É apenas um primeiro passo que mudará muito o mercado Europeu: a “ameaça” Xiaomi instalou-se oficialmente em Espanha no passado dia 07 de Novembro. Embora a concorrência da Xiaomi vá alargar-se a todas as marcas, são marcas locais como a BQ aquelas mais sujeitas a sentirem o impacto.

A BQ especializou-se em equipamentos com bom compromisso entre funcionalidades e preço final para o consumidor. A marca transformou a concepção e fabrico de equipamentos económicos numa espécie de arte. Ao contrário de outras concorrentes que adquirem desenhos de referência para rebranding, a BQ manteve o estrito controlo do desenho e concepção dos seus dispositivos, adquirindo um extenso e importante know-how no mundo móvel que vai desde o design ao software, passando pela engenharia dos componentes. É um know-how no qual a Europa foi um dia rica e é hoje deficitária.

Mas chega este know-how para enfrentar a chegada da concorrência Chinesa? Eis o caso do BQ Aquaris V.

 

Características técnicas

  • Processador: Qualcomm Snapdragon 435 a 1.4Ghz
  • Memória: 2/3GB de RAM, 16/32GB de armazenamento interno;
  • Câmara principal: 12MP f/2.0;
  • Câmara frontal: 12MP f/2.0;
  • Ecrã: 5.2 polegadas HD
  • Sistema operativo: Android Nougat;
  • Bateria: 3100mAh;
  • Conectividade 4G: sim;
  • Leitor de impressões digitais: sim
  • Rádio: sim
  • NFC: sim
  • Bluetooth 4.2
  • Carregamento rápido: sim

Construção e Design

O design do BQ Aquaris V é reminiscente do seu antepassado genético, o BQ Aquaris U Plus de 2016, mas evolui-o com uma construção muito mais ponderada onde a carenagem de alumínio se integra nos componentes restantes com maior fluidez de linhas. O início da curvatura para as laterais é certamente mais amplo e estas são algo ovais, consequentemente mais suaves e confortáveis que as linhas minimalistas do U.

Embora tenha a dizer boas coisas da ergonomia do U, o BQ Aquaris V melhora-a e aumenta apreciavelmente a solidez do dispositivo que se sente como razoavelmente rígido, mesmo se não tão resistente quanto os dispositivos integralmente em metal.

Entretanto, o ecrã adopta a fisionomia 2.5D, com rebordos razoáveis para o seu segmento, num formato 16:9 típico e com as teclas virtuais na base. Mais uma vez, seria ideal que se iluminassem, já que em baixa luminosidade se tornam de difícil utilização.

Ecrã

O ecrã do BQ Aquaris V é uma unidade de 5.2 polegadas HD, com tecnologia IPS e, de modo consonante com isso, os ângulos de visão são bons e com boa manutenção das cores, mesmo quando se fecham um pouco, mas não demais. O Aquaris V continua, de facto, a tradição da BQ de oferecer bons ecrãs em qualquer gama de preço, mas este não é o seu melhor esforço.

Um ponto de destaque do ecrã do Aquaris V é a luminosidade expandida que aumenta significativamente o brilho do painel à luz do dia, com uma diferença significativa face ao que conseguimos com a luminosidade adaptativa. A opção é muito bem-vinda para facilitar a leitura sob a luz do sol, face ao oferecido por muitos concorrentes que não se saem tão bem neste segmento.

De um modo geral, o ecrã é muito capaz e a resolução HD não prejudica a qualidade de visualização excepto em conteúdos multimédia que poderiam realmente usufruir de uma resolução maior. Cores e contrastes são também muito positivos, mas não tão intensos quanto observamos no mais caro Aquaris X, por exemplo, com cores mais atenuadas e pretos menos profundos. O maior problema deste ecrã será, no entanto, o esmagamento dos detalhes nas sombras com ângulos de visão mais apertados, inevitavelmente prejudicando a experiência multimédia de modo inesperado.

Software

Este é um ponto que já cobri aqui. Dito de modo simples, o software da BQ é extremamente interessante e coloco-o entre as minhas iterações favoritas do Android. Efectivamente, será a minha versão preferida entre todos os dispositivos que se dizem possuir Android stock.

