Conduzir: pensem nisso. É uma habilidade preciosa do ser humano. Não precisamos pensar em veículos autónomos. Podemos pensar em carroças, cavalos, elefantes de guerra, aviões. Ou podemos pensar nas simples caminhadas com que os nossos antepassados povoaram a Terra. A orientação e controlo locomotor fazem parte do cérebro humano desde sempre, fazem parte das ferramentas que nos permitiram dominar o planeta. Os carros autónomos não só querem tirar-nos isso, como serão mais uma oportunidade de ócio e lixo multimédia, segundo a Intel e a Warner Bros.

Viajar é um prazer em si mesmo, e conduzir um veículo faz – para muitos – parte da excitação. As novas tecnologias querem, no entanto, colocar um carro nas mãos de qualquer um, mesmo sem necessidade de condução. Daqui a muitos anos poderemos perceber como isso alterará fundamentalmente o cérebro humano, pois é mais uma tarefa que deixaremos que as máquinas façam por nós, e menos uma ferramenta que exercitaremos quotidianamente.

Mas há pior.

Durante o Los Angeles Auto Show, Intel e Warner Bros anunciaram uma parceria para desenvolver entretenimento para os ocupantes de veículos autónomos.

Parece excelente, mas vamos ver as coisas por este lado: a nossa próxima viagem de carro até às férias no Algarve não será passada a desfrutar da paisagem e das localidades, mas enfiados no Intel e Warner Bros chamam de “entertainment pod”, rodeados de convites e incentivos para usarmos mais algumas horas a olhar lixo televisivo e mediático. E isso é ridículo.

Entrar num carro autónomo no futuro será ficar encerrado durante algumas horas no equivalente sobre rodas de um Facebook, de onde não haverá grande escapatória para fugirmos de conteúdos patrocinados e todo o tipo de coisas horrendas que só faríamos em casa no sofá atá adormecer.

Não é uma ideia fixe, Intel!

E, no entanto, não parece haver outro caminho. As horas encerrados num carro que faz tudo sozinho sem necessitar de input serão uma mina de ouro para as grandes multinacionais do entretenimento. E poderemos tentar resistir, poderemos mesmo tentar fugir, mas não podemos censurar a Intel por tentar apanhar-nos primeiro: se ela não o fizer, outros o farão.

Lembram-se de controlar os pedais, agarrar o volante e sentir o carro ronronar por baixo de vós? Aproveitem enquanto podem. O futuro serão horas de reality shows e publicidade.

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