Não obstante a falta de tempo, sou um apaixonado pela fotografia. Sou também um confesso admirador das câmaras Leica nos mais recentes Huawei, mas, numa recente viagem, mergulhei de cabeça e levei comigo o BlackBerry KEYone, que se tornou o meu equipamento de produtividade incontestável. O meu objectivo era provar algo de que começava a suspeitar: o BlackBerry KEYone tem provavelmente a melhor câmara fotográfica de qualquer smartphone na sua gama de preço, e atinge facilmente patamares de flagship.

 

Quase tudo a favor do BlackBerry KEYone

Uma app completa

Um pilar de qualquer smartphone digno de se considerar bom a fotografar é uma câmara com uma app que possua amplos controlos manuais e ajustes em tempo real para permitir ao utilizador adequar o resultado final ao que deseja, não aos ditames da inteligência artificial ou algoritmos. É precisamente isso que o BlackBerry oferece, com uma app que – no seu modo mais simples – nos permite encontrar no ecrã um slider para compensação de exposição, ou botões para alterar entre formatos 3:2, 4:3, 16:9 ou 1:1. Um outro toque pode activar igualmente três modos HDR: desligado, ligado ou auto. Finalmente, a destacar os filtros prontamente acessíveis.

Bastaria isso para conseguirmos algo muito interessante com a câmara, mas encontramos ainda um Modo de Controlo Manual. Aqui não encontramos meias medidas, mas um set completo de definições, incluindo tempo de exposição, ISO, compensação de exposição, tipo de foco e calibração do equilíbrio dos brancos, que pode ser definido por tipo de luz, ou temperatura, como numa câmara SLR. Na mais recente actualização, podemos esconder estes parâmetros, e encontramos uma cábula na forma de um pequeno botão “Auto” que coloca todos os settings onde a câmara pensa que devem estar, deixando-nos a possibilidade de simplesmente os ajustarmos a gosto.

A app possui ainda alguns truques escondidos, como o burst que funciona com o obturador pressionado continuamente, capturando mais de uma dezena de imagens por segundo. Podemos igualmente bloquear a exposição ao ponto de foco, com um press mais demorado: isto permite-nos capturar um foco e manter a exposição ao recompor.

Finalmente, os ajustes on the go estão implementados e ao deslizarmos o dedo para cima ou para baixo activamos sem demoras o ajuste na exposição.

Privacidade garantida

Para termos certeza que nenhuma das imagens vai parar às mãos erradas, podemos activar o Modo Cadeado: fotografar com a tecla Espaço, onde se encontra o leitor de impressões digitais significa que a imagem vai directamente para o cadeado onde fica encriptada e escondida de quem não tiver permissões de acesso.

A partir daí, só com a impressão digital as fotografias ficam visíveis. A implementação é muito interessante na sua simplicidade.

 

Experiência fotográfica intuitiva

O Snapdragon 625 é neste momento um chip algo ultrapassado, com dois anos em cima, mas que continua a surgir no mercado em equipamentos novos. Os motivos para isso são a sua grande economia energética, e uma excelente capacidade global. E uma das suas boas capacidades advém de um excelente ISP (processador de sinal de imagem, responsável por processar os dados do sensor de imagem e convertê-los numa imagem visível).

Em resultado disto, a app do BlackBerry KEYone é rápida a reagir e a capturar as imagens, sendo particularmente profícua no burst, que captura uma dezena de imagens por segundo se mantivermos o obturador pressionado. O foco também reage muito bem, e mantém a dignidade em condições de baixa luminosidade. Entretanto, o HDR que por vezes é demorado noutros smartphones, é aqui tão rápido quanto uma fotografia normal.

Finalmente, a interactividade da app é francamente positiva. Qualquer ajuste na exposição ou outro parâmetro gera imediatamente uma alteração no preview da imagem, uma experiência que não replicamos totalmente noutros equipamentos com chips mais potentes ou recentes.

 

 

Qualidade de imagem de alto nível

Bom, este é o grande diferenciador de qualquer câmara fotográfica, certo?

O BlackBerry KEYone surpreendeu-me pela positiva, mesmo que seja um convicto defensor das suas capacidades. A verdade é que até o utilizar em algumas condições muito específicas, jamais me sentiria confortável em deixar no bolso o Mate 9. Mas, quando comecei a fazer algumas chapas através de vidros polarizados, o KEYone rapidamente se separou dos restantes smartphones no nosso grupo de pessoas, já que foi o único que conseguiu obter um equilíbrio dos brancos perfeito em qualquer condição.

