Bom, pelas minhas mãos já passaram os Nokia 3, Nokia 5 e Nokia 6 e, de algum modo, todos mostraram o seu encanto. O Nokia 6 poderia neste sentido partir em desvantagem ao ser o primeiro Nokia a chegar ao mercado pela mão da HMD e de facto os Nokia subsequentes mostram lições aprendidas e inúmeras melhorias.

Mas o Nokia 6 foi o primeiro e é impossível não termos alguma simpatia pelo primeiro que, corajosamente, com os seus defeitos e tudo, se atira pela brecha e estabelece a primeira cabeça de ponte por onde os outros se lhe seguirão. Tudo estava sobre as costas do Nokia 6 que, por um tempo, seria o Nokia que faria só regresso da marca um sucesso ou um falhanço.

Tudo somado, há simplesmente algumas coisas no Nokia 6 que são mais eu (excepção feita ao Nokia 8. Nada bate o Nokia 8, mas essa é outra história).

 

Características principais

  • Processador: Qualcomm Snapdragon 430 (octa-core Cortex-A53 a 1.4GHz);
  • Memória: 3GB de RAM, 32GB de armazenamento interno;
  • Câmara principal: 16MP f/2.0;
  • Câmara frontal: 8MP  f/2.0;
  • Ecrã: 5.5 polegadas FHD IPS LCD;
  • Sistema operativo: Android Nougat;
  • Bateria: 3000mAh;
  • Conectividade 4G: sim;
  • Leitor de impressões digitais: sim
  • Rádio: sim
  • NFC: sim
  • Bluetooth 4.1
  • Carregamento rápido: não

Design e construção

É aqui que notamos que o Nokia 6 foi o primeiro de todos. Anunciado já em 2016 no mercado Chinês, tem o código genético geral da actual gama Nokia, mas a linguagem de design da marca Finlandesa ainda não estava desenvolvida.img_20170925_185142-01982494613.jpg

O Nokia 6 não deixa por isso de invocar os seus irmãos mais novos, mas a sua linguagem estilística diverge por completo. Há certamente o módulo fotográfico vertical na traseira e ficamos por aqui. Este é um dispositivo anguloso, ríspido.

Longe da suavidade de contornos do Nokia 5, o Nokia 6 é mais planar e tem certamente menos plástico. As laterais são acabadas em bisel, e há um rebordo pronunciado em redor do painel de vidro.img_20170925_1908121669559874.jpg

Não há outra maneira de o dizer: o Nokia 6 é másculo, militarista, um verdadeiro tanque de combate que invoca os “indestrutíveis” Nokia de outrora e é feito para homens, não meninos. E o seu look não nos deixa pensar o contrário: o Nokia 6 tem certificação contra salpicos e poeira, resiste a temperaturas extremas e humidade até 95-97%. Ou seja, o Nokia 6 promete manter-se a funcionar muito depois dos nossos corpos miseráveis começarem a dar de si. Soberbo.img_20170925_185052-02657378250.jpeg

Como é já de esperar nos Nokia actuais, o nível de construção é soberbo, com acabamentos levados até à fracção de milímetro. Depois de tudo montado e junto, além passou algumas horas a polir e desbastar a superfície do Nokia 6, criando uma perfeita integração das partes. Entre os €269 do Nokia 6 e os €600 de outros dispositivos não há grande diferença neste aspecto e a construção inteiramente em metal, com uma quantidade mínima de plástico, faz deste equipamento um dos mais resistentes do ano. Faz dele um Nokia.

Ecrã

Um ponto onde, definitivamente, o Nokia 6 encaixa mais nas minhas necessidades é no ecrã de 5.5 polegadas FHD. Este é – até agora – o único Nokia com um ecrã desta resolução e destas dimensões, sendo o phablet de excelência, quando até o Nokia 8 possui um ecrã um pouco mais pequeno (5.3 polegadas). Trabalhando constantemente num ecrã de smartphone, aprendemos a apreciar os ecrãs grandes e por isso o ecrã do Nokia 6 é mais funcional para profissionais que o de qualquer outro dos da sua família. A construção robusta funciona algo contra si, já que entre a carcaça extra a toda a volta e os lábios espessos no topo e base do ecrã, o Nokia 6 tem um corpo comparável ao de um equipamento com 6 polegadas de ecrã.

