Ensaio Renault Kadjar: como as portagens em Portugal criam um exclusivo

Quando começaram a surgir os primeiros pormenores do novo Renault Kadjar, este conseguiu reter a atenção de quase toda a gente. Esta seria a aposta da Renault para entrar no disputado segmento SUV, que conta com uma grande concorrência e uma procura cada vez maior. Mas a verdade, é que o modelo foi apresentado à Europa e só um ano e meio depois é que teve a oportunidade de chegar a Portugal. A razão é muito simples: fruto das ridículas leis que vigoram em Portugal, o Kadjar exactamente como estava, iria pagar Classe 2 nas portagens portuguesas devido ao sistema de dupla tributação nos automóveis.

Esta era sem dúvida alguma, uma situação muito complicada para a Renault, dado que logo à partida estaria a limitar muito o negócio da marca em Portugal. Os franceses, talvez depois de se rirem (e muito … ) da ridícula legislação Portuguesa, decidiram meter as mãos ao trabalho e criaram um Kadjar único para conseguir pagar Classe 1 nas portagens (apenas com Via Verde, claro). E sim, leu bem. É mesmo único, e apenas está disponível em Portugal. Mas como? Os engenheiros franceses pegaram no Kadjar, retiraram-lhe o eixo traseiro semi-rígido e substituíram-no por uma suspensão multi-braços mais complexa (igual ao da versão 4×4), atirando o peso para os 2305kg e permitindo assim a homologação como Classe 1 deste SUV Francês.

A vantagem no meio do problema!

No meio de todo o problema, é lógico que surgiram vantagens, como é o caso do comportamento dinâmico do Renault Kadjar. Graças às novas suspensões, este é um SUV bastante bem comportado nas estradas, com um rolamento de carroçaria pouco pronunciado. O conforto apresenta-se com um bom nível, quer seja nas estradas mais desgastadas, quer seja nos estradões de terra batida por onde andamos. Não existem grandes oscilações, assim como não há uma postura demasiado desportiva, apesar de se notar alguma firmeza. E para aqueles que se possam assustar com os 20cm de distância ao solo, fiquem a saber que se nota sempre bastante segurança a curvar, com uma performance bastante interessante.

Apesar de este não ser um 4×4 (não está sequer disponível em Portugal), o Kadjar porta-se bastante bem fora de estrada. Mesmo em algumas situações mais complicadas, o sistema Extended Grip é um poderoso aliado, potenciando a tração e a evolução em percursos onde outros veículos com uma menor altura ao solo nunca conseguiriam chegar. É claro que temos que ter sempre em conta que este não é um Todo-o-Terreno, mas o Renault Kadjar apresenta sempre um grande à vontade para algumas brincadeiras em off-road.

Interiores longe do habitual, mas sem desiludir

O Renault Kadjar foge um pouco daquilo que tem vindo a ser a evolução da marca nos seus últimos lançamentos no que diz respeito a interiores. Aquele look tecnológico que tem vindo a acompanhar os novos Megane e Talisman, não está presente neste SUV mas, ainda assim, a qualidade interior encontra-se presente. Ao nível da gama média do segmento, existe sempre uma sensação de bem estar a bordo.

Na traseira podemos encontrar uma mala com 527 litros de capacidade, capaz de permitir passeios em família sem termos que nos preocupar com as malas. Mas é na mala que também se encontra uma outra vantagem da alteração da suspensão do Renault Kadjar, já que o peso máximo de carga admissível passou para uns estrondosos 879Kg. Duvidamos muito que alguém consiga por este peso todo na mala do Kadjar, mas ainda assim são números impressionantes e passíveis de registo.

Para quem procura um crossover familiar, e que tem no topo das suas preferências o conforto e o espaço interior, então é garantido que o Kadjar não irá desiludir. No banco traseiro, é possível acomodar dois adultos com muito espaço, sendo que uma terceira pessoa terá que abdicar um pouco do seu conforto (mas não muito).