Aqui temos de facto Android stock, sem bloatware, mas a BQ introduz a sua já usual série de alterações que são muito importantes, como a programação da luz de notificações em cor, intensidade de pulsação ou ligar/desligar enquanto o smartphone carrega, o Ambient Display com duplo toque para acordar e suspender, ou a possibilidade de ajustarmos a intensidade da vibração.

Claro que, sendo isto Android stock, não temos um explorador se ficheiros, algo que poderá ser remediado com o novo Google Files Go, ou o meu favorito ASUS File Manager.

O ponto mais positivo em termos de software é que a BQ tem mantido o seu compromisso de actualizações das aplicações e do sistema operativo. Embora o patch de segurança seja somente o de Setembro, o Android já vai na versão 7.1.2., e as apps têm sido actualizadas frequentemente, em boa parte porque são apps do Google, mas também no caso da câmara. O Android Oreo aguarda-se para breve, e será fundamental para o atractivo deste dispositivos face à concorrência Chinesa.

Hardware e performance

Se já tiveram a oportunidade de ler o nosso comparativo entre o BQ Aquaris V, o Nokia 5 e o Samsung Galaxy J5, saberão o respeito com que temos que tratar o hardware deste equipamento. Na sua versão com o Snapdragon 435 acompanhado de 3GB de RAM e 32GB de armazenamento interno, o BQ Aquaris V será dos melhores dispositivos na sua classe de preço.

Quanto ao que este hardware consegue fazer, o Snapdragon 435 é um chip bastante respeitável que permite uma utilização perfeitamente soberba da interface. É justo dizer que teremos uma performance muito boa dentro desta categoria. No entanto, a versão com 2GB poderá ficar aquém das expectativas dos utilizadores mais exigentes quanto a multitasking.

As limitações do Snapdragon surgem, expectavelmente, no gaming. Como tem sido a minha experiência com esta classe de processadores, os jogos mais intensos correm bem, embora não nos encontremos ausentes de soluços, enquanto as fps não permitem uma grande fluidez. O seu comportamento está, de qualquer modo em linha com qualquer outro equipamento da sua gama de preço, na minha experiência ficando somente algo atrás do Nokia 5, mas à frente dos equipamentos comparáveis com gráficas Mali.

Aqui, o ecrã HD mostra algum dinamismo, permitindo ao Aquaris maior agilidade nos jogos e gráficos intensos que em concorrentes com ecrãs mais detalhados, caso do LG Q6 cuja Adreno se mostra algo sobrecarregada pelo ecrã FHD.

Portanto, a performance do BQ Aquaris V excede o mínimo necessário para uma utilização agradável do dispositivo, e ainda nos dá a folga necessária para trabalho mais intenso e utilização de apps mais pesadas. Face à sua concorrência, o Aquaris sobressai ligeiramente na maior parte dos benchmarks, com uma pontuação igualada quase à décima pela Xiaomi Mi 4X com quem partilha o chip.

Áudio e telefonia

O BQ Aquaris V não possui as ferramentas áudio da Dolby que possuem alguns dos seus companheiros de marca. Na minha opinião perde algo com isso, principalmente como dispositivo de leitura de música. Não será certamente um equipamento para audiófilos, não obstante ter um bom comportamento neste campo. A BQ pode fazer melhor nesta gama de preço e gostaria que o fizesse no futuro.

A telefonia é boa, algo abafada talvez, enquanto o altifalante produz níveis razoáveis de volume. O seu posicionamento torna-o propenso a ser abafado durante visualização de conteúdos multimédia, no entanto.

Fotografia

Bom, é sempre aquela parte em que eu cruzo os dedos para ter algo de emocionante para dizer. Muitos fabricantes simplesmente usam o mínimo que podem e isso é imperdoável numa altura em que os smartphones são os herdeiros das máquinas fotográficas. Mas podemos contar sempre com a BQ para nos dar boas especificações fotográficas.

