e a utilização que lhe queremos dar.

Mas o que define um smartphone de gama alta? Este tipo de equipamentos deve combinar hardware acima da média e funcionalidades premium que não se encontrem acessíveis a outros equipamentos de preço mais baixo, mas acima de tudo não podem ser resumidos a um processador, embora o marketing das marcas tenha convencido muitos utilizadores de que o processador basta.

As alternativas reais ao BlackBerry Key2

Quando olhamos para o preço de €649 do Key2, a tentação é dizer que as alternativas são o OnePlus 6T, Xiaomi Mi 8, Sony Xperia XZ3, Huawei P20, Samsung Galaxy S9 ou LG G7 ThinQ, mas estes equipamentos são tão passíveis de alternativa ao BlackBerry Key2 quanto pensarmos que o Valentino Rossi pode ser trocar com o Lewis Hamilton e ambos continuarão a ganhar tudo o que lhes aparecer à frente. Sim, claro, iremos ficar satisfeitos com qualquer um, mas…

Todos estes equipamentos são extraordinários, conjugando potência, design e polivalência com preços perfeitamente aceitáveis e qualquer profissional conseguiria gerir a sua vida com eles. No entanto, nenhum deles está pensado (nem sequer pelos próprios fabricantes) para produtividade e utilização massiva da composição de textos ou programação.

Existem então apenas duas reais alternativas ao que o Key2 quer oferecer aos profissionais: o Samsung Galaxy Note9 e o Huawei Mate 20 Pro que acrescentam ora ferramentas especializadas no caso do Note, ou uma relação potência/autonomia impressionante no caso do Mate. Ora qualquer uma destas duas alternativas especializadas custa substancialmente mais do que um Key2.

O processador não define a gama alta

É um pressuposto errado comparar o hardware do Key2 ao da concorrência com foco no processador, caso em que o Pocophone F1 seria um equipamento de gama alta, ou teria a melhor relação qualidade/preço do mercado. Não é bem assim.

A escolha do processador tem sido “vendida” ao público fundamentalmente em termos de performance crescente, e ninguém questiona que o Snapdragon 845 é na gama dos €649 o processador mais impressionante.

Mas o “premium” atrás do qual a TCL foi é mais útil e prático para profissionais. Trata-se de uma relação entre potência de processamento e autonomia que maximiza disponibilidade do BlackBerry, e que o Snapdragon 660 faz melhor que ninguém. Para os objectivos do Key2, este é o melhor processador possível.

 

O teclado é definitivamente gama alta

Se pensarmos que a gama alta obriga a um conjunto de serviços e funcionalidades extras pelas quais estamos dispostos a pagar, então o teclado físico do Key2 é definitivamente algo a considerar. Pagar um valor extra por este teclado não é menos importante que pagar extra pela S Pen no Note9, pela câmara tripla do Huawei Mate 20 Pro, pelo Quad DAC do LG G7 ThinQ, ou pela câmara de infravermelhos do Cat S60. Cada um saberá qual a ferramenta de que precisa.

Já teci inúmeros elogios ao teclado do Key2: é simplesmente melhor que o do KEYone ao ser mais leve, ter maior espaçamento entre teclas e acabamento mate. É igualmente extremamente funcional, a possibilidade de inúmeros atalhos para acções ou apps, como a possibilidade de atribuir a cada tecla um contacto diferente para iniciar de imediato uma chamada ou uma mensagem.

A presença do teclado físico, além de se prestar a uma escrita com menos erros e mais adequada a textos complexos, significa trabalhar em ecrã dividido sem o constante redimensionamento de cada janela com a activação e desactivação do teclado, nem há lag na sua activação ao mudarmos de app, e significa igualmente que a área de ecrã disponível é superior à que encontramos em qualquer ecrã tradicional, descontado o teclado físico.

Digamos que o teclado físico do Key2 é simplesmente a única maneira de teclar com grande exactidão sem olharmos para o smartphone, no trabalho ou simplesmente a atravessar uma estrada, porque podemos precisar de escrever algo sem apanhar com um automóvel em cima.

Em última instância, o teclado físico acrescenta robustez ao BlackBerry Key2 para todos aqueles profissionais que têm de utilizar o telemóvel em condições extremamente desgastantes para o ecrã táctil, com poeira e detritos nas mãos que arranham o vidro/protector e inviabilizam a experiência touch.

Todas estas vantagens estão muito além das de um teclado virtual e ecrã completo e se não valem a pena o investimento, é porque o Key2 não é um smartphone para nós, não importa o seu preço.

 

Depois há o software

O software pode ser considerado um diferenciador para a gama alta? O software do Key2 é certamente um premium, já que recebemos de modo gratuito os serviços que noutros equipamentos são pagos à parte, ou então financiados por publicidade. Existem algumas ferramentas francamente exclusivas, como a Privacy Shade que pode ser activada para obscurecer partes do ecrã de modo a olhos curiosos não poderem ler demasiado, ou a Redactor, que permite censurar porções sensíveis em screenshots.

A TCL implementou igualmente o Locker para acesso seguro a ficheiros privados, o Password Keeper, ou a ferramenta DTEK, mas o que mais utilizo são mesmo os serviços Hub+ que agregam todas as contas e servem de gestão centralizada de todos os serviços de mensagens, emails, redes sociais, etc., e que nenhuma outra OEM inclui de raiz nos equipamentos.

Finalmente, característica certamente de gama alta é o modo como a TCL tem encarado claramente o Key2, não como um veículo de massas, mas um produto para clientes de prestígio e por isso tem mantido uma cadência irrepreensível de actualizações, não só ao nível dos patches de segurança mensais, mas das aplicações exclusivas da BlackBerry Mobile, algo que a esmagadora maioria dos equipamentos de gama média não tem por parte dos seus fabricantes.

Um último detalhe é o suporte. Já tive diversos contactos com o suporte via a app no KeyOne e nunca tive qualquer falha na resposta e atenção ao cliente.

Conclusão

O BlackBerry Key2 tem sido criticado por muitos por ser um dispositivo de gama média com preço de gama alta. Essa comparação não é de todo correta, e o Key2 é o tipo de ferramenta especializada que inclui serviços premium comparáveis aos extras pelos quais pagamos nos smartphones mais caros. A saber, a relação potência/autonomia que será a melhor do mercado, o teclado extremamente evoluído, o suporte constante ao dispositivo.

A minha apreciação do Key2 seria muito melhor com uma melhor câmara e com protecção IP68, algo que nem parece difícil de obter, tendo em conta que o teclado já é praticamente à prova de água, graças à membrana de silicone, quiçá um melhor DAC para os auscultadores. Se eu pudesse escolher, obviamente queria tudo isto, mais um Snapdragon 845 e a mesma autonomia, um teclado slider e colunas estéreo (pensando bem, este ponto é importante) mas temos mesmo de olhar para o pack completo.

Face a isto, o BlackBerry Key2 deve ser entendido como um equipamento de gama alta pura, independentemente do processador cuja escolha está mais conforme às necessidades do público-alvo que o mais potente Snapdragon 845. O preço avultado do BlackBerry Key2 tem, portanto de ser visto face aos extras que garante para o utilizador, onde a exclusividade e a personalidade própria do terminal não podem ser desvalorizadas.

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