Para quem conduz, o Renault Kadjar permite uma posição de condução alta o suficiente para nos fazer sentir num SUV, mas não tão alta que nos leva a pensar que assumimos o papel de camionistas, como é o caso de alguns modelos do segmento. Esta posição de condução irá agradar aqueles que pretendem fazer viagens tranquilas, dada a boa visibilidade que proporciona.

O peso dos 18 meses de atraso a chegar ao mercado, vê-se no ecrã de 7 polegadas que equipa este Kadjar. Destoa, ainda para mais quando vemos a circular Megane, Espace, Talisman ou Scenic com um ecrã muito maior e mais legível. Na verdade, dada a configuração do tablier, não há espaço para um ecrã maior. Esta configuração deve-se ao facto de o Kadjar ter sido lançado antes destes novos ecrãs terem visto a luz do dia. A culpa, mais uma vez, é da legislação Portuguesa (já disse que é ridícula certo?)

Mas afinal, o que é este Renault Kadjar?

A Renault pode não gostar muito da comparação entre o seu Kadjar e o Nissan Qashqai, mas a verdade é que esta tem que ser feita. São dois modelos com muitas semelhanças, e a prova disso é que conseguem partilhar cerca de 60% das peças. São dois irmãos, a concorrerem no mesmo segmento, em que até a nível de volumetria se apresentam muito parecidos.

É claro que depois, quando chega a altura de comparar o interior e o exterior, é possível notar várias diferenças. O Qasqhai apresenta um interior mais requintado e linhas mais retas no exterior, enquanto que o Kadjar se apresenta mais simples a nível de interiores, e com um design exterior mais relevante e possante.

O Kadjar encontra-se disponível apenas com o motor 1.5 dCI de 110cv, um motor já bem conhecido no mercado e com provas dadas. É verdade que quando se olha para o tamanho e peso do Renault Kadjar, o primeiro pensamento que vem à cabeça é de que este deveria estar equipado com o 1.6dCi de 130cv, mas a verdade é que apesar de o 1.5 ser menos potente, torna-se mais suave na utilização.

É certo que este motor não deixa o Kadjar ser um carro para corridas ou para ganhar nos arranques de semáforos, mas acaba por assentar que nem uma luva. A nível de consumos, o Kadjar surpreende pela positiva, sendo que o consumo combinado anunciado pela marca é de 3,9l/100km. Nós nunca conseguimos baixar dos 5.5l, o que continuam a ser valores muito interessantes. Suave e com dinamismo suficiente para não nos deixar “apeados” com a falta de potência, permite ultrapassagens sem qualquer tipo de problemas, apesar do peso do carro. A caixa está bem escalonada e permite explorar tudo do que o motor nos tem para oferecer.

Renault Kadjar, um SUV que convence

Fácil de conduzir, espaçoso, confortável, consumos e desempenho agradáveis. São tudo características que só nos podem dizer que este Renault Kadjar será sempre uma boa escolha caso esteja para comprar um SUV. O preço também é bastante atractivo, a começar nos 32,210€, sendo que as ajudas de condução são fornecidas em packs extra de equipamento. O melhor é mesmo consultar o configurador oficial da marca, e verificar qual o preço final da solução que melhor se adequa a si.

Além de todas estas vantagens, há o factor exclusividade. Afinal de contas, quem não gosta de ser um pouco diferente do normal e ter um carro que é exclusivo? Relembro, este Kadjar apenas está disponível em Portugal, e conta com uma suspensão feita apenas e só para o nosso país. E sim, esta foi mais uma oportunidade para insultar a lei que dita que o Kadjar deveria ser Classe 2 nas portagens.

Mais a sério, o Renault Kadjar apresenta-se como uma excelente alternativa no mundo dos SUV. Comparando directamente com o seu maior rival, o irmão Qasqhai, este SUV francês acaba por perder um pouco a nível de equipamento, mas isso também se reflecte no preço. Assim, podendo poupar algum dinheiro, é possível optar por um Qashqai com algumas alterações, com marca Renault, e ficar com um carro exclusivo. Parece um bom negócio não é? Pois, eu cá acho que sim!