Algumas marcas controlam estritamente quem e em que condições alguém vê os seus produtos ainda por oficializar. Fazem isto porque não querem correr o risco de verem qualquer marketing arruinado pela chegada à Internet de um modelo inacabado e com problemas. A Google, no entanto, tem um historial sólido de fugas de informação, mas desta vez foi longe demais e alguém pode ter enfiado a faca em qualquer hipótese de sucesso do Google Pixel 3 XL ao publicar um unboxing do dispositivo só porque não conseguiu resistir a angariar cliques. E a Google vai ficar mal na fotografia.

Eis o problema: sabíamos que o Google Pixel 3 XL já andava pela Internet e publicamos há uma semana um artigo bastante claro sobre a opção estética da Google por um notch demasiado estranho, mesmo para um notch. Excepto que o equipamento por nós mostrado era um dispositivo de validação da engenharia, e tinha mais do que fortes possibilidades de ser um design antigo, longe de ser refinado, e longe do design final.

O vídeo do unboxing, no entanto, mostra um pacote completo e surpreende pela positiva, com a inclusão de auscultadores USB-C na caixa, um excelente toque, sempre. Mas, ao mesmo tempo, confirma o notch excepcionalmente profundo ainda que estreito, que em combinação com um lábio inferior nada modesto contribui para criar um ecrã que tenho de considerar extremamente desagradável ao olhar. É quase inacreditável que a Google aprovasse este tipo de opção.

É certo que não será o bastardo genético entre Pixel e um iPhone que o HTC U12 Life promete ser, mas o Pixel 3 XL não é, nesta fase, um design consensual e o vídeo não ajuda. Os renders que publicamos recentemente, cortesia de @onleaks, são muito mais positivos e interessantes, e representam pelo menos algum esforço para mostrar correctamente os contornos do dispositivo, parecendo este muito mais elegante e interessante.

Se leram este texto até aqui, devem estar a perguntar-se onde está o vídeo. Pessoalmente considero que a sua publicação constitui o ultrapassar de uma linha que quebra injustificavelmente a confiança entre a Google e quem o publicou, não menos pela fraca qualidade do vídeo, pelo que optei por não o publicar, mas vocês têm direito de o ver: link.

Expectavelmente, um pouco por todo o lado, as reacções têm sido excessivamente negativas quanto às opções estéticas do Google Pixel 3 XL, criando uma onda de desagrado que não favoreceu o sucesso do dispositivo, muito pelo contrário. Quando este chegar ao mercado, estará já manchado por uma reputação negativa.

A Google não pode deixar isto acontecer

Se a Google tem um historial muito interessante de não proteger os seus segredos, deixando pistas aqui e ali, esta fuga de informação é um pontapé violento na canela. Ninguém espera que os novos Pixel sejam revelados antes de Outubro, pelo que é importante explicar como é que uma embalagem completa chega à Internet, quando obviamente a Google não o autorizou.

Neste momento da sua linha criativa, a Google deveria estar a planear o marketing para este dispositivo, a planear os chavões a ecoar no lançamento oficial. Em vez disso, estará a fazer controle de danos, face a uma comunidade techie que não deixou de ser particularmente vocal quanto ao seu desagrado. A Google tem agora de se mexer, porque quando o Pixel 3 XL for mostrado em palco, já praticamente toda a gente terá ouvido falar dele, e não por boas razões. Digo-vos: haverá memes, e não serão simpáticos.

Não há ninguém nesta vida de blogger que nunca tenha visto muito tempo antes do lançamento algum dispositivo, e não tivesse a tentação de chegar primeiro à publicação. Quem nunca? Mas a maioria compreende que existem detalhes que se podem publicar, dados que se podem mostrar, mas que existe igualmente uma linha que – se ultrapassada – pode arruinar toda a estratégia de mercado, todo o marketing cuidadosamente planeado de uma marca. E sabemos também que é fácil perceber de onde chegou um dispositivo, colocando em perigo os empregos das pessoas. Google e Apple já despediram diversos funcionários por filtrarem informação para a imprensa. Num caso particularmente notável, em 2017, a Apple despediu um engenheiro cuja filha filmou o iPhone X antes da oficialização.

Com dois meses até ao lançamento, neste momento nem podemos ter certeza de que este seja mesmo o dispositivo final, ou que a Google não tenha disfarçado o seu design para despistar a concorrência. É um velho e bom truque do livro da LG! Mas não tenho grande confiança nisso.

De uma coisa tenho certeza: se a Google ainda for a tempo de atrasar o lançamento para melhorar este design, deve fazê-lo e transformar este desastre de PR em algo positivo.

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