O vidro é 2.5D Gorilla Glass 3, por isso será algo mais difícil de riscar que as gerações mais recentes de vidro da Corning que são pensados para ser mais elásticos, mas o destaque vai para a excelente ideia de se incluírem teclas capacitativas no bezel inferior, não teclas virtuais no ecrã, o que anularia as vantagens dos 5.5. Estas teclas iluminam-se, o que é francamente um plus. O leitor de impressões digitais ocupa uma posição central neste lábio inferior e – ao contrário do Nokia 5 – encontra-se sob o vidro, que é uma única peça para maior resistência.

O ecrã oferece excelentes ângulos de visão e uma tremenda luminosidade, embora pareça algo atrás de alguns equipamentos mais caros. O certo é que não temos grande perda de contraste ou distorção da cor com ângulos de visão mais expressivos e a luminosidade é razoável para uma utilização em ambientes externos. Tratando-se de um ecrã LCD IPS, os contrastes são muito bons, mas os negros não são particularmente profundos, certamente adequados para esta gama de preço. Entretanto o ecrã tem uma coloração algo fria que, sendo tão descalibrada quanto as que tendem para o amarelo, encaixa melhor nas minhas preferências.

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Num ecrã cheio de boas impressões, pergunto-me apenas porque anda a HMD Global em guerra declarada contra a luz de notificações. Não é que simplesmente não a tenha, mas a versão Chinesa possuía uma e faz uma falta tremenda. No mínimo exige-se a instalação de alguma app que permita ver notificações de modo mais imediato.

Software

A HMD Global tem cumprido exemplarmente a sua promessa de software actualizado: o Nokia 6 chega ao mercado com Android 7.1.1 e à data de publicação deste artigo conta já com o patch de segurança de Setembro. Neste momento, digo à confiança que ninguém actualiza os seus equipamentos tão depressa quanto a Nokia e isso é definitivamente um ponto extra a favor da Nokia.

Entretanto, sabemos já que até ao final do ano o Nokia 6 deverá receber o Android 8.0 Oreo, com mais funcionalidades e melhor gestão da bateria, sendo possível que para o ano receba o Android P. Portanto, este é um equipamento para quem quer um smartphone com que não se preocupar durante um bom ano ou dois.

E o sabor do Android a bordo é definitivamente baunilha. A Nokia aliou-se à Google para trazer para os seus dispositivos o Pixel Launcher, com o que temos acesso algumas funcionalidades deste launcher, incluindo as acções rápidas via toques longos.

Não temos é grandes opções de configuração do dispositivo, e muitos esperarão para que a Nokia desbloqueie o boatloader para instalarem as suas ROM preferidas.

Hardware e performance

Com um Snapdragon 430, 3GB de RAM e 32GB de armazenamento interno, o Nokia 6 é o mais capaz Nokia de todos os lançados até agora com preço inferior aos €300.

Tenho sempre ficado razoavelmente impressionado com o Snapdragon 430. Este octa-core com oito núcleos Cortex-A53 a 1.4GHz de frequência máxima mostra-se sempre muito capaz, mas no Nokia 6 já se revela com limitações. O seu problema é que tem que lidar com um ecrã FHD e isso já não autoriza grandes cavalgadas.

Os jogos correrão em boa medida melhor no Nokia 5, já que este possui o mesmo chip e gráfica, mas um ecrã menos pesado. Mas consigo jogar bem World of Tanks, Dead Effect 2 ou Warship Creed sem grandes problemas, pelo que me dou por satisfeito. Nas sessões de gaming mais prolongadas, o chip aquece notoriamente, no entanto, e os tempos de loading são expectavelmente longos.

Inversamente, o ecrã do Nokia 6 é obviamente melhor para visualizarmos multimédia com maior qualidade, incluindo vídeos e eBooks. Com recurso ao NPlay da NOS e YouTube, não existiram problemas de maior e o Nokia conseguiu reproduzir bem os vídeos em FHD sem soluços.

A par com este bom comportamento no vídeo, realço a inclusão de altifalantes estéreo e Dolby Surround. Activar a ferramenta Dolby e optar pelo modo de Teatro faz uma diferença apreciável, com um som denso e profundo que tira grande vantagem deste setup áudio. Tenho convicção de que os altifalantes poderiam estar mais separados ou noutra posição para uma maior qualidade, mas o que nos dá de base é francamente positivo. Basta atirar Ragnar Lothbrok contra a muralha de escudos e o clamor da batalha é facilmente audível nos embates secos dos escudos de madeira, à gravilha que se desloca sob os pés.

