Os consumidores encontram-se hoje envolvidos numa luta de marketing pelo melhor e mais moderno smartphone do mundo, mas no meio de tanto conceito com copyright e esotérico parece que alguns fabricantes se esqueceram de como se desenha um smartphone puro e duro. O tipo de equipamento simples, funcional, e carregado de octanas que dá prazer utilizar sem tentar ser perfeito para simplesmente falhar como todos falham. Não é de todo inesperado que seja a Nokia a colocar no mercado precisamente um dispositivo deste género, na forma do Nokia 8.

Todos sabemos a definição de “utilitarismo”: Agir sempre de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar (Princípio do bem-estar máximo). Simbolizando o culminar do regresso da Nokia aos smartphones, o Nokia 8 deu novas esperanças e expectativas a muitos, e chegou carregado de argumentos. Não será um smartphone perfeito, mas a sua mística é incontornável.

Características técnicas

  • Processador: Qualcomm Snapdragon 835 a 2.5GHz
  • Memória: 4/6GB de RAM, 64/128GB de armazenamento interno;
  • Câmara principal: 13MP + 13MP f/2.0 com OIS;
  • Câmara frontal: 13MP f/2.0;
  • Ecrã: 5.3 polegadas QHD
  • Sistema operativo: Android Nougat (actualizado ao Oreo em Dezembro);
  • Bateria: 3090mAh;
  • Conectividade 4G: sim;
  • Leitor de impressões digitais: sim
  • Rádio: não
  • NFC: sim
  • Bluetooth 5.0
  • Carregamento rápido: sim

A ergonomia irrepreensível do design

Bem, eu tive desde sempre algumas dúvidas quanto ao design do Nokia 8. Na minha mente invocava-me demasiado o do Nokia 5 e o que estava bem para um smartphone abaixo de 300 Euros não estaria tão bem quando o preço chega a 600. A minha esperança era ter em primeira mão um dos modelos premium em azul ou cobre polido, mas tal possibilidade não se concretizou talvez pelo melhor, já que me fez ter outra apreciação pelo desenho da versão standard do Nokia 8.

Se olharmos para ela não encontramos nenhum detalhe particularmente extraordinário, mas também não encontramos qualquer vício. Os bezels não são finos como os de um LG G6, mas não são tão desérticos quanto os de um Sony Xperia; não temos a superfície de vidro tão requisitada do Samsung Galaxy S8, mas também não temos o seu leitor biométrico mal localizado. E não temos o design de materiais mistos do Google Pixel 2, nem a colagem ao iPhone do OnePlus 5.

O Nokia é um smartphone que segue no seu próprio caminho pelo meio da estrada, algo alheio ao que os outros fazem e consegue, com isso ser absolutamente apaixonante. Quando, daqui a um ano ou pouco mais, o design vincado de alguns dispositivos sensação do ano os fizer parecer desesperadamente ultrapassados, a discrição do Nokia 8 continuará a ser placidamente bela.

O que em nada se alterará será a sua ergonomia. Mantenho o que já disse: ao fim de alguns meses de utilização, o Nokia 8 tem simplesmente a melhor ergonomia de 2017. Ao optar por uma construção monobloco, traseira e laterais são ininterruptas e a curvatura junto ao exterior faz com que a mão simplesmente o abrace sem qualquer interrupção nesta continuidade absolutamente Zen. Face à miríade de dispositivos com construção em metal e vidro, o Nokia 8 é simplesmente mais agradável de tocar, e o tacto também come.

Uma área em que tive dúvidas foi na integração de antenas ao longo de topo e base do dispositivo. São demasiado espessas e tiram algum do charme ao design, mas a minha preocupação era que, com a utilização continuada deixasse marcas, particularmente nas entradas do jack e USB-C. Ora como me explicou a HMD, este não é bem o mesmo plástico do Nokia 5, e claramente recebeu ali um tratamento auto-selante, já que não encontro ao fim deste tempo arranhões ou lanhos.