Este ponto é sempre extremamente difícil de avaliar, graças às diferentes percepções que temos das cores e à calibração dos ecrãs individuais, mas o facto permanece que só o KEYone conseguiu obter imagens com as cores em condições onde outros smartphones acabaram com imagens tingidas de um modo ou outro.

As fotografias são equilibradas, com apreciável captação de detalhes e acima de tudo com uma gama dinâmica respeitável e ao nível dos melhores que já passaram pelas minhas mãos. O KEYone no geral avalia correctamente a exposição e o equilíbrio dos brancos, enfrenta bem condições de luz difíceis e duvidosas para imagens naturais.

Nas fotografias nocturnas, a câmara do KEYone mostra as vulnerabilidades de uma abertura pouco ampla, mas o tratamento final da imagem é muito positivo. A imagem tem grão, mas graças a isso preserva os detalhes, onde outros preferem eliminar este grão e criar imagens demasiado tratadas. Também à noite, o resultado é muito natural e louvável.

Uma palavra para o vídeo

Não sou videógrafo, pelo que o vídeo é algo que geralmente me passa ao lado. No entanto, o vídeo no BlackBerry KEYone merece uma nota: diversos dos vídeos que temos publicado nos nossos artigos são filmados com o KEYone.

A app é bastante incompleta no vídeo, carecendo do modo profissional mais avançado de alguns equipamentos que incluem opções quanto ao tipo de foco, por exemplo. O KEYone permite apenas ajustar a exposição. Em contrapartida, o vídeo oferece uma boa qualidade final e a estabilização digital funciona de modo surpreendente.

Espaço para melhorar

Neste momento consideraria a app fotográfica da BlackBerry uma das melhores e mais funcionais do mercado, equivalente LG ou Huawei, e algo superior à da BQ. No entanto há duas omissões que eu gostaria de ver corrigidas: por um lado, no modo manual não encontramos o tipo de fotometria, que eu considero ser das opções mais úteis de todas.

Passo a explicar: um sensor fotográfico determina a exposição com base em diversas opções de medição da luz. Tradicionalmente, em modo automático, mede-se a luz global e procura-se um equilíbrio, com a dificuldade de manter luzes e sombras em cenas de alto contraste. Em alternativa, alguns modos manuais incluem a fotometria pontual ou ponderada ao centro. Estes modos significam que podemos escolher uma medição num ponto específico, que será o nosso ponto de interesse, e que terá vantagens enormes para destacarmos determinados pormenores. A acrescentar que o modo manual só pode ser accionado a partir das definições, quando seria preferível um acesso rápido.

Por outro lado falta-lhe o formato RAW, que permitiria uma edição mais personalizada e intensa após a toma fotográfica.

Conclusão

Há vários anos que tenho alguns paradigmas fotográficos e sou particularmente exigente neste ponto. A maioria de nós pensa que só os smartphones absolutamente melhores tiram as fotografias absolutamente melhores. O estado da arte da fotografia não me permite mudar um ponto a esta crença que está mais do que validada.

No entanto, a TCL equipou o BlackBerry KEYone com o melhor sensor disponível para o mercado na altura, o Sony IMX378 disponível nos Google Pixel de primeira geração. Um sensor em smartphones diferentes dará resultados obviamente diferentes, e aqui temos que tirar o chapéu ao pessoal da TCL, já que na minha opinião a câmara do BlackBerry tem resultados capazes de rivalizar com qualquer smartphone de gama alta da sua geração e mantém-se altamente competitiva a todos os níveis, apesar de novos equipamentos terem chegado ao mercado.

O segredo aqui foi conseguirem empenhar-se nesta câmara olhando para o KEYone como um equipamento de gama alta (que é), criando bons algoritmos, app extensa e resultados finais equilibrados e detalhados. Já diversos equipamentos com Snapdragon 625 ou 630 passaram pelas minhas mãos e posso dizer com segurança que o BlackBerry KEYone tem globalmente a melhor câmara num smartphone com processador de gama média. Apesar das diferenças de preço e hardware, o KEYone não empalidece quando colocado lado a lado com equipamentos como os Google Pixel, Galaxy S9 ou mesmo os Huawei Mate 9 e 10.

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