É obviamente na memória interna extra e na RAM mais generosa que o Nokia 6 se distingue dos seus pares e nos dá folga extra para multitasking e armazenamento interno. 32GB são hoje em dia curtos para mim, mas perfeitamente aceitáveis num quotidiano normal.

Fotografia

Mais um ponto onde o Nokia 6 melhora sobre os Nokia que já me passaram pelas mãos, a câmara de 16MP com abertura f/2.0 oferece mais resolução e esta é bem-vinda. No geral o foco é rápido e será dos pontos fortes do dispositivo.

A app propriamente dita é, mais uma vez, praticamente stock, sem a gama completa de opções que nos permitiriam brincar com os 16MP a sério. Todavia não é isenta de truques:

Ao navegarmos para as definições profundas encontramos um modo manual ou semelhante que nos permite controlar a exposição, o modo de foco e mesmo a fotometria (ou seja a área utilizada para avaliar a exposição da imagem), o que me surpreendeu positivamente.

Podemos ainda integrar uma bússola, nível e slider para zoom no ecrã, o que vai facilitar muito a nossa vida.

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Fotografar com o Nokia 6 revela-se por isso divertido e fácil, mesmo que não tão envolvente quanto geralmente gosto

Quanto aos resultados, o Nokia 6 tem, inquestionavelmente, a melhor câmara de qualquer um dos Nokia de gama de entrada e gera resultados com bom equilíbrio e captação de detalhe. Não se verificam vícios severos nas imagens, como vinhetagem ou deterioração grave nos cantos.

Como parece ser a norma da Nokia, a nitidez não é muito realçada e os tons são relativamente naturais, equilibrados e com HDR a surtirem bom efeito, apesar de uma gama dinâmica limitada e com tendência para queimar as altas luzes.

Em condições de boa luminosidade e com alguma artimanha, o Nokia 6 será um smartphone fotográfico satisfatório e divertido de usar o que, quanto a mim, é metade da diversão. A qualidade total seria melhor se a Nokia tivesse optado por um sensor “big pixel”, recomendação que deixava aqui vivamente.

Bateria

Chegamos aqui a um ponto que deixa o Nokia 6 ficar mal. Será quiçá o único que realmente pesa contra si de forma apreciável: a bateria.

Por um lado, a bateria é de 3000mAh, que não é particularmente generosa, sem ser também anémica. Por outro lado parece aguentar-se bem ao longo do dia com utilização moderada. Quando começo realmente a puxar por ela com rede 4G e navegação, então as coisas começam a ficar curtas e é aqui que entra a grande lacuna do Nokia 6: a ausência de carregamento rápido.

É difícil perceber o raciocínio por trás desta poupança, mas é uma atenuante que o seu concorrente mais directo (o Samsung Galaxy J7) também não o possua. Em resultado disto, não há folga para emergências, e com meia hora ligados à corrente, não ultrapassamos os 10% com o tempo de carga total a ser perigosamente perto das 3 horas.

Simplesmente não.

Conclusão

Globalmente falando, o Nokia 5 poderá continuar a ser o mais equilibrado dos Nokia, principalmente quando consideramos que tem QuickCharge incluída.img_20170925_185425-012049902132.jpg

Mas o Nokia 6 justifica todo o valor monetário extra com uma construção sólida como um tijolo, um ecrã maior e de maior resolução, memória RAM e ROM perfeitamente adequadas, áudio de inegável qualidade e câmaras mais capazes.

Para profissionais e consumidores de multimédia, o Nokia 6 é a opção por excelência abaixo dos €300. Este é o tipo de equipamento onde verão muita gente a tentar fazer trabalho sério, entre documentos, e-mails, investigação e a ocasional série no Netflix ou NPlay, e irá facilitar-lhes seriamente a vida, com a robustez apreciável da construção integral em metal a funcionar certamente a seu favor.

Afinal, é expectável que seja utilizado em condições extremamente exigentes de desgaste e usura, onde poucos poderão comparar-se-lhe neste segmento de mercado. A sua durabilidade será sem dúvida um factor a ser muito apreciado por quem realmente vá depender de um smartphone resistente e duradouro que não falhe nos momentos cruciais.

Por isso não hesito em o declarar: o Nokia 6 é um Nokia para mim.

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