A BQ aposta forte na experiência fotográfica geral, como um caminho para chegar a um resultado. Nesse sentido, o BQ Aquaris V terá a melhor app fotográfica da sua gama, desafiado apenas pelo LG Q6, e a sua qualidade fotográfica deve pouco aos melhores concorrentes Coreanos.

O nível de detalhe oferecido pelo Sony IMX386 é muito interessante para a gama de entrada. Quando nos perguntamos porque cobra a BQ determinado preço por um equipamento, podemos olhar para este chip da Sony, com 12MP e foco por detecção de fases. Do Xiaomi Mi 6 ao Meizu Pro 7, passando pelos Xiaomi Mi Mix 2, Moto Z2, o IMX386 é um sensor de confiança na gama alta e isso diz tudo. A BQ poderia ter cortado no orçamento aqui e não o fez, e isso é excelente e todos os níveis.

Como o hardware conta apenas metade da história, a BQ deve ser louvada por incluir uma das melhores apps fotográficas no mercado, num segmento onde muitos fabricantes não se incomodam. Com um controlo manual completo, a app fotográfica do Aquaris V é fácil de usar e oferece excelentes resultados com controle criativo, autorizando ainda captura em RAW para dar mais ferramentas aos editores aficionados.

O sensor responde muito bem, embora esteja limitado pelas capacidades fotográficas do Snapdragon 435 que lentifica um pouco o processamento da imagem, particularmente em HDR.

Ora se as imagens possuem bom detalhe sem vícios, é então a experiência fotográfica que leva o prémio. Fotografar com o Aquaris V em condições ideais de luz assemelha-se muito a uma experiência de gama alta.

Bateria

A bateria do BQ Aquaris V é razoável, mas não brutalmente generosa. Os seus 3100mAh são do melhor que podemos encontrar neste preço, comparando-se bem com os seus concorrentes, como o Xiaomi Mi A1 com os seus 3080mAh.

Com um ecrã HD e um processador económico, o Aquaris V faz render bem a sua bateria, mais do que os seus concorrentes com ecrãs de maior resolução. No entanto ainda fica algo aquém da disponibilidade do Xperia XA1 Plus, mas consegue chegar ao final do dia com sumo para alguma segurança.

A sua maior vantagem é a inclusão de um carregador Quick Charge 3.0 que nos ajuda a recuperar de qualquer percalço.

Conclusão

O BQ Aquaris V pode ser comparado favoravelmente com qualquer dispositivo actualmente no mercado na sua gama de preço e, particularmente com o Snapdragon 430/435. O dispositivo em si mesmo é altamente conservador e pragmático: não possui a construção integral em metal do Nokia 5, nem o ecrã full display do moderno LG Q6.

Em troca, não abdica de nada e inclui todas as grandes características que esperamos encontrar num smartphone completo, incluindo NFC e leitor biométrico. Não podemos contornar aqui a proeza que é, para uma empresa da dimensão da BQ, criar um dispositivo que rivaliza ou supera as ofertas das grandes marcas. De facto, a BQ não tem os meios de uma Samsung ou de uma Xiaomi, mas consegue fazer um produto não só competitivo, como bem pensado, ponderado, onde se nota que os seus recursos foram bem mobilizados para o melhor possível dentro das suas possibilidades.

Algumas concessões foram feitas, com um design agradável se bem que minimalista, um ecrã pouco expressivo e pouco valor acrescentado no áudio. Mas, a seu favor, o BQ Aquaris V conta com uma excelente câmara, software cuidado e actual, boa construção e uma lista completa de especificações técnicas. É inquestionável: se não o mais completo, o BQ Aquaris V será sem dúvida dos smartphones mais surpreendentes actualmente no mercado com o Snapdragon 435.

Mas o mundo mudou e a concorrência das grandes marcas Chinesas faz-se sentir, agora que algumas fazem a transição do mundo online para lojas oficiais na Europa. Estará a BQ preparada para elas? A resposta não se resume aos smartphones por si só, mas é certo que neste capítulo a BQ prova que sabe conceber smartphones tão bem quanto os melhores do mundo da tecnologia.

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