Investigadores estão a recorrer a tecnologias inovadoras como a bioimpressão para agilizar o processo de desenvolvimento de medicamentos, permitindo poupar milhões de dólares e reduzindo a dependência dos testes em animais.
A promessa da bioimpressão
A bioimpressão é uma tecnologia de ponta que utiliza impressoras 3D e biomateriais para criar tecidos e órgãos vivos para aplicações médicas. Construindo células e biomateriais camada por camada, é possível construir tecidos e órgãos funcionais. Apesar de ser uma clara promessa na área do transplante de órgãos, a verdade é que ainda estamos a algumas décadas de distância dessa possiblidade.
Entretanto, uma potencial mudança do jogo reside na aplicação da bioimpressão nos testes de medicamentos. Tradicionalmente, os medicamentos são testados em culturas de células bidimensionais, ou em animais, antes dos ensaios em humanos. Mas esses processos são dispendiosos e demorados, e também falham em prever com precisão todas as possíveis respostas humanas. Aqui, a bioimpressão entra para revolucionar o processo.
Os benefícios da bioimpressão no desenvolvimento de medicamentos
Ao aproveitar a bioimpressão, os cientistas podem projetar tecidos 3D que mimetizam órgãos ou doenças humanas específicas. “Organ-on-a-chip” (OOC), organoides ou tecidos de doenças específicas desenvolvidos a partir de células humanas, oferecem um modelo mais relevante para detetar a eficácia ou os efeitos secundários de um medicamento antes de avançar para os ensaios em humanos,” afirma Vidmantas Šakalys, CEO da Vital3D Technologies, uma empresa de biotecnologia especializada em soluções de bioimpressão 3D.
“Em vez de uma abordagem geral, a bioimpressão tornará possível observar como medicamentos específicos interagem com diferentes tecidos do corpo humano, trazendo aos testes de medicamentos, um nível de precisão e rapidez sem precedentes.”
Existem várias vantagens neste processo. Primeiro, a bioimpressão poderia reduzir significativamente o tempo e o custo associados ao desenvolvimento de medicamentos, o que significa que as empresas poderiam conhecer o efeito de um medicamento mais cedo, minimizando ensaios caros que falham. Em segundo lugar, esta tecnologia tem o potencial de diminuir a dependência dos testes em animais, marcando uma mudança significativa para abordagens mais humanas e eficazes nas ciências biomédicas.
Enfrentar desafios no futuro
Ainda assim, existem certos desafios a enfrentar antes que a bioimpressão possa ser adotada nos testes de medicamentos. “O corpo humano é infinitamente complexo no que diz respeito às suas estruturas químicas e biofísicas, tornando extremamente difícil criar modelos de teste que se assemelhem de perto ao ambiente necessário,” diz Šakalys. “A principal limitação é o facto de atualmente não existirem técnicas padronizadas de obtenção ou processamento de tecidos, e não existirem formulações do meio celular padronizadas ou matrizes de engenharia de tecidos bem definidas.”
Mas as empresas de biotecnologia estão a progredir, diz Šakalys. “Atualmente, o campo do desenvolvimento de Organ-on-a-chip está a crescer exponencialmente, o que sugere um futuro promissor para a adaptação ativa desta tecnologia na pesquisa. À medida que as inovações tecnológicas continuam a aprimorar a reprodutibilidade, complexidade e escalabilidade dos modelos de Organ-on-a-chip, os investigadores podem antecipar um conjunto de ferramentas cada vez mais refinado para entender a fisiologia e patologia humanas.”