Os acabamentos são, por isso, irrepreensíveis. Nota-se ao mais ínfimo pormenor que a HMD gastou tempo e recursos nos retoques finais do Nokia 8 e tudo encaixa com excelente rigidez e integração dos diversos elementos. Acima de tudo, mesmo com ele no bolso e sem capa protectora, a superfície matizada não mostra sinais de marcas ou danos. Tive pior sorte com outros equipamentos em menos tempo.

Ecrã soberbo

2017 viu a ascensão pura e simples dos ecrãs bezel-less e, já na recta final, dos ecrãs 18:9. Com o Nokia 8 a HMD não foi por nenhum desses caminhos e muitos poderão apontar-lhe isso, mas deixem que vos dê um conselho: nunca troquem qualidade de visualização por moda. Fora as tendências estilísticas actuais, este é um ecrã de qualidade flagship.

Com uma resolução 2K em 5.3 polegadas, densidade de pixéis de 554, é quase impossível encontrarmos um ecrã de maior resolução no mercado neste momento. Este foi certamente dos melhores painéis LCD que passou pelas minhas mãos ao longo do ano: cores vibrantes, excelentes contrastes e ângulos de visualização verdadeiramente amplos são os seus grandes destaques.

Pensemos que iluminar tantos e tão pequenos pixéis não é fácil, e por isso o ecrã será dos maiores responsáveis pelo consumo de bateria no Nokia 8. O risco é, geralmente, que os ecrãs de maior resolução podem apresentar menos brilho. No caso do Nokia 8, no entanto, não encontrei qualquer problema de visualização mesmo com sol directo, o que posso atribuir à qualidade do próprio painel e da construção geral.

Ver vídeos ou jogos neste ecrã é realmente o tipo de experiência que esperamos de um topo de gama, com uma boa representação dos detalhes ao nível do pixel e reprodução de vídeo em elevado destaque.

O melhor do Android stock

Uma das melhores decisões da HMD foi utilizar um Android praticamente de stock, sem skin e com poucas alterações ao nível de apps ou configurações. Esta simplicidade de operação é uma das razões pelas quais o dispositivo foi capaz de manter um historial irrepreensível de actualizações, encontrando-se sempre bem um mês à frente dos restantes dispositivos que por aqui temos em termos de actualizações de segurança.

Em termos de alterações, a HMD pouco acrescentou à essência do Android, criando a sua própria app fotográfica, e acrescentando um centro de apoio ao cliente. No restante, não há apps duplicadas ou desnecessárias. De facto, podemos lamentar a ausência de um bom explorador de ficheiros, app fundamental para o tipo de trabalho que o autor faz no telemóvel. O recente lançamento do Files Go da Google remedeia a lacuna. No entretanto, a chegada do Android Oreo trouxe para o Nokia 8 uma nova app, denominada “Arquivos”. Esta app não é senão o acesso ao explorador de ficheiros que geralmente se acede via Definições e Opções de Armazenamento. Não tem muitas funcionalidades, mas pode ser acedido facilmente e é bem-vindo.

Não foi só isso que o Android Oreo trouxe: o Nokia 8 possui agora um modo nocturno que filtra a luz azul. No entanto, continuamos sem meios para calibrar devidamente o ecrã. O software é no entanto muito fácil de utilizar, fluído, simples e absolutamente intuitivo. Entre as funcionalidades a destacar estão mesmo os toques longos nas apps que abrem acessos rápidos e o ecrã Glance que pode ser bem configurado para nos mostrar uma ampla gama de notificações sem ligarmos o ecrã.

Não nos faltam depois as principais comodidades de um smartphone moderno. Podemos facilmente utilizar o Google Assistant desde que aceitemos o Português do Brasil e o Nokia 8 mostrou-se particularmente adepto a reconhecer os comandos de voz por nós inseridos, dando ao assistente dados muito concretos quando outros dispositivos mostravam uma taxa de erro maior.

Surpreendente é a qualidade do reconhecimento facial. Não é, sequer, uma característica badalada no Nokia 8 mas, mais uma vez, foi-nos extremamente fácil desbloquear o ecrã com a câmara mais ou menos apontada ao rosto, mesmo em condições de pouca luz.

Performance entre o melhor do mercado

Dia após dia, o Nokia 8 mostrou-me ser um colosso de performance. Uma combinação entre hardware potente com o Snapdragon 835 no centro das suas capacidades, uma interface praticamente pura e boa optimização significam que os benchmarks são comparáveis aos do Samsung Galaxy Note 8 e quando chegamos a este dispositivo, dificilmente poderemos queixar-nos do que temos em mãos.

Se tivesse que escolher um dispositivo pela pura performance, seria inquestionavelmente o Nokia 8 neste momento, já que com o preço com que chega ao mercado oferece mais MHz por Euro que qualquer outro concorrente.

Podemos verificar esta performance em todos os quadrantes da nossa vida quotidiana, começando por uma interface extremamente fluída e rápida a responder a qualquer solicitação, carregamento rápido das apps e jogos que voam nos settings máximos. Posteriormente, os 4GB são perfeitamente capazes de lidar com uma carga pesada de diversas apps abertas em simultâneo.

Os benchmarks não mentem e o Nokia 8 consegue igualar ou superar os seus principais rivais, diversos deles bem mais caros. Mas também não contam a história toda: qualquer jogo corre sem lag ou soluços, não importa a sua exigência gráfica.

Há que notar aqui que o Nokia 8 parece aquecer razoavelmente, principalmente se o utilizarmos com jogos de alta performance durante os tempos mais quentes, mas aquilo a que estamos a assistir é a condução do calor para outras partes do equipamento, graças ao heatpipe interno que desvia o calor do processador para manter performance elevada sustentada.

Fotografia é ponto a melhorar

No papel, as câmaras fotográficas do Nokia 8 são excelentes: duas câmaras de 13MP, abertura F2.0, ópticas ZEISS e estabilização óptica de imagem. Uma destas câmaras fotografa exclusivamente em monocromático e, no meu livro, isso merece pontos extra. E se bem que os grandes dispositivos de gama alta do momento possuem câmaras com aberturas maiores, poderíamos querer alguma coisa mais nas câmaras da Nokia.

Sim: uma app completa.

A minha maior surpresa no Nokia 8 foi verificar a ausência das grandes opções de controlo manual da fotografia que encontrei no Nokia 6. Tendo em conta a distância temporal entre ambos os dispositivos e, ainda mais, a distância orçamental, seria de esperar que os pontos positivos estivessem igualmente presentes no Nokia 8, mas não estão. Como tal, em termos fotográficos o Nokia 8 acaba por ser mais limitado em potencial que o Nokia 6 e não se encontra ao nível dos seus concorrentes mais directos.

Não me entendam mal: as fotografias do Nokia 8 são excelentes em termos de resultados. Com um foco rápido e exacto, o Nokia 8 obtém uma imagem de modo praticamente instantâneo mal tocamos no obturador. Em condições ideais, as fotografias são impressionantes, com excelentes cores e resolução de detalhe. Tal como nas minhas primeiras impressões, é importante notar que as imagens não têm vícios, nem degradação de detalhes fora do centro da imagem. O modo automático do Nokia 8 é fascinante, particularmente quando optamos pela câmara monocromática e conseguimos extrair ainda mais detalhes, sem as típicas aberrações cromáticas causadas para interpolação de detalhes.

Mas a ausência de uma app que permita ao fotógrafo assumir o controlo quando as condições não encaixam no ideal acaba por prejudicar a performance global das câmaras. Por exemplo, com cenas de movimentos rápidos em condições de baixa luminosidade é fundamental ajustar os parâmetros que sabemos necessitar, para algo que prevemos que vai acontecer, e que será mais rápido que deixar ao smartphone a difícil tarefa tentar perceber o que queremos agarrar na imagem.

Sem este controlo manual, o Nokia 8 perde simplesmente a vantagem para alguns concorrentes directos, como o ASUS Zenfone 4 ou o Honor 9. Por melhor que seja a câmara, ela só vale as fotografias que consegue tirar, e torna-se urgente que a HMD equipe os Nokia com software que possa tirar o máximo de bons sensores e excelentes ópticas.

 

Áudio pouco distinto

No papel, o áudio do Nokia 8 tinha tudo para resultar, mas resulta apenas parcialmente. É extremamente interessante vermos o áudio direccional a funcionar durante a gravação de vídeo, mas como equipamento de reprodução áudio e multimédia, o Nokia 8 não convence totalmente. Por um lado possui apenas um altifalante mono que apesar da boa qualidade que exibe, não se compara realmente bem com altifalantes estéreo. Isto significa que se o Nokia captura bem áudio direccional, não tem como o reproduzir capazmente.

O mesmo pode ser dito da reprodução musical via jack. O som é nivelado sem texturas exuberantes e não encontramos a bordo nenhuma tecnologia que o melhore, algo comparável ao DSEE+ da Sony, o Dolby, ou mesmo as afinações da Dirac em alguns Alcatel. Se olharmos para a concorrência mais directa do Nokia 8, esta omissão deixa-o em desvantagem para quem coloca grande importância na música.

Quanto à telefonia, este será dos melhores equipamentos no mercado, com excelente som para as chamadas e um bom microfone. Nada a apontar aqui, no entanto as antenas não são particularmente excepcionais na captação da rede. Entendamos que funcionam bem, mas onde a rede fica realmente má, não se encontram totalmente ao nível das de equipamentos como o Huawei P10 que – em boa verdade – é algo mais oneroso.

Bateria com mérito

Com 3090mAh, a bateria do Nokia 8 será das melhores no segmento de gama alta, onde as linhas esbeltas espessuras mínimas têm primazia sobre a disponibilidade do dispositivo. O Nokia 8, como muitos outros dispositivos da sua classe, poderiam bem beneficiar de algumas centenas de amperes por hora, mas enfim, não é isso que temos.

Isto dito, mesmo com um ecrã 2K a absorver energia como uma esponja, o Nokia 8 é realmente excelente no campo da disponibilidade da bateria, com uma manhã garantida de utilização na Internet e particularmente em 4G. Com este nível de utilização que considero típico para mim, o equipamento chega bem ao final de um dia de trabalho, necessitando talvez de um abastecimento por segurança. A vantagem aqui é a capacidade de se carregar bem metade da bateria em apenas trinta minutos.

Sejamos francos: quem diz que uma bateria de 3090mAh dura mais de um dia num equipamentos destes? Parabéns, acabaram de gastar uma pipa de massa num equipamento que vai ficar a maior parte do dia no bolso sem fazer nada! 10 a 12 horas de utilização razoavelmente intensa são o valor mais realista aqui e, pessoalmente considero-o um valor muito positivo, pois significa que já estive a navegar na Internet em Wi-Fi e 4G, já joguei um bocado, já compus uns tantos artigos e emails e ainda vi uns vídeos.

 

Um triunfo puro e simples

A viagem da HMD Global até chagar ao Nokia 8 tem sido alucinante, com um pouco de passos para frente e para trás, apalpando o terreno sem se atirar realmente de cabeça. A HMD quer fazer as coisas o melhor possível sem cortar caminho e o Nokia 8 mostra isto em praticamente todos os níveis.

Um dispositivo sólido a completo que pode comparar-se aos melhores da sua gama de preço, o Nokia 8 apresenta-nos um ecrã simplesmente genial em termos da qualidade de imagem que produz, e uma performance geral pela qual temos geralmente de pagar pelo menos mais €200. Simplesmente dito, o Nokia 8 coloca-nos nas mãos a performance de um qualquer Note 8 a um preço muito mais simpático, mostrando que o essencial pode ser superado sem rebentar o orçamento.

Esta performance chega-nos num design marcante e ergonómico, francamente soberbo, fazendo do Nokia um equipamento impressionante por dentro e por fora.

Não é certamente isento de pecados: a ausência de rádio, certificação IP68, áudio mono e uma app fotográfica sub-desenvolvida impedem-no de ser o smartphone do ano, embora esteja bem perto de o ser. É quase impossível encontrar esta inacreditável combinação de design, preço e performance no mercado actual. Só Honor 9 e OnePlus 5T sequer se aproximam do Nokia, mas o design do OnePlus é demasiado derivativo, e o Honor 9 é algo menos potente, deixando o Nokia 8 como dispositivo com a melhor relação preço/qualidade para quem quer um Snapdragon